As goleadas são como o Natal: goleada também é quando um homem quiser. O futebol acaba de ganhar um novo interesse.
Já podíamos discutir se certo jogador era melhor do que outro, ou se determinada equipa jogava um futebol mais bonito que as demais. Mas, quanto aos números, não costumava haver dúvidas.
Aquele aborrecimento de serem exactos prejudicava uma boa conversa. Quatro golos, não sei se se lembram, eram quatro golos. E um 4-0, antigamente, era uma goleada. Mas agora, se o treinador da Académica não quiser, não é. Esta é, creio, a grande diferença entre Mourinho e este novo Mourinho (se não me falham as contas, Vilas-Boas é o 17º novo Mourinho): Mourinho dificilmente leva goleadas; o novo Mourinho leva, mas não admite que foi goleado. É quase igual.
Na verdade, era previsível.
Quando o Benfica goleava, era evidente que não continuaria a golear.
Como continuou a golear, as goleadas deixaram de ser goleadas. O que interessa acima de tudo é que o Benfica não goleie, mesmo quando goleia. Com este resultado escasso, o Benfica acabou por ganhar por um tangencial 4-0.
Se o Cardozo não tivesse marcado o último golo, suponho que teríamos empatado por 3-0. Ainda tivemos sorte.
Foi pena, porque estava tudo a compor-se. Houve um ou dois jogos em que o Benfica não esmagou.
Era o momento pelo qual há tanto se esperava. A máquina de golos tinha emperrado. O ataque demolidor já não demolia. O rolo compressor estava avariado. E os benfiquistas tinham falado antes do tempo. Eu, confesso, fui um deles.
Disse: o Benfica dá muitas goleadas. E porquê? Só porque o Benfica dava muitas goleadas. Fanatismos, já se sabe. Quando um benfiquista constata que o Benfica goleia, fala antes do tempo. Quando os outros prevêem o fim das goleadas e elas continuam a ocorrer, são gente sensata. Aproveito esta oportunidade para admitir que falei antes do tempo. Antes do tempo em que os 4-0 deixaram de ser goleadas, claro.
Na semana em que o antigo treinador do Sporting foi castigado por críticas à arbitragem, o actual treinador do Sporting só teve motivos para a elogiar. A Liga sabe fazer pedagogia. Há mais irregularidades naquele segundo golo marcado ao Setúbal do que no resto da jornada toda. Por outro lado, se é verdade que a bola esteve fora do terreno, convém não esquecer o tipo de relvado em que os jogadores do Sporting estão acostumados a jogar. Temos de compreender que, para eles, jogar fora do campo seja mais atraente.
Não é batota, são saudades da relva.
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