Toques de Cabeça

AUTÁRQUICAS
Por JMMA

Como é hábito, em noite de escrutínio eleitoral ninguém perdeu: o PSD desceu em toda a linha mas manteve a maioria de câmaras – Viva o PSD! O PS não conquistou tantas câmaras mas obteve mais votos e mais mandatos – PS! PS! E até o PCP que ficou em último lugar do ranking, na noite das eleições confessou-se muito satisfeito visto ter obtido mais pontos do que no campeonato anterior. Quanto à abstenção, uma vez que não se pronunciou ninguém sabe o que ela pensa, mas certo é que também ganhou: 41,7 por cento dos eleitores recenseados, acima dos números de 2005.

Não admira, pois, que para muitos portugueses as únicas eleições verdadeiramente interessantes no passado fim-de-semana tenham sido as de sábado, no Estádio da Luz, entre as freguesias de Benfica do Tejo e de Budapeste-a-Velha e, agora a meio da semana, a também decisiva e muito concorrida Guimarães de Cima x La Valetta do Assobio. Foram estas, aliás, as disputas locais que definiram a nossa feliz passagem à segunda volta (essa sim decisiva) para as eleições finais de 2010 – e isso o pessoal gosta.

Como é hábito em noite de eleições locais, lá se ouviu ‘ad nauseam’ que os resultados das autárquicas não podiam ter uma “leitura nacional”. Mas quanto aos de Benfica do Tejo ninguém pensa assim; esses só podiam ter uma leitura nacional. Não ganhámos nada (nem podíamos, pois já só jogávamos para não perder), mas que foi uma grande vitória ninguém o nega. Ainda por cima coroada com uma retumbante goleada sobre essa formidável superpotência do futebol, a selecção de La Valleta do Assobio.

«Já ninguém nos agarra», titulava o Record na edição de hoje. «Uma lança em África» titulava A Bola. Pois bem: festejar o segundo lugar dum grupo com os estrelas da Amadora e os sportings da Europa, ainda por cima conseguido ‘in extremis’ graças à preciosa ajuda do edil da freguesia de Copenhaga-de-cima… Confesso, a minha primeira reacção foi pensar que mangavam comigo. Mas, no flash interview e hoje também em entrevista televisiva, o professor convenceu-me. Se há meses empatamos em casa com a Albânia (com a Albânia!), foi para saborearmos a adrenalina destas últimas eleições... E se nos leva ao play-off, e não directamente à África do Sul, é só para fazer durar esse prazer. Afinal Carlos Queiroz é o Obama dos relvados. Nobel, já!