sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

Bom Ano 2011!

Toques de Cabeça



ADEUS, ATÉ PARA O ANO
Por JMMA



Cumprido mais um ano de Toques de Cabeça, chegou a altura de fazer algum balanço, agora que me despeço desta rubrica e dos meus dois leitores (incluindo eu próprio), até regressar no ano que vem, com uma nova rubrica, absolutamente igual a esta, e, espero, com os mesmos leitores absolutamente iguais a estes.

Tentei, durante estes 365 dias, ser igual a mim mesmo, um JMMA que não tenta enganar ninguém sobre a sua identidade clubística, que é sobre ela completamente transparente, isento e independente. Poderia ter arranjado um pseudónimo mais expressivo, Dragon Ball, por exemplo (embora de dragons esteja o mundo cheio) ou mesmo Pinto C’Est Moi, por exemplo, mas este exemplo não seria exemplo para ninguém.

Assim, durante 365 dias, limitei-me a ser eu próprio, um assíduo e pertinaz crítico da realidade futebolística portoguesa (com o), objectivo quando não tinha de o ser, e sincero quando não tinha de o ser. E fui, durante estes 365 dias, o cronista mais lido, comentado e discutido do mundo de língua futebolesa e quiçá (como diria o grande domador de leões Paulo Sérgio) de todo o mundo, incluindo o Footbicancas, já que todos os outros cronistas meus colegas, no ano que passou, primaram pela assiduidade na ausência. Portanto, Toques de Cabeça C’Est Moi, e, de um modo geral, a verdade C’Est Moi também, embora a concorrência persista em ignorar-me. A “Águia de Ouro” - Nobel benfiquista - dará cabo deles.

Sei que Toques de Cabeça acordou muita gente para a realidade, e sei também que se um elefante..., três elefantes acordam muito mais. Por isso, fiz rodar alguns talentos suplementares por rubricas alternativas, tipo equipa B, como “Inquérito” e “Falar Verdade a Mentir”. Sempre, porém, com a mesma isenção e objectividade do benfiquista que sabe ver as coisas. Ou do benfiquista que, pelo menos, sabe uma coisa: é que, em futebol, o comentário objectivo e as conversas entre adeptos são tão parecidos, tão parecidos, como a Bíblia e a Playboy.

E prontos. Assim me despeço. Não, porém, sem antes desejar aos meus respeitados rivais que em 2011 vejam os esforços dos vossos clubes plenamente coroados de êxito: para o FCP, na luta pelo segundo lugar do Campeonato, evidentemente; e para o Sporting, na consagração como o quarto grande. Evidentemente.

Até para o Ano!

quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

O Cansaço de Falcão


Falcão saiu ao intervalo do jogo Paços de Ferreira – Porto porque, segundo Vilas Boas, estava completamente desgastado fisicamente e quase a atingir o limite.

O FootBicancas descobriu o porquê. É só ver a fotografia que vos deixo. Oh Falcão, tens que ser mais regrado!

Pôncio Monteiro: 1939 - 2010 - Um Abraço!


Toques de Cabeça


QUERIDO PAI NATAL

Sei que és meu amigo. E sei-o pela melhor das razões: porque sim. E sei também que me perdoas por não acreditar em ti. Em todo o caso, pela cor da indumentária que vestes (e isso é talvez o que mais temos em comum), tanto um como o outro, sabemos que, com conta e medida, o benfiquismo ainda é capaz de ser o menor dos defeitos humanos.

Escrevo-te estas linhas para te pôr ao corrente de umas desconversas que me têm trazido profundamente apreensivo, sobretudo porque, a serem verdade, põem em causa o teu proverbial sentido de justiça. O caso é que andam por aí uns vizinhos a dizer que os obsequiastes antecipadamente. Um, na sequência duma arbitragem à Dragão, falou em “prendas antecipadas” ao FC Porto; este, por sua vez, sem sequer negar, respondeu que “As prendas de Natal para o Sporting foram dadas no fim do Verão”. O futebolês, em Portugal, sempre foi um idioma cifrado, portanto, eu nem sei ao certo do que é que eles estão a falar – mas eles sabem. E o certo é que a nós ninguém nos deu nada, só nos tiraram, e não foi pouco.

Quero dizer-te, porém, que não imagino ver o teu nome envolvido em tais dislates, mas temo que aqui em baixo ninguém me dê ouvidos se te mantiveres nas divinas tintas e não corrigires rapidamente as propaladas injustiças. Assim, Pai Natal, para amanhã, quando passares por cima das chaminés dos clubes de futebol, a minha lista de recomendações é a seguinte.

1. Concede aos adeptos portistas a capacidade de compreender que não é pelo volume do resultado que, nós, benfiquistas, deixamos de estar ao seu lado nos sentimentos, tão insistentemente expressos, acerca do tal jogo dos 5-0. Têm razão, sim senhor: a arbitragem foi isenta, e isso só pode ser considerado um escândalo. É raríssimo um jogo no Dragão em que a equipa da casa não é beneficiada. Como é que a Liga ousou não respeitar as tradições ancestrais! Inadmissível.

2. Já agora, não te esqueças de conceder também a sua papidade o presidente do Porto boa saúde e clarividência de espírito no Ano que vai entrar, a fim de ele poder continuar a elucidar-nos, principalmente em matérias relacionadas com a verdade desportiva e com a gestão do plantel do Benfica. Pelo Natal, época de circo, é-nos indispensável . É que os palhaços fazem-nos rir, e esse senhor também.

3. Ao Sporting, em primeiro lugar, vê se concedes o tal “pinheiro” pedido por Paulo Sérgio para o ataque leonino, já que disso depende a possibilidade de o clube sanear as finanças através do recurso aos apoios comunitários a fundo perdido, previstos para a lavoura.

4. Mas vê se se concedes também aos sportinguistas a capacidade de continuar a acreditar na estratégia de futuro do presidente Bettencourt, quando este diz que os adeptos não devem pensar nos pontos perdidos mas apenas nos pontos que vão perder. Chama-lhes a atenção que Bettencourt disse que os sportinguistas iriam ter muitas alegrias nesta época, e a prova de que tinha razão foi a vitória do Porto sobre o Benfica.

5. Finalmente, peço-te que deixes um sofá em Alvalade. Sim, uma cadeira; a fim de evitar a repetição de um lapso bem desagradável ocorrido no último Sporting-Porto, que foi o facto de o Pinto da Costa, na tribuna de honra, se ter sentado em cima do Bettencourt julgando que era um pouf.

6. O campeonato está difícil para os encarnados. Mas é importante não esquecer que se trata de uma competição muito dura e longa. Será preciso Jesus sair para Deus começar a ajudar o Benfica? Não acredito. O Criador anda mas é a pregar partidas ao génio da táctica. E, com todo o respeito, são das de mau gosto. Podes dizer-me o que realmente se passa? Temos o campeonato, a taça de Portugal, a taça da Liga e uma taça UEFA para ganhar. Todos sabem, e os que não sabem sentem-no como evidência desarmante, que Jesus é capaz de nos salvar. É esse o significado da festa, amanhã. Mas se puderes pôr uns paus nas rodas do Villas-Boas, seria mais fácil. É esse o meu último pedido.

Beijinhos.

JMMA

segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

Falar Verdade a Mentir


EU (NÃO) TE PERDOO SOARES DIAS

Assim é que é jogar. Para mim um bom jogo é isto: aos dez minutos o Benfica já ganha por 2-0; depois, junto ao intervalo, sofre-se um bocadinho, que uma pitada de ‘suspense’ só anima, e até evita que os adeptos apressados abadonem o espectáculo a meio. Na segunda parte ainda se marcam mais três, para irmos para a cama mais aconchegadinhos.

Ao que parece, o Benfica concedeu aos sócios um desconto substancial no preço dos bilhetes para o Rio Ave. Quem diz que os preços eram caros? Viram os golos dos argentinos? O espectador paga para ver futebol e pelo mesmo preço ainda leva uma portentosa exibição de slalon. Não brinquem comigo, se fosse eu que mandasse, acho que Aimar, Sálvio e Saviola deviam ir para a relva equipados de esquis.

Estamos em plena quadra natalícia, em que as pessoas se apresentam aparentemente mais dadas aos sentimentos. É nestes períodos que mais se ouve proclamar os valores da solidariedade, da fraternidade, da família e da paz. Organizam-se programas televisivos dedicados ao Natal, as empresas promovem jantares de confraternização e muitas instituições promovem vendas de Natal para ajudar os desprotegidos da sorte.

Confesso que, atendendo às circunstâncias, ainda alimentei a esperança de que a gala televisiva transmitida a partir do Estádio da Mata Real, onde o líder, para o fim, parecia imbuído do espírito natalício, viesse a traduzir-se numa dessas festas de benemerência a favor dos desprotegidos da arbitragem. Afinal enganei-me.

Em cima da hora, quando já estava desenganado, um erro (mais um) de Artur Soares Dias deu a tranquilidade aos que menos precisam e menos mereciam. Quando até já nem fazia falta (ao FCP, entenda-se. Olhem se fosse a favor do Paços!), o árbitro de Braga resolveu meter os pés pelas mãos, assinalando grande penalidade a favor do FC Porto por pretensa mão de um pacense que, na realidade, cortou a bola com o pé. E, pronto, arruma-se a questão por causa dos nervos.

Decisivo ou não, pouco importa. O que releva (tal como os erros contra o Porto) é que mais uma vez se vê que vivemos numa sociedade que se diz justa, mas a realidade é bem diferente. Não é só o Natal que não igual para todos. Nada, nunca, é igual para todos.

domingo, 19 de dezembro de 2010

Paços Ferreira: 0 - FCP: 3


E pronto, o ano de 2010 acabou sob o ponto de vista futebolístico e o Porto cumpriu com o pedido, isto é, manteve os 8 pontos de avanço, depois de o Benfica ter ganho ontem de forma concludente.

A vitória de hoje é que não foi concludente. O Porto jogou bem na primeira meia hora de jogo, mas depois foi-se abaixo das canetas. Não só por culpa própria, mas principalmente porque o Paços fez um grande jogo. Sim senhor, a jogar assim, vão à Europa.

Mas o que mais me motivou a escrever hoje no grande FootBicancas foram os comentários que li no Facebook, pois, permitam-me a arrogância, as vitórias estão a ser muito normais este ano. É extraordinário a onda que imediatamente se levantou por causa do penalti. Até dou de borla que ele realmente não existiu. Até admito. O que não entendo é a sede com que se está a olhar para os árbitros nos jogos do Porto. Procura-se um erro como quem procura uma agulha no palheiro. Se ao menos se procurasse a agulha independentemente da cor…

Os especialistas em arbitragem só não viram um penalti sobre o Hulk e a forma como o Soares Dias transformou uma expulsão do Filipe Anunciação num amarelo para o Álvaro Pereira (curiosamente na falta que deu origem ao tal penalti).

Para terminar, repito um comentário que deixei no Facebook: vitória muito sofrida e resultado enganador pelo exagero e não pela justiça. “Quem vier falar do árbitro será simplesmente por má fé” e, acrescento, desespero.

sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

Toques de Cabeça


LIVROS PARA O NATAL
Por JMMA

Há quem pense que o descanso amolece os miolos. Que, em época de ócio, as leituras se devem resumir ao jornal desportivo. Ora, é precisamente o contrário: sei de experiência feita que as noites longas de Inverno são perfeitas para o desenvolvimento do QI. Há muito tempo para pensar e há muitos livros que nos fazem pensar... Sugiro, portanto, ao leitor que aproveite a pausa natalícia e confirme esta minha tese em algum dos títulos seguintes, todos em português, todos recentes, e dois deles acabadinhos de sair:

Os Donos de Portugal – Cem Anos de Poder Económico em Portugal (1910-2010), Jorge Costa e outros, Afrontamento.

Logo na introdução leio: “Queremos simplesmente conhecer os donos de Portugal e fazer a história política da sua acumulação económica. ”Vai da I República à democracia pós-1974, passando, claro, pela ditadura. É a história político-económica da acumulação de capital em Portugal nos últimos 100 anos. O que fica demonstrado com este livro é, antes de mais, que a economia portuguesa sempre foi um território de desigualdade extrema e vem-se agravando progressivamente. Os donos de Portugal, nos últimos cem anos, são uma família de famílias, cruzam-se uns com os outros, mostrando que o processo de selecção é endogâmico. Diz uma das conclusões: “É sempre o Estado, fosse ele ditatorial ou não, que protege, que selecciona, que ampara, que financia, que organiza o monopólio, que paga a renda.” Isto é, os donos de Portugal instalam-se sobre o privilégio e o favorecimento. Os escândalos do BCP, do BPN e do BPP revelaram as faces da ganância. No caso do BCP, indo até ao ponto de sacar uns dinheiritos ao Irão, como se viu há dias através das revelações do Wikileaks. Como não ler?

Como o Futebol Explica O Mundo – Um Olhar Inesperado sobre a Globalização, Franklin Foer, Palavra.

Parece que não há-de ter nada a ver com o anterior, mas tem e muito. Explica o falhanço da globalização em apagar ódios antigos no interior das grandes rivalidades do futebol. Traça com minúcia uma aprofundada análise do fenómeno do hooliganismo. Recorre ao futebol (cá estão as afinidades) para abordar algumas facetas da economia, tais como a persistência da corrupção, a emergência de novas e poderosas oligarquias, a promiscuidade entre os poderes e o futebol, que tem como símbolo máximo Sílvio Berlusconi, o primeiro-ministro italiano e presidente do AC Milan. Por último, recorre ao futebol, à convivência do jogo, como forma de obstar ao regresso do tribalismo. Muito interessante.

Mas não sou ingénuo a ponto de ver os leitores do Footbicancas, sem excepção, a gastarem os seus tempos de lazer natalício embrenhados nos vícios do processo português de acumulação capitalista, ou a discernir sobre o Mundo a partir dos fenómenos que caracterizam o futebol moderno e vice-versa . Talvez um tema de natureza mais prática os atraia melhor. Nesse caso sugiro então o seguinte.

As Manobras de Pinto da Costa - Desmontando um Mito, Marco Alves, Zebra.

Mas note bem o leitor. Este livro não é um ataque ao mito, muito menos à personalidade que lhe está associada. Como o autor adverte, o que se descreve «são apenas factos». Se tem ou não a ver com os temas das obras anteriormente propostas – cada qual que julgue por si.


Bom Natal.

segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

Falar Verdade a Mentir


SAVIOLA E AIMAR ACUSADOS DE OCULTAÇÃO DE CADÁVER

Com o FC Porto a fazer um treino com bola, leões e águias tinham pela frente adversários complicados na prova rainha do futebol português. Mas, no momento em que escrevo, verifico que tanto o Sporting como o Benfica, alcançaram plenamente os objectivos que se proponham.

«Amanhã [Sábado], para nós, é a final da Taça de Portugal», dizia Paulo Sérgio na antevisão do jogo com o Setúbal. Talvez a afirmação efectivamente proferida tivesse sido - «Amanhã, para nós, é “o” final da Taça de Portugal». Erros de percepção ou de transcrição jornalística são sempre possíveis. De qualquer modo, há que reconhecer que a meta dos leões foi conseguida, nos precisos termos em que o seu treinador prometeu.

Quanto ao Benfica, após vitória concludente sobre o Braga, acaba de se qualificar com ganas para os oitavos-de-final. Quando os profetas e a impaciência dos adeptos já agoiravam um Natal sem Jesus, reedita-se a história de Mark Twain: as notícias que anunciavam a sua morte afinal eram exageradas.

Haverá, certamente, ainda muito mais a esperar de uma equipa campeã nacional em título. Mas agora o que intriga sobremaneira os observadores é o mistério da ressurreição. Podemos aqui avançar em primeira mão uma notícia que, com certeza, poderá fazer luz sobre esta magna interrogação.

Segundo acabámos de saber de fonte fidedigna, uma denúncia anónima está a dar origem a investigações que poderão beliscar a honra de Saviola e de Aimar. Os dois argentinos são acusados de sequestrar a crise do Benfica, podendo a todo o momento ser processados pelos crimes de homicídio e ocultação de cadáver. Os cães pisteiros do ‘Trio de Ataque’ e do ‘Dia Seguinte’, tal como o médico que todos os anos passa o atestado de robustez física ao Mantorras, estão malucos. É um odor a crise morta nas imediações da Luz que não se pode. Saviola e Aimar, cada um com seu golo, cortaram a crise aos bocadinhos, embrulharam as partes num plástico e esconderam-nos junto à parede do Media Markt. “Eles até juntaram algumas oportunidades de golo falhadas só para baralhar as provas”, revelou o autor da denúncia anónima.

quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

Toques de Cabeça



QUE HORAS SERÃO EM KUALA LUMPUR?
Por JMMA

O leitor está a ver aquele tipo de cronista irritante que aproveita todas as viagens para dar a saber onde esteve e se pôr a gabar o estrangeiro com o objectivo evidente de depreciar Portugal? Pois bem, ontem, quando assistia pela televisão àquele simulacro de noite europeia no mítico inferno da Luz, desertei. Quando já só o que queria era abstrair daquela apagada e vil tristeza, pus-me a pensar à frente do écrã: que horas serão agora em Kuala Lumpur? Só indo lá ver...

Imediatamente, estava eu a passear nas ruas de Kuala Lumpur, que é muito mais multicultural que a Cova da Moura na Amadora, ou a praça do Rossio em Lisboa, e pus-me a pensar como na verdade é fácil cair na tentação do cronista irritante. Uma pessoa sai de Portugal (neste caso do estádio da Luz) e vê-se em cidades grandiosas, com gente que labuta à séria, economias que progridem no ranking. E pensa: então mas eu sou compatriota disto ou das birras de balneário do Benfica, das arbitragens manhosas do Elmano, das PT que se esquivam ao Fisco, do Pinto da Costa...? Não é difícil começar a acreditar que se nasceu num país errado.

Não é o meu caso. Os países exóticos, para mim, são como o zoo ou os hotéis: é interessante visitá-los, mas não servem para viver lá. Kuala Lumpur, que nunca visitei mas imagino, é nesse aspecto uma cidade exemplar. Há monumentos magníficos em Kuala Lumpur, é verdade. Mas não há bifes da Portugália com imperial. As vistas são deslumbrantes. Mas as pessoas falam uma língua bizarra. O malaio (Bahasa Melayu), composto por múltiplos dialetos difíceis de compreender para maioria dos kualalumpurenses (se assim se pode dizer), é para nós uma lingua completamente ininteligível. Excepto o papiá, línguajar crioulo de base portuguesa, deixado pelos navegadores e seus descendentes miscigenados, que apesar de esquisito, ainda assim dá para arranhar alguma coisa.

Tanto assim que, vendo pela televisão o resto do jogo da Luz relatado em malaio, consegui perceber tudo. Por exemplo, a palavra «Deus», nas expressões «seja o que Deus quiser» ou «Deus nos acuda», em malaio diz-se «Lyon». Já em relação à conhecida expressão «Quem tramou o Roger Rabit», à falta de tradução própria, o malaio não diz «Roger Rabit», diz «Jorge Jesus». Mas o mais interessante é que a palavra «andor», pronunciada à maneira do norte, no falar dos malaios diz-se «elmanosantos». O que, na verdade, sendo o andor um utensílio para transportar santos à mão, faz obviamente todo o sentido. O mesmo sucede, aliás, com o termo crioulo «xistra», que pela similitude fonética se vê logo que quer dizer «cesta» (de fruta, docinhos, etc.), pronunciada à moda de Guimarães.

Vejam, pois, como são extraordinários os vestígios culturais do império colonial português no Oriente! Quando me apercebi, até me chegaram as lágrimas aos olhos. Mas eu sou assim: cinco minutos fora de Portugal e começo a ficar com saudades do Filipe Vieira, do Pinto da Costa... Cinco minutos talvez seja exagero. Dez talvez. De meia hora não passa.

terça-feira, 7 de dezembro de 2010

PRESSÃO ALTA


ESCÂNDALO!

Por JCR

Foi hoje e uma vez mais descolorida, a exibição do FCP.

Mau grado a espaços na primeira parte tenha dominado o jogo e o adversário (como expectável e até mesmo exigível), a imagem global hoje deixada foi demasiadamente pobre, e incompreensível.

Como pobre foi o argumento apresentado pelo adjunto ‘Vitor Pereira’ no final, de que a equipa manifestou cansaço na segunda parte, resultante do esforço dispendido na 5ª feira em ‘Viena’, agravado pela viagem de madrugada, blá, blá, blá.
Ocorre-me recordar – não apelando em demasia à memória - que o Porto defrontara o ‘Besiktas’ igualmente a uma 5ª feira, tendo cumprido no domingo imediatamente a seguir a melhor exibição da época frente ao ‘Benfica’.

A equipa não jogou bem, ponto!
O esquema de jogo delineado não funcionou, ponto!
A ala esquerda não convenceu, sendo gritante (pelo menos ao momento) a inadequação de ‘Rafa’ à titularidade, ponto!
(Nota: Parece-me ter sido equívoca a utilização em ‘Viena’ de ‘Varela’ e ‘Fernando’.)

É preocupante, a meu ver, a dicotomia existente no plantel entre a excelência de alguns jogadores e a mediania dos seus substitutos directos e naturais.
Os únicos ‘suplentes’ com nível para enfrentar a titularidade sem quaisquer reservas, são (uma vez mais na minha opinião) ‘Fucile’/’Sapunaru’, ‘Maicon’/’Otamendi’, ‘R. Micael’ e ‘Souza’’, sendo que este último (vá-se lá saber porquê) não tem feito parte sequer das segundas escolhas.

Daí que uma lesão pontual ou grave possa tornar-se facilmente uma desesperante dor de cabeça.
A título de exemplo ficam as exibições cumpridas após a lesão de ‘A. Pereira’, excepção feita ao jogo de ‘Viena’ que, ainda assim, não se configura propriamente como o melhor dos modelos.

Do mal o menos… não se perdeu hoje pontos.

Adiante…

Eis que HOJE o caldo se entornou, no “sempre pacífico” mundo da análise/comentário desportivo (e descomprometido) nacional, em especial no que respeita as arbitragens!

Isto depois de uma semana/jornada passada, em que pouco ou nada se falou, porque nada de anormal e relevante sucedeu neste plano, senão que o ‘João Moutinho’ deveria ter sido admoestado com amarelo aos 13’ do jogo com o ‘Sporting’.

A mesma semana em que vi ser inventada uma nova regra para a avaliação dos fora-de-jogo, em que aguardo serenamente pela acção disciplinar que vai por certo valer a entrada violenta do ‘Moutinho’ sobre o ‘Maniche’, em que se descobriu que o ‘Maicon’ pôde ser expulso por ser ingénuo e porque o ‘’Liedson’ é perito na arte de saber expulsar adversários, e em que me foi dado a saber que uma entrada por trás sem bola às pernas do adversário aos 2’, é coisa pouca e sem relevo…

A mesma semana ainda, em que um “energúmeno sem nível” (alguns o pensam, e aqui e ali o dizem!) que se passeia pelo banco de suplentes do FCP, veio mostrar pública repulsa pela nota positiva atribuída a um árbitro que, apenas e só, teve uma actuação irrepreensível, sem erros com directa e grave influência no resultado final do jogo.

Mas centremo-nos nos casos de hoje, esses sim IMPORTANTES, GRAVES, VERGONHOSOS e ESCANDALOSOS para a nação futebolística:

A grande penalidade favorável ao FCP não o é (ponto, dizem eles!), simplesmente porque não se vê.
Confesso que nem eu a vejo, tão-somente porque não ma dão a ver e porque apenas me são dados 2 planos distantes da jogada. A milagrosa câmara à traseira da baliza (que permite ver a 2ª grande penalidade do jogo, e a sua execução, mas já lá vamos!), aparentemente – azar dos azares - não funcionou naquele momento.
Vai daí, se não vemos (e eu, reitero, não vejo porque não me mostram), não há!
Não deixa de ser curioso que o jogador que comete a infracção (dizem eles que não toca no ‘Falcão’!), caia sobre o jogador do FCP após a queda deste. Efeito íman, por certo.
O caso para mim é, verdadeiramente, a realização do jogo não ter imagens claras para nos dar, pelo menos análogas às que nos deu na segunda parte.
Mas isto sou eu a teorizar sobre a conspiração que sempre envolve estas coisas, não?!?

Já estou como o outro, o “energúmeno sem nível”: se me mostrarem, e eu estiver errado, peço desculpa!

O verdadeiro caso (dizem eles!), ocorre aos 90’, quando o árbitro manda repetir a execução de uma grande penalidade favorável ao ‘Setúbal’, alegadamente porque (vejam lá a vergonha, o escândalo!) não tinha ainda apitado para a sua marcação.
O homem diz que não apitou como se impõe, sinaliza-o inclusive gestualmente, os jogadores do ‘Setúbal’ não contrariam a sinalética do árbitro (pelo menos que se veja, lá vamos nós outra vez!), o avançado do ‘Setúbal’ FALHA a segunda execução, e o caso nasce em si mesmo, qual (perdoem-me a comparação) concepção sem pecado.
E veja-se o caricato da coisa:
Haverá maior incoerência da parte de um árbitro, do que toda esta palhaçada em favor do FCP (dizem eles!), depois de aos 89’ assinalar uma grande penalidade (*) contra o mesmo FCP, no Dragão, com o resultado em 1-0 (caso que não é virgem, de resto, com este mesmo árbitro!).

E já agora: se o árbitro tem certeza da falta que vê e da decisão que toma, porque admoesta ‘Otamendi’ e não ‘Fucile’.
OK! Já sei! Se viesse a admoestar ‘Fucile’ teria de o expulsar aos 89’, com o inerente prejuízo que daí adviria para o FCP.

Tenham lá paciência e não insultem - pelo menos - a minha (passe a imodéstia) inteligência.

(*) Não dando como errada a marcação pelo árbitro desta grande penalidade, mais não seja pela visão que lhe é dada da jogada, ainda me há-de explicar (quem quiser, se quiser) quando se deve assinalar falta ao defesa ou ao avançado estando ambos a agarrar-se mutuamente.
Será esta a velha questão da intensidade ?!?
Ou será que pende para o que cair primeiro ?!?

Acautelem ao menos todas estas mentes brilhantes, que neste País - também - há gente que (mau grado eventuais energúmenos sem nível) não só não é parva, como não se deixa tomar como tal.

sábado, 4 de dezembro de 2010

Toques de Cabeça


AGRADEÇO À FIFA
Por JMMA

Assim que se soube que a organização do Mundial de 2018 ia para a Rússia, a verborreia futebolesca invadiu o tempo de antena das rádios e televisões nacionais. Seguiram-se horas de ressaibo e dislates, apontando o dedo acusador à pretensa (e abominável) filosofia de negócio que terá imperado na decisão da FIFA. Ora aí está (!), os rublos e o gás do Kremlin impuseram-se naturalmente à concorrência europeia, principalmente à bondade superior do «nosso» projecto. Putin, Abramovich e companhia têm o dinheiro que move montanhas e, pelos vistos, votos da FIFA.

Pensei cá para mim: se a organização do evento tivesse sido atribuída à Espanha – perdão: à Ibéria – como seria fácil o falatório do mau perder! Sabendo que na Rússia, como noticia hoje a nossa imprensa, que nada em dinheiro, mesmo assim se questiona se “o custo para ter o Mundial 2018 não é demasiado elevado” e se “não corresponde à política dos patrícios na Roma antiga, em que toda a relação com a plebe se resumia à oferta de pão e jogos”... Se isti é assim, imagine-se então quanto não haveria para dizer, nesta perspectiva, da ‘vaquinha’ ibérica. Sobretudo do seu apêndice português, sem dinheiro, sem economia, sem futuro, apenas fiado na crença atávico-madailesca de que o sonho comanda a vida.

No meio de toda essa verborreia e fantasia nacionais, acabou por vir dos cidadãos o que, infelizmente, não ouvi dizer aos comentadores encartados: que a candidatura ibérica era uma vergonha, pela oportunidade, claro, e sobretudo pela inadmissível relação de menoridade face à Espanha, como a seu tempo escrevi. Agradeço à FIFA ter-nos poupado à concretização desse vexame.

quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

Toques de Cabeça


DECLARAÇÃO DE VOTO
Por JMMA

Tenho de reconhecer que existem pessoas bem melhores do que eu a expor ideias que eu gostaria de partilhar. Fazem-no com uma lucidez, uma concisão e uma objectividade que fico com inveja. Há dias, no DN, depois de confessar o «gosto imenso» pelo futebol, alguém falava assim sobre a vergonha que sentia, como português, pela «desgraçada parceria» luso-espanhola para a organização do Mundial de 2018.

Nela, «aceitamos aparecer como uns pedintes que tudo fazem por um convite para a grande festa. Pela primeira vez no mundo, dois países juntam-se para tentar organizar uma competição desportiva sem ser em plano de igualdade. A prova começa em Barcelona e acaba em Madrid. Nos cartazes, Lisboa e Porto aparecem em pé de igualdade com Badajoz. O Governo, em dificuldades, apoia; o Presidente da República, em campanha, cala.»

Assino por baixo. Mas quero fazer uma anotação. Além da nossa condição de menoridade na “parceria”, há que sublinhar, com toda a veemência, que a árvore das patacas propalada pela imprensa com base num alegado estudo académico, apontando para um lucro de 1 000 milhões de euros (repito 1 000 milhões!) – só para Portugal – não pode ser entendida senão como um admirável número de ilusionismo por parte do inefável Dr. Madail, mais uma vez, «pour épater le bougeois». Será que ainda há quem acredite que o Pai Natal vem da Lapónia num trenó puxado por renas?!

Infelizmente a verdade é esta. É mais que evidente que o dito projecto não contribuiu em nada para a saída da crise tremenda em que nos encontramos. E nem sequer contribuiu para a solução de qualquer dos grandes problemas que nos afectam. Talvez que isso fosse exigir demais, bem sei. Mas então ao menos assegurem-nos que o projecto não os agrava, designadamente, pela inoportunidade dos sinais que transmite, contraditórios com a nossa pelintrice. Além da extensão dos custos que fatalmente sempre acabam por ser suportados pelo contribuintes. Se fossem só as estruturas do futebol, elas próprias, a pagá-los... nada a dizer. O problema é que todos pagamos com o dinheiro das nossas contribuições. Assim, não, senhor Madail.

Portanto, daqui a umas horas, quando a FIFA se reunir na Suíça para divulgar pomposamente qual a candidatura a que vai ser atribuída a organização do Mundial de Futebol de 2018, o meu desejo é que a chamada candidatura ibérica, na qual temos um papel humilhante, e nos vai custar os olhos da cara, seja derrotada!