
QUERIDO PAI NATAL
Sei que és meu amigo. E sei-o pela melhor das razões: porque sim. E sei também que me perdoas por não acreditar em ti. Em todo o caso, pela cor da indumentária que vestes (e isso é talvez o que mais temos em comum), tanto um como o outro, sabemos que, com conta e medida, o benfiquismo ainda é capaz de ser o menor dos defeitos humanos.
Escrevo-te estas linhas para te pôr ao corrente de umas desconversas que me têm trazido profundamente apreensivo, sobretudo porque, a serem verdade, põem em causa o teu proverbial sentido de justiça. O caso é que andam por aí uns vizinhos a dizer que os obsequiastes antecipadamente. Um, na sequência duma arbitragem à Dragão, falou em “prendas antecipadas” ao FC Porto; este, por sua vez, sem sequer negar, respondeu que “As prendas de Natal para o Sporting foram dadas no fim do Verão”. O futebolês, em Portugal, sempre foi um idioma cifrado, portanto, eu nem sei ao certo do que é que eles estão a falar – mas eles sabem. E o certo é que a nós ninguém nos deu nada, só nos tiraram, e não foi pouco.
Quero dizer-te, porém, que não imagino ver o teu nome envolvido em tais dislates, mas temo que aqui em baixo ninguém me dê ouvidos se te mantiveres nas divinas tintas e não corrigires rapidamente as propaladas injustiças. Assim, Pai Natal, para amanhã, quando passares por cima das chaminés dos clubes de futebol, a minha lista de recomendações é a seguinte.
1. Concede aos adeptos portistas a capacidade de compreender que não é pelo volume do resultado que, nós, benfiquistas, deixamos de estar ao seu lado nos sentimentos, tão insistentemente expressos, acerca do tal jogo dos 5-0. Têm razão, sim senhor: a arbitragem foi isenta, e isso só pode ser considerado um escândalo. É raríssimo um jogo no Dragão em que a equipa da casa não é beneficiada. Como é que a Liga ousou não respeitar as tradições ancestrais! Inadmissível.
2. Já agora, não te esqueças de conceder também a sua papidade o presidente do Porto boa saúde e clarividência de espírito no Ano que vai entrar, a fim de ele poder continuar a elucidar-nos, principalmente em matérias relacionadas com a verdade desportiva e com a gestão do plantel do Benfica. Pelo Natal, época de circo, é-nos indispensável . É que os palhaços fazem-nos rir, e esse senhor também.
3. Ao Sporting, em primeiro lugar, vê se concedes o tal “pinheiro” pedido por Paulo Sérgio para o ataque leonino, já que disso depende a possibilidade de o clube sanear as finanças através do recurso aos apoios comunitários a fundo perdido, previstos para a lavoura.
4. Mas vê se se concedes também aos sportinguistas a capacidade de continuar a acreditar na estratégia de futuro do presidente Bettencourt, quando este diz que os adeptos não devem pensar nos pontos perdidos mas apenas nos pontos que vão perder. Chama-lhes a atenção que Bettencourt disse que os sportinguistas iriam ter muitas alegrias nesta época, e a prova de que tinha razão foi a vitória do Porto sobre o Benfica.
5. Finalmente, peço-te que deixes um sofá em Alvalade. Sim, uma cadeira; a fim de evitar a repetição de um lapso bem desagradável ocorrido no último Sporting-Porto, que foi o facto de o Pinto da Costa, na tribuna de honra, se ter sentado em cima do Bettencourt julgando que era um pouf.
6. O campeonato está difícil para os encarnados. Mas é importante não esquecer que se trata de uma competição muito dura e longa. Será preciso Jesus sair para Deus começar a ajudar o Benfica? Não acredito. O Criador anda mas é a pregar partidas ao génio da táctica. E, com todo o respeito, são das de mau gosto. Podes dizer-me o que realmente se passa? Temos o campeonato, a taça de Portugal, a taça da Liga e uma taça UEFA para ganhar. Todos sabem, e os que não sabem sentem-no como evidência desarmante, que Jesus é capaz de nos salvar. É esse o significado da festa, amanhã. Mas se puderes pôr uns paus nas rodas do Villas-Boas, seria mais fácil. É esse o meu último pedido.
Beijinhos.
JMMA