quarta-feira, 23 de agosto de 2006

Colunista Convidado, por JMMA

SOU CONTRA

Sou contra as técnicas da procriação arbitralmente assistida, sobretudo na forma “dejà vue” de golos que contam sem entrar, golos que entram sem contar, penalties, livres, foras-de-jogo e punições disciplinares cozinhados «à maneira».

Sou contra os dirigentes ilusionistas que dirigem os clubes do mesmo modo como o capitão do Titanic comandou o navio, bem como os treinadores de bigode e de fato que contratam videntes e têm o desplante de ir ao “flash interview” desancar nos árbitros, ostentando na sua incomensurável garganta apenas uma gravata.

Sou contra os dirigentes de barba e garanto que hei-de interpor providências cautelares a todas as eleições da Liga de clubes ou federativas que não decorram sob a estrita vigilância dos observadores da ONU.

Sou contra a capciosa instituição chamada comentador desportivo. Armado em teólogo da táctica, não passa duma alforreca. Um incontinente verbal que roça o delírio na prática tendenciosa da retórica jornalística, do sensacionalismo informativo e da dissertação científica sobre coisa nenhuma. Os seus conhecimentos de futebol resumem-se ao sumo das conversas de almoços patuscos com dirigentes desportivos entremeado com laivos de ciência de balneário à hora do duche.

Sou contra os jornais que, não bastando as manchetes enganosas sobre as contratações de grandes jogadores que nunca vieram nem virão, ainda por cima nos querem fazer acreditar na poesia e no romance da Merche Romero e do Ronaldo, confundindo intencionalmente amor à camisola com amor sem camisola.

Sou contra as pessoas do contra (neste blog geralmente sob a capa «anonymous said»), que em vez de se sentirem agoniadas com a esperteza saloia dos dirigentes dos seus clubes, estão sempre prontos para lhes desculpabilizar os comportamentos, recorrendo para tal a argumentação mal amanhada fundada em pretensas argoladas dos outros. Como se uma coisa justificasse a outra!

Sou contra o individualismo feroz das pessoas que estacionam os carros em qualquer lado, inclusive no Estádio da Luz, frente à baliza da equipa visitante. Entendem esses adeptos (do estacionamento e dos clubes) de segunda linha, que o futebol para ser bom não precisa de ser bem jogado, nem precisa de obedecer a padrões éticos ou técnicos. Os bons jogadores do meu clube esfalfam-se a contornar as viaturas, enervam-se e por vezes não conseguem ganhar. Inadmissível!

Sou contra as condições de exclusividade publicitária concedidas à Bet&Win. Com tanto espaço ainda disponível nas camisolas, e com a actual descaracterização das cores dos clubes nos equipamentos (Porto laranja!, Sporting amarelo!, etc.) bem podia, com vantagem financeira para a Liga, encher-se aquilo tudo com slogans do tipo: Smock&Shot heroin, Drink&Drive drunk, Flirt&Fuck without «control», ou até Viva o Hezbollah! (que, salvo erro, quer dizer futebol em árabe).

Sou contra muito mais coisas, tais como: o uso do papel higiénico como serpentina, isqueiros como armas de arremesso, cadeiras, e sobretudo very-lights. Mas como não sou fundamentalista, fico por aqui e até confesso uma coisa. Muito sinceramente:

Sou a favor de rever algumas das anteriores posições, no decorrer do campeonato, sempre que o Benfica vá à frente ou, no final do mesmo, se o Benfica for vencedor, nem que seja pela diferença mínima apurada por golo average.

JMMA

2 comentários:

  1. Também sou a favor de mais "posts" deste tipo! Genial!
    É um lavar de alma! Vamos lá então para o resto de semana de trabalho com um sorriso nos lábios!

    Luís Santos

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