quinta-feira, 21 de julho de 2005

Colunista Convidado, por Mário de Sá Peliteiro

METODOLOGIAS DE TREINO

Há muitos a gostar de futebol, muitos a ver futebol, muitos a discutir futebol.
Uns sabem o nome de todos os jogadores, os resultados das últimas duas décadas, os vencimentos, as transferências, os árbitros, as grandes penalidades, justas e injustas, enfim, têm uma visão estritamente factual do jogo.
Outros, procuram ir mais além, procuram analisar o jogo na perspectiva da estratégia, da força intrínseca da equipa, da organização, da concretização de oportunidades, da reacção à adversidade, da dinâmica dos acontecimentos, enfim, têm uma visão assente na teoria do jogo.
Eu, pertenço ao segundo grupo. Sou dos que gosta de seguir a evolução de uma equipa durante o jogo e durante uma temporada, umas vezes desde a última fila da última bancada, sem conseguir sequer reconhecer os jogadores, outras vezes colado à relva, ouvindo os gritos, as ordens, as queixas, o suor escorrendo, os esgares de dor. Sou dos que gosta de ver um jogo pela televisão ouvindo Beethoven, mas também durante um jantar com crianças, com hiatos, desconcentrações. E gosto de adivinhar, de prever, sobretudo nos primeiros minutos do jogo, cruciais, tantas vezes reveladores de tudo o que acontecerá nos próximos 90 minutos.
Assim, quando tive a honra de ser convidado para escrever para o "Bicancas", nesta pré-temporada, logo pensei em escrever sobre o meu objecto de estudo e reflexão mais recente, a metodologia de treino, logicamente num formato resumido.
Apresento, então, aqueles que considero os três pilares fundamentais da metodologia de treino de uma equipa de futebol, aqueles que quando cumpridos garantem uma equipa coesa e forte, onde os valores individuais não se adicionam, antes se multiplicam:
Rotina

Vertente do treino caracterizada pela repetição sistemática de tarefas fulcrais, seja em trabalho individual, seja em trabalho colectivo. É a vertente mais árdua, a que exige mais obstinação. Os objectivos principais são:
A nível individual é aquilo a que simplisticamente se pode dizer, o "fazer bem à primeira vez". É treinar infinitas vezes o lance de bola parada, o penalty, o passe longo, a desmarcação, a corrida isolada…
A nível colectivo é a mecânica do jogo, a simulação de cenários, o espírito de corpo, a fusão de vontades, o culto de "comer a relva", é o "entrosamento" perfeito. É treinar em conjunto até reconhecer os colegas pelo cheiro, até fazer passes para sombras, adivinhar intenções, anseios ou desígnios.

Aperfeiçoamento

Análise sistemática das principais fraquezas e erros, individuais e colectivos, isolada ou comparativamente. Só pelo conhecimento das fraquezas e dos erros mais frequentes é possível potenciar o valor de uma equipa, actuando, corrigindo, melhorando, aperfeiçoando. É o elemento catalisador do método de treino.
É difícil ser humilde quando se é vedeta, dar mais atenção às forças do que às fraquezas, aos defeitos do que às virtudes, mas é precisamente neste ponto que muitas equipas e treinadores falham.
Alvo

Todas as etapas do treino devem estar dirigidas para um objectivo: o golo. Sempre. Em qualquer circunstância. A baliza contrária deve ser entronizada, endeusada, desejada, omnipresente. A orientação é sempre e apenas uma, a marcação do golo. Criar ambição. E recompensa. Todos os jogadores, desde o guarda-redes até ao ponta-de-lança, devem salivar abundantemente na iminência do golo. Treinar sem baliza adversária é crime.
Eis portanto os princípios fundamentais a que se deve obrigar uma equipa técnica. Obviamente que outros factores importantes existem. Mas funcionam como factores de suporte, complementares, destes atrás apresentados. É o caso, claro, da preparação física, da motivação, da liderança, entre outros.
Pretende-se com este texto contribuir para uma melhor compreensão do jogo e consequentemente a obtenção de um maior prazer no jogo.
Só se ama quem se conhece, como diria o poeta

2 comentários:

  1. Realmente o Mourinho ainda tem que aprender mais umas coisas. Bom, com estes conhecimentos posso estar descançado, pois se o Co Adriaanse for embora no periodo experimental, já temos novo treinador...
    Abraço!

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  2. Depois de lêr este post, facilmente chego à conclusão, que afinal só sei mesmo os nomes dos jogadores...

    E mesmo assim, com o FCP a contratar um jogador por dia, é difícil estar actualizado...

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