sexta-feira, 21 de março de 2008

Colunista convidado, por JMMA


EU, ELES E O GLORIOSO

Desde que vi o Benfica, depois da bizarra autoflagelação de Camacho, dotar a equipa com um pára-quedas em vez de um treinador, infelizmente já nada me impressiona. Do mau ao pior, agora tudo é de esperar, excepto que as águias possam chegar aos finalmentes deste campeonato acima do quarto lugar.

A única coisa que ainda me desatina são os botões. Eu digo preto, eles dizem cinzento. Eu quero dizer mal do presidente, eles (os meus botões) sugerem algum respeito pelos mais velhos. Quanto ao treinador, dizem os meus botões: «Camacho, com a saída, mostrou desprendimento e altruísmo por abdicar dos seus 170 mil euros mensais». E eu: «Pelo contrário, o que o espanhol mostrou foi egoísmo e até alguma susceptibilidade, por ter deixado o barco à deriva a oito jornadas do fim, quando percebeu que não ia continuar para o ano.»

Também quanto aos desaires da equipa, os meus botões desculpam, contemporizam, relativizam com o incomensurável azar. «O tanas!» – acho eu – «Depois da saída do treinador, contra o Getafe, era uma questão de orgulho. Ninguém pedia à equipa o triunfo na eliminatória da Taça UEFA, só um bocadinho de atitude. O que se viu: nada.»

E não, não é para bater em Chalana. O pára-quedas, pelos vistos ainda não abriu nem se sabe se vai abrir, mas está a desempenhar-se do papel o melhor que pode e sabe. É a sua oportunidade. Quantas vezes terá ele sonhado ser treinador? Eu quando era pequenino também queria ser cientista russo. A razão mostrou-me depressa que eu não era suficientemente bom e, felizmente, não era russo. O problema é que o presidente do Benfica, enredado nas suas próprias redes, é incapaz de ver o que quer que seja. Nesta altura já só pensa em desenrascar-se o menos-mal que puder, ou, como diz o outro, chutar com o pé que tem mais à mão.

Por isso Chalana chegou muito mais longe do que as suas modestas qualidades aconselhariam. O problema não está aí. Também não vale a pena crucificar Camacho por ele ter ido embora, mesmo se deixou o barco à deriva. Se a deserção é censurável e foi mau ele ter saído, pior nesse caso foi ele ter entrado. Uma e outra história são, aliás, a continuação de um jogo esquizofrénico em que as fronteiras do real e da fantasia se esbatem. Isto para dizer que o problema do Benfica está no Benfica: um clube que parece sofrer de Alzheimer, cometendo os mesmos erros vezes e vezes sem conta, como aquelas moscas que insistem em espetar-se contra os vidros da janela.

Ouvindo isto, os meus botões protestam, quase me acusam de traição ao ‘pedigree’ encarnado. Segue-se, porém, o empate (mais um!) no Marítimo, e aí vejo-os (os meus botões) mudar de cor: «É impossível, ninguém joga mal tão bem – só de propósito». Isso nos dá (a mim e aos meus botões) a esperança, para o próximo jogo, de virmos a ver a grande equipa que realmente somos.

Por isso, embora eu tenha sempre a última palavra, desta vez os meus botões convenceram-me: «E se fossemos dizer mal do Festival da Canção?»

Assim como assim já que não é para ganhar mas só para ir a votos, é como o Benfica… Ou talvez não. Sabe-se lá se a canção portuguesa que em Maio vai representar Portugal no Eurofestival da Canção, na Sérvia, não sairá vencedora. Basta a Sérvia entretanto entrar em guerra com o Kosovo e todos os outros candidatos desistirem.

Improvável? Improvável, em Maio, é o Benfica agarrar o segundo lugar do Campeonato.

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