COLUNA TORTA
Começava até a suspeitar que ninguém, ninguénzinho, lia esta coluna. Não é para me queixar, não: cada um tem os leitores que merece. Mas ontem, finalmente, fui interpelado por um, se calhar o único que lê estas curtas letragens. Diz-me ele:
“Estou escandalizado! Mal terminaram os campeonatos ficámos a saber pelos jornais que 14 clubes – sete da Liga e sete da Honra – fecharam a época com ordenados em atraso. Uma estação televisiva chegou ao cúmulo de denunciar que cinco jovens jogadores do Boavista, um dos clubes faltosos, não recebem salários há um ano! A Liga fez o que sempre faz: empaleou o problema permitindo-se o desplante de anunciar a criação de uma comissão técnica de auditoria, que melhor seria designar-se comissão técnica de chover no molhado.
Percebe-se que os maiorais do ‘sistema’ pretendam ‘épater le bourgeois’. O que não entendo é o Footbicancas andar a pastar caracóis em vez de pôr o dedo na ferida desta grandecíssima pouca-vergonha. E o colunista residente, porque é que não pôs a boca no trombone? Está numa de bela adormecida à espera do ósculo do príncipe encantado, é? Bem sei que a sua coluna é uma chacota pegada. Mas, mesmo assim: o humor inteligente, desde o inspirado Fiúza à palhacinha Picolé, é uma poderosa arma de denúncia. Use-a.»
Confesso que ia tendo um chilique por escrito. Mas lá consegui aguentar-me na caneta.
Resposta do colunista residente:
«Nós não temos boca para falar porque o colunista residente encontra-se também em situação de exploração laboral: não nos pagam o nosso trabalho. Tal como alguns compatriotas nossos na Holanda, também o colunista aqui no blogue foi recrutado ao engano, pensando que estava a ser contratado pelo ‘Jogo On Line’. Vivemos num contentor no Porto de Lisboa, junto ao Champanhe Club, onde os magnates do blogue passam todas as noites (no Champagne, não no contentor, entenda-se).
Numa situação destas, manda o bom senso que o colunista explorado não se arvore em vanguarda da contestação operária e conserve as aparências dentro de mínimos de normalidade – o que é muito diferente dessa atitude de denúncia pública, que o leitor reclama de mim, a favor dos jogadores ludibriados.
Também a indústria têxtil de Famalicão está cheia de desempregados, habituados a só receberem por ordem do tribunal e a dormir em papelões na baixa do Porto, e nem por isso o mundo deixa de girar. Assim, fazendo-nos de Lucas, que é o que a imprensa desportiva dita institucional também tem feito, ao menos sempre vamos conservando a nossa autosuficiência com uma azeitona, um courato na carcaça e uma mini por trimestre. Que nisso os Bicancas são certinhos.
Mesmo assim e apesar de todas as nossas cautelas sei que os Bicancas anseiam pela oportunidade de nos porem no andor. Pretendem entregar este espaço a uma colunista de saltos altos, assim como a Karen da Sport TV. Portanto, se o leitor qualquer dia, em vez deste colunista de barbas, encontrar aqui uma «playmate», nem que seja tipo Pinhão, do Glorioso - só tem que agradecer ao Vítor, ao Luís e ao Felgas. Agradecer, por si próprio, a melhoria qualitativa do blogue; e por mim, já agora se fizer favor, agradecer os patins TGV com que eles certamente me vão brindar, por causa das suas queixinhas. Cumprimentos.»
Assinado: JMMA
Começava até a suspeitar que ninguém, ninguénzinho, lia esta coluna. Não é para me queixar, não: cada um tem os leitores que merece. Mas ontem, finalmente, fui interpelado por um, se calhar o único que lê estas curtas letragens. Diz-me ele:
“Estou escandalizado! Mal terminaram os campeonatos ficámos a saber pelos jornais que 14 clubes – sete da Liga e sete da Honra – fecharam a época com ordenados em atraso. Uma estação televisiva chegou ao cúmulo de denunciar que cinco jovens jogadores do Boavista, um dos clubes faltosos, não recebem salários há um ano! A Liga fez o que sempre faz: empaleou o problema permitindo-se o desplante de anunciar a criação de uma comissão técnica de auditoria, que melhor seria designar-se comissão técnica de chover no molhado.
Percebe-se que os maiorais do ‘sistema’ pretendam ‘épater le bourgeois’. O que não entendo é o Footbicancas andar a pastar caracóis em vez de pôr o dedo na ferida desta grandecíssima pouca-vergonha. E o colunista residente, porque é que não pôs a boca no trombone? Está numa de bela adormecida à espera do ósculo do príncipe encantado, é? Bem sei que a sua coluna é uma chacota pegada. Mas, mesmo assim: o humor inteligente, desde o inspirado Fiúza à palhacinha Picolé, é uma poderosa arma de denúncia. Use-a.»
Confesso que ia tendo um chilique por escrito. Mas lá consegui aguentar-me na caneta.
Resposta do colunista residente:
«Nós não temos boca para falar porque o colunista residente encontra-se também em situação de exploração laboral: não nos pagam o nosso trabalho. Tal como alguns compatriotas nossos na Holanda, também o colunista aqui no blogue foi recrutado ao engano, pensando que estava a ser contratado pelo ‘Jogo On Line’. Vivemos num contentor no Porto de Lisboa, junto ao Champanhe Club, onde os magnates do blogue passam todas as noites (no Champagne, não no contentor, entenda-se).
Numa situação destas, manda o bom senso que o colunista explorado não se arvore em vanguarda da contestação operária e conserve as aparências dentro de mínimos de normalidade – o que é muito diferente dessa atitude de denúncia pública, que o leitor reclama de mim, a favor dos jogadores ludibriados.
Também a indústria têxtil de Famalicão está cheia de desempregados, habituados a só receberem por ordem do tribunal e a dormir em papelões na baixa do Porto, e nem por isso o mundo deixa de girar. Assim, fazendo-nos de Lucas, que é o que a imprensa desportiva dita institucional também tem feito, ao menos sempre vamos conservando a nossa autosuficiência com uma azeitona, um courato na carcaça e uma mini por trimestre. Que nisso os Bicancas são certinhos.
Mesmo assim e apesar de todas as nossas cautelas sei que os Bicancas anseiam pela oportunidade de nos porem no andor. Pretendem entregar este espaço a uma colunista de saltos altos, assim como a Karen da Sport TV. Portanto, se o leitor qualquer dia, em vez deste colunista de barbas, encontrar aqui uma «playmate», nem que seja tipo Pinhão, do Glorioso - só tem que agradecer ao Vítor, ao Luís e ao Felgas. Agradecer, por si próprio, a melhoria qualitativa do blogue; e por mim, já agora se fizer favor, agradecer os patins TGV com que eles certamente me vão brindar, por causa das suas queixinhas. Cumprimentos.»
Assinado: JMMA