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QUO VADIS, VALE?
Mais uma vez Vale e Azevedo pasmou o país: vida faustosa em Londres, primeiras páginas de jornais, abertura dos telejornais. Não há dúvida que o homem sabe fazê-la. Três minutos no Jornal da Noite da SIC bastaram ao ex presidente do Benfica para passar de fugitivo a herói. “Não vou pelo meu pé para Portugal. Não vou pagar um avião para ser preso. Sou uma pessoa de trabalho. Não quero ser o bobo da corte da Justiça portuguesa’’.
E de réu passou a vítima. Lembrando com detalhe o lamentável episódio dos 17 segundos em que esteve em liberdade, e os seis anos passados atrás das grades, vitimizou-se. "Fui achincalhado, humilhado, gozado pela justiça portuguesa". Frases feitas para impressionar.
Não é a primeira vez que tal sucede. Portugal já se habituou a ver gente famosa, acusada e condenada, a gozar com a Justiça. Fátima Felgueiras fugiu quando soube que ia ser presa. Não se deu mal no Brasil, de lá pôs o seu advogado a chamar nomes à Justiça portuguesa e, quando quis, voltou, recandidatou-se à câmara. Ganhou-a e lá está. Presidente e sem mácula. Também há o caso dum senhor da bola, que quando soube que a Justiça lhe andava no encalço, ‘ausentou-se’ para Espanha em passe de toureio. Apresentou-se quando e como bem entendeu, entrincheirado numa horda de capangas que passavam casualmente por ali, em peregrinação para Fátima. Lá continua. Presidente de gabarito.
O povo não percebe nem tem que perceber as complexas explicações jurídicas para que tais coisas sejam possíveis. O que o povo sabe é que há uns senhores (e não só estes do exemplo infelizmente) que conseguem brincar com a Justiça, como quem dá pontapés na bola. E o que o povo sente é que a Justiça não é igual para todos. Nuns casos finge que dorme, noutros oferece de bandeja desculpas aos golpistas, que ainda por cima gozam o pagode enquanto o pagode ri.
E pelo caminho, a Justiça perde a lógica e o respeito. Não será por acaso (ou será?) que ainda ontem, no salão dos bombeiros da Vila da Feira, improvisado em tribunal, andaram cadeiras pelo ar, ao bom estilo dos westerns. Dois irmãos julgados por tráfico de droga levaram a mal a pena de prisão e vai de ajustar, ali mesmo, as contas com o juiz.
Por este andar, não se admirem. Vale e Azevedo ainda volta, recandidata-se e ganha. E alguém arranjará uma explicação.
Palavra de honra: nesse dia risco o Benfica da minha vida e inscrevo-me no Paços de Ferreira. Se ainda existir. Porque para esta actividade de feitiçaria que em Portugal dá pelo nome de justiça desportiva, ser honrado não compensa.
PORTUGAL, OLÉ!
Agora que os dias aquecem e o EURO nos sorri, não é qualquer braço-de-ferro de camionistas que nos bloqueia a alegria. A crise espreita do alto dos TIR – ‘Como Uma Força’ (diria a Nelly Furtado) - mas o povão não abdica da festa. Se preciso for, todos empurram o autocarro com ‘Vontade de Ganhar’ e ‘Havemos de Ir a Viena’.
Um grande motivo de alegria nos dias que aquecem, foi o 10 de Junho. Não tanto por ser Dia de Portugal, mas sobretudo por ser feriado. Sim, portuguesmente falando, celebrar e trabalhar são conceitos que não combinam. E se, como este ano, o feriado pede ponte, então, sentimo-nos duplamente patriotas.
O segundo motivo de alegria é o facto da nossa Selecção, ontem, ter sido a primeira a garantir a qualificação para a fase seguinte do Euro – a chamada ‘Fase nas Mãos de Deus’. É possível que tenha havido um acordo de bastidores com a Nossa Senhora do Caravaggio e que a divindade tenha intercedido favoravelmente na formação dos grupos, mas agora não é altura de falar nisso.
Outro motivo de felicidade acrescida (para alguns) é a saída à papo-seco do Sargentão. No Porto, recusam-se a festejar sem que a hipótese esteja concretizada, não vá o diabo tecê-las e o teimoso arrepender-se. Se bem que a equipa que ontem terminou o jogo contra os checos, apresentava tantos jogadores do Porto (actuais e ex) que mais parecia uma actuação da equipa ‘saudade’ do Dragão.
Motivo também de exaltação patriótica é a sorte da nossa Federação ser dirigida por um homem, Gilberto Madail, que nos habituou a deixar, na sua passagem pelos acontecimentos, admiráveis vestígios de oratória. Como aqueles de que, por exemplo, está recheada a sua recente entrevista ao Público. Só um cheirinho: (Recandidata-se?) «Não é minha vontade e, se Deus quiser, não me recanditarei». Excelente forma de interpretar o sentir do povo que, como se sabe, é - Deus queira que não se recandidate. E ainda este dislate, com o ar grave de quem tem nas mão (e na inteligência) os destinos da Humanidade: «gostaria que o meu sucessor fosse uma pessoa que eu pudesse apoiar». Uma sorte, de facto, ter este luminar da treta a dirigir o nosso futebol.
E como estamos, de facto, em maré alta, outro motivo de alegria prende-se com a decisão (esta semana) do Conselho de Disciplina da FPF, relativa à suspensão de 26 árbitros por actos de corrupção, apurados no âmbito do processo Apito Dourado estipulando penas que variam entre os quatro e os nove anos. Não obstante, continua a não haver castigos a dirigentes. Patente está, por conseguinte - a teoria não é minha, é do Gato Ricardo (RAP) – que em Portugal há árbitros de tal modo dispostos a deixar-se corromper que nem precisam de serem corrompidos para se corromperem. O futebol português é um bocadinho confuso mas muito estimulante.
Outro motivo e mais importante é, depois de séculos de tentativas de anexação e açambarcamento de craques por parte da Espanha, continuarmos a celebrar a nossa independência e os feriados que o Estado nos proporciona. Amanhã, outro. E já que é dia de Santo António, sexta-feira 13, e o Comité de Apelo da UEFA deverá dizer de sua justiça sobre o recurso do FCP (o Vítor que me desculpe) vou rezar assim:
Olá meu rico santinho / Padroeiro de Portugal / Dá hoje ao P… da C… / Um ataque de hemorroidal.
Para venenos de papa, remédios do diabo.
....Domingo lá estaremos de novo a apoiar a nossa Selecção!
Portugal olé,Portugal olé,Portugal olé,Portugal olé!!!