quarta-feira, 12 de julho de 2006

PORTUCOW, O Arriar da Bandeira


Apesar de o Mundial já ter passado à História e de os «Pés da pátria» já terem partido para férias, há um adepto – neste caso, uma adepta – que teima em continuar no seu posto em apoio público aos nossos heróis do chuto. Assentou arraiais no Rossio em Lisboa e não há quem a arrede de lá. À primeira vista, dir-se-ia que ela anda apenas por ali a pastar na companhia dalgumas tantas amigas, tresmalhadas pela praça. Mas não. Enrolada na patriótica bandeira, de olhos vidrados numa bola, ela não é uma vaca, é uma fã. (Ver figura)

Terminada a festa, as pessoas passam agora por ali apressadas com semblante carregado, entaladas entre o crescimento económico que não sobe e o défice financeiro que não desce. Das conversas dos transeuntes soltam-se ecos de preocupação. Uns porque lá desceu Portugal mais uma posição na tabela do PIB por habitante, sendo agora o oitavo pior da União Europeia. Outros porque é o desemprego: 575 000! a viver do ar. Outros ainda porque são os americanos da “GM” (Grandes Marotos) que se preparam para dar de frosques da Azambuja e que de um dia para o outro lá se esfumam mais não sei mais quantos por cento das nossas exportações. Bem que lhe chega às orelhas todo este tarãtãtã, mas ela não está para angústias: absorta, sem um muuu, ali permanece no seu apoio intemporal à selecção.

De focinho estendido, não desgruda os olhos da redondinha nem por nada. Porém, parece triste. Ou pelo menos pensativa. Pensará ela no beijinho que o Cristiano Ronaldo deu na chincha antes de executar o penálti com que despachou os ingleses para a terra deles? Pensará no Zidane? Se ele que é jogador afinal marra tão bem, o que a impedirá a ela, vaca, de um dia vir a marcar penáltis? Jogar como ele será difícil, disso tem ela pelo menos uma ‘vaca consciência’. Sabe que nunca há-de conseguir com um coice tudo o que o francês idolatrado conseguiu com uma só marrada. A Itália, que sabe como ganhar sem merecer, depois daquela investida até mereceu ganhar sem saber.

Estará a vaca triste por não ganhar o Mundial? Será que a sua bovina inteligência não lhe chega para perceber que ganhar o Mundial não é a mesma coisa que ganhar com o Mundial? Ou será que esgotada a euforia a vaca agora deu em afocinhar nos «ses»? Se Portugal tivesse tido um Deco em grande forma; se tivéssemos metido um homem de referência na área; se Scolari tem optado por este em vez daquele… Se, se, se, tínhamos chegado a Berlim. Conjectura a bovina criatura, a secar raivosas lágrimas interiores.

Enfim, depois dum mês de folclore desportivo talvez a vaca, com aquele ar de sambista em 4ª-feira de cinzas, julgue que não há mais vida para além do futebol. Que Portugal, país pequeno sem influência, sem poder, sem riqueza (como os franceses disseram para desestabilizar), só se redime e vinga dos grandes com duas chuteiras nos pés.

Bom, como alguém disse, a selecção fez o que tinha a fazer por nós. Resta saber o que podemos nós fazer para merecermos a selecção.

As bolas de Berlim acabaram.

Haja aí quem acorde a vaca e lhe diga que tem mas é que ir à vidinha.

2 comentários:

  1. É caso para dizer: não foi por falta de "vaca" que Portugal não foi campeão do mundo!!!

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