segunda-feira, 8 de dezembro de 2008

Toques de Cabeça


A BEM DO FUTEBOL
Por JMMA


«Caro professor,

Já que não sou homem de me ficar, venho pela presente expressar-lhe o meu desagrado pelo mau serviço que prestou ao Futebol com o seu «Parecer Jurídico» a propósito da crise no Conselho de Justiça da F. P. F., e corrigir os juízos caluniosos que por via do mesmo têm sido proferidos sobre mim. Felizmente que no nosso belo Futebol, apesar da falta de pudor e de princípios éticos por parte daqueles que dizem defendê-lo – Ricardos, Morgadas & Cª –, ainda há gente íntegra (como eu) capaz de dizer a verdade e que não se cala perante os que a tentam silenciar. Como sabe, caro professor, a livre expressão da opinião de cada um sempre por mim foi prezada, desde que – tal como o seu parecer veio mostrar – digam e façam o que eu quero e exactamente como eu quero.

Lastimo que não tenha percebido que tudo o que fiz nessa reunião do Conselho, com considerável dedicação e empenho, foi a bem do Futebol, e contra os oportunistas do PREC que ousaram contrariar-me. Nem sempre é possível olhar a meios quando temos claro um desígnio, ainda para mais se esse desígnio nos é apontado pelo papa. Por isso:

A bem do futebol, tentei impedir um dos vogais de participar na discussão e votação dos recursos do FCP referentes ao caso “Apito Final”, não lhe dando a ele, o visado, o direito de se defender.

A bem do futebol, tudo fiz, sem base legal, para que o referido vogal não participasse na discussão e votação daqueles recursos, pela simples razão daquele ter sobre as questões a tratar opinião diferente da minha.

A bem do futebol, não só não me declarei eu próprio impedido como era meu dever fazê-lo, como omiti ao Conselho – para que este não pudesse suspender-me – os vários requerimentos de clubes que punham em causa a minha imparcialidade e isenção nos casos a decidir.

A bem do futebol, sem fundamento objectivo e por mero interesse pessoal, tentei encerrar antecipadamente a reunião do CJ a fim de impedir a vitória, por 4 a 3, dos que não pensavam como eu. E nunca mais voltei a convocar nova reunião.

Vejo, caro professor, que compreendeu mal as minhas intenções e pior ainda a grandeza que existiu nas minhas decisões. Lamento a falta de compreensão, e sobretudo a insensata opção de ter dado ênfase no seu parecer a pormenores tão despiciendos como «erros de direito», «falta disciplinar grave», «ilegalidades», «usurpação de poder» e até «violação dos mais elementares princípios democráticos».

Não vejo por que razão há-de uma pessoa prender-se com detalhes desses. Ser considerado um homem honrado, não me diz nada. Basta-me ser um bom Dragão. De resto, esta seria apenas mais uma das muitas votações aldrabadas que ganhei na vida. E nem por isso deixei de ganhar bem a vida.

Por tudo isto, caro professor, lhe expresso o meu pesar.
Cumprimentos.
António, ex-Presidente do CJ»


NOTAS
1. Cabe-me dizer, como é da praxe, que este é um texto de ficção. Da sua semelhança com a realidade concluirão os leitores.

2. No contexto em que é referida, a expressão «A bem do Futebol…» significa obviamente «A bem do Futebol Clube do Porto». Toda a gente sabe que o caso aqui versado tem cor. Mas o nosso drama é que qualquer cor poderia ter pintado o caso, se a deixassem.

3. Li de fio a pavio o parecer do professor Freitas do Amaral sobre a dita crise do Conselho de Justiça da FPF. Propositadamente, não o fiz antes para poder esmiuçar o imbróglio com distanciamento.

4. Devo dizer que o meu interesse nesta leitura não é jurista nem clubista: é meramente técnico. E garanto que, tanto quanto sei apreciar, acho o parecer em questão um trabalho notável. Tem o parecer tanto de brilhante, como o assunto tem de sórdido. Perante os factos relatados, socorro-me de Sá de Miranda: confesso que “M’espanto às vezes, outras m’avergonho”…

5. Embora seja um parecer jurídico, trata-se de um livro que se lê como uma história. E mesmo sabendo de antemão o seu epílogo, nem por isso a história perde o interesse. Portanto, quem esteja interessado numa viagem às catacumbas obscuras do nosso futebol, recomendo:

«A Crise No Conselho de Justiça da FPF»
D. Freitas do Amaral, Edições Almedina, € 13,00.

2 comentários:

  1. E só de pensar que esse antónio ainda anda à solta...

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  2. Anónimo6/1/09 17:17

    I like your blog

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