Colunista Convidado, por JMMA

Plutão consulta Fiúza

Até há uma semana, o nome de António Fiúza era apenas conhecido de um pequeno círculo de pândegos que gostam de vinho verde e entoam Quim Barreiros nas bancadas do estádio de Barcelos. Graças a uma providência cautelar Fiúza virou a Liga de pernas para o ar e transformou-se em protagonista dos telejornais. E não só, como verão.

Conversa captada há dias, sem querer, no meu telemóvel:

- Sim, sou o Fiúza. Quem fala? Plutão!? Não conheço. Mas o que é que há?
- O que há, sô Fiúza, é que os corruptos da União Astronómica Internacional (UAI) resolveram despromover-nos da primeira divisão dos planetas. Esses palhaços tiveram o desplante de nos remeter para a categoria secundária dos planetas anões. Anã é a pila do japonês que inventou isto. Dizem que para ficarmos na divisão principal teriam de ser atendidas pretensões idênticas de astros como o Ceres e o Xena, uns corpúsculos que vagueiam algures entre Marte e Júpiter. Tal como o Belenenses e o Leixões orbitam aí na Terra em torno de Lisboa e Porto. Uma treta. Tá a ver?
- Tou, e depois?
- Depois é assim, sô Fiúza. Soubemos que aí na Terra também há uns gajos que vos querem sangrar o galo. A vossa luta é a nossa luta. Por isso, depositamos grandes esperanças no sucesso da sua chicana. Aberto o antecedente aí na Terra, fácil será fazer valer as nossas pretensões à manutenção na primeira divisão planetária e, já agora, sacar também umas indemnizações para ajudar aos passeios domingueiros cá dos plutos pelos shopings da Via Láctea. O sô Fiúza tem algumas dicas que nos possam ser úteis neste intento?
- É simples, sô Plutão. Oiça: ponha uma providência cautelar.
- Como? Providência? Por estes lados só conhecemos a Divina, o Ser Supremo. É essa?
- Você, sô Plutão, até parece que anda na Lua. Providência é no Tribunal Administrativo de Lisboa, carago.
- Mas Lisboa é Terra, um dos planetas da primeira divisão solar que, nesse caso, julgaria em causa própria. Seria o mesmo que o sô Fiúza mandar o seu recurso para a sede do Belenenses. Não acha uma baralhada?
- Qual baralhada, qual Belenenses! A lei desportiva é como um queijo suíço: bem feitinha por fora, mas por dentro é um buraco pegado. Demais a mais é aplicada por juízes biqueirada-no-código, sujeitos à esperteza saloia dum major. Portanto, amigo Plutão, só precisa dum advogado vivaço. Aliás, por aqui, mais importante do que ter bons atletas é dispor de juristas vivaços. Posso recomendar-lhe o nosso homem, o Dr. Maceirinha. Olhe que enfiou os «gentlemanes» da Comissão de Justiça numa camisa de onze varas. Portanto: primeiro, jurista vivaço, depois é com a juíza.
- Sô Fiúza, e a juíza percebe alguma coisa de astronomia?
- Tã não percebe! Mande-lhe um processo de setecentas e tal páginas sobre o quer que seja e ela varre isso tudo de um dia para o outro. É uma juíza cinco estrelas. Capaz num abrir e fechar de olhos, de abolir Deus por acórdão, decretar a imortalidade da alma, ou alterar a composição do sistema solar se lhe pedir. Pode crer, até é capaz de determinar, sem provas de ADN, que Plutão é filho da Pluta.
- Filho da quê?… Bom, adiante. E a decisão final é rápida?
- Leva séculos. Mas não importa. Através da revista «TV e Telenovelas», secção de programação, temos de antemão as cenas dos capítulos seguintes. Uma espécie de antecipação do futuro. A «música» que se irá fazer já está feita, tá a ver?
- Tou a ver, sim. Mas, sabe, acho esse seu processo aí na Terra uma embrulhada confusa.
- Em-bru-lha-da com Fiúza! Ai é isso! Olha, então amanha-te sem Fiúza.
Ion, ion, ion, ion, ion…… (fim de chamada).

Imoral da história: Tirem-me deste filme.