terça-feira, 11 de março de 2008

Colunista Convidado, por JMMA


PORRA!

- «Porra, o que é isto!» – exclamo, completamente estupefacto. Tudo aquilo já só me parecia um bando de galinhas tontas a correr ao trouxe-mouxe, cercadas por uma matilha de rafeiros.

Observo entre parênteses que se emprego a grosseira interjeição «porra» não é por vontade de chocar ninguém – de resto quem? – mas pelos efeitos clínicos que, em certas circunstâncias, exercem no meu psiquismo os elementos fonéticos da respectiva articulação. Raros fonemas conseguem, em mim, o efeito purgativo de «porra». Seja qual for o significado material deste fonema (cacete, pau, pénis), cá para mim gritar «porra» é como tomar prozac: desopila em situações de depressão aguda, resolve desordens obsessivo-compulsivas, alivia a síndrome da raiva.

É um alívio, sim: fechar os lábios, encher as bochechas, articular a oclusiva «p» com o impulso quase intestinal de quem excreta; arrastar seguidamente a fricativa «r», de modo rolado, vingativo, como um rufar de tambor ou um disparo múltiplo de arma automática. A vogal média fechada «ô» (de po…) é como que um pano de fundo prolongado, intercalar, com a estrita função de realçar, por contraste fonético, a fúria do «p» e a raiva dos «rr». Dizer «porra» é – tal como dizer «foda-se!» – um concentrado e intenso alívio fonético, quando uma pessoa ou explode ou tem que arrear em alguém.

Vêm estas considerações apenas para me escusar – eu que normalmente não sou de asneiras, nem perante os mais descarados arranjinhos dos árbitros – do emprego que faço hoje da expressão «porra». Aliás, com fins estritamente terapêuticos, relaxantes e medicinais. Sem receita médica, mas se tivesse aqui um médico estou certo que ele havia de ma passar.

Perceba-se que no momento em que estou a prosar (domingo 9, 22:00 h) o meu Benfica prossegue estranhamente (ou talvez não) na sua tendência suicida de se servir numa bandeja ao apetite dos seus adversários, mesmo os mais modestos.

E agora até o Camacho… Outro Quixote que se vai. Como se o mal fosse esse.

Porra! Isto é como uma pessoa estar a assistir ao seu próprio enterro. E dizer o presidente-director desportivo que foi apanhado «de surpresa». Surpresa é ele ter sido surpreendido, perante uma equipa abúlica e «balcanizada». Ao menos lesse o Footbicancas que - modéstia à parte – na nossa crónica da semana passada (O Dérbi, o Fantas-casa e o Fantas-Porto) já apontava claramente para esta possibilidade.

O FCP (leia-se Futebol Clube do Papa) e o açambarcamento afortunado do título, e dos sucessivos títulos, não podem ser visados como os únicos culpados da débâcle encarnada. O SLB e os seus dirigentes têm muitas contas a prestar a si próprios.

Dói, mas temos de o reconhecer. É uma porra, mas é assim!

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