quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

Toques de Cabeça


DECLARAÇÃO DE VOTO
Por JMMA

Tenho de reconhecer que existem pessoas bem melhores do que eu a expor ideias que eu gostaria de partilhar. Fazem-no com uma lucidez, uma concisão e uma objectividade que fico com inveja. Há dias, no DN, depois de confessar o «gosto imenso» pelo futebol, alguém falava assim sobre a vergonha que sentia, como português, pela «desgraçada parceria» luso-espanhola para a organização do Mundial de 2018.

Nela, «aceitamos aparecer como uns pedintes que tudo fazem por um convite para a grande festa. Pela primeira vez no mundo, dois países juntam-se para tentar organizar uma competição desportiva sem ser em plano de igualdade. A prova começa em Barcelona e acaba em Madrid. Nos cartazes, Lisboa e Porto aparecem em pé de igualdade com Badajoz. O Governo, em dificuldades, apoia; o Presidente da República, em campanha, cala.»

Assino por baixo. Mas quero fazer uma anotação. Além da nossa condição de menoridade na “parceria”, há que sublinhar, com toda a veemência, que a árvore das patacas propalada pela imprensa com base num alegado estudo académico, apontando para um lucro de 1 000 milhões de euros (repito 1 000 milhões!) – só para Portugal – não pode ser entendida senão como um admirável número de ilusionismo por parte do inefável Dr. Madail, mais uma vez, «pour épater le bougeois». Será que ainda há quem acredite que o Pai Natal vem da Lapónia num trenó puxado por renas?!

Infelizmente a verdade é esta. É mais que evidente que o dito projecto não contribuiu em nada para a saída da crise tremenda em que nos encontramos. E nem sequer contribuiu para a solução de qualquer dos grandes problemas que nos afectam. Talvez que isso fosse exigir demais, bem sei. Mas então ao menos assegurem-nos que o projecto não os agrava, designadamente, pela inoportunidade dos sinais que transmite, contraditórios com a nossa pelintrice. Além da extensão dos custos que fatalmente sempre acabam por ser suportados pelo contribuintes. Se fossem só as estruturas do futebol, elas próprias, a pagá-los... nada a dizer. O problema é que todos pagamos com o dinheiro das nossas contribuições. Assim, não, senhor Madail.

Portanto, daqui a umas horas, quando a FIFA se reunir na Suíça para divulgar pomposamente qual a candidatura a que vai ser atribuída a organização do Mundial de Futebol de 2018, o meu desejo é que a chamada candidatura ibérica, na qual temos um papel humilhante, e nos vai custar os olhos da cara, seja derrotada!

2 comentários:

  1. Absolutamente de acordo, caro JMMA.

    Também por aqui se avalia a dimensão, principalmente ética, de um País que, na minha modesta opinião, dia após dia vai dando sinais de que o vai sendo cada vez menos.

    E o pior é que nós, os inconformados, vivemos sufocados nesta espécie de democracia, em que apenas contamos para votar.

    Dá pena e causa-me repulsa ver gente que tomo por lúcida, a entregar-se a estas pomposas diatribes, com discursos de ocasião populistas e demagogos, a todos assegurando o impossível.

    Que nos vinhamos assumindo cada vez mais como um País em bicos de pés, é algo que a ninguém causa já surpresa.

    Já o ajoelhar colectivo [enquanto nação, enquanto povo, enquanto gente que (para além do mais e contra a vontade de alguns) pensa, sente e sofre o dia-a-dia do País] a que nos convidam sem qualquer vergonha, faz-me crer em absoluto que este País... já o foi, e esta 'gentalha' não é feita da mesma massa que nós.

    Perdoe-me qualquer excesso de linguagem, num comentário a um seu 'post' que, como sempre, me merece e impõe a devida atenção e respeito.

    Um abraço.

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  2. Caro JCR

    O lema do "cronista" (este, pelo menos) é escrever como se ninguém lesse, porém, esperando sempre que alguém leia. Simpático, o seu feedback.

    Como deve calcular, em nada me desapontou a decisão da FIFA entretanto conhecida.

    Abraço.

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