domingo, 25 de janeiro de 2009

Toques de Cabeça

Ronald’ Ecos
JMMA

Há pouco mais de uma semana, Ronaldo era entronizado sem surpresa como o Melhor jogador do Mundo. Não é propriamente o mesmo que entrar no Guinness por cozinhar uma cavaca de dez quilos, mas acho que também não é caso para as Ronaldo-histerias a que assistimos por aí, nalguma imprensa. Neste caso, a televisão.

Quando me liguei à festa, decorria um longo "directo" desde a Ópera de Zurique, sobre a gala da FIFA. Como a sessão se prolonga para além das 20h, o "telejornal" que espere, que a entronização do ídolo não pode ser perturbada. A consagração acontece. Discurso de agradecimento e imagens de uma dose de golos do craque.Por fim, lá vem o "telejornal" com um quarto de hora de atraso. Notícia de abertura, a vitória de Ronaldo. Ligação imediata à casa da família no Funchal. De seguida, entre novas ligações a Zurique e ao Funchal, novamente golos de Ronaldo. A terminar, depois de uns minutos sobre a "vaga de frio", espaço para a actualidade cultural: golos de Ronaldo. Encerrado o noticiário, entra o comentarista residente para o seu número semanal. Confessando que não liga ao futebol, opina sobre Ronaldo.Por volta das 21.00, documentário sobre Ronaldo. Além de golos de Ronaldo, apresenta entrevistas a Ronaldo e testemunhos de especialistas em Ronaldo, incluindo o sujeito descobriu Ronaldo em 1998 e o que o transportou de autocarro em 1997. Tenta-se avaliar o valor futebolístico, publicitário e sexual de Ronaldo. Fica cientificamente demonstrado que Ronaldo é o maior.
Após pausa mal empregada para publicidade, surge o Prós e Contras dedicado a debater Ronaldo, ou melhor, a debater qual dos convidados possui maior capacidade em exaltar os talentos de Ronaldo. Participam treinadores, publicitários, um ex-secretário de Estado do Desporto, um secretário de Estado do Desporto, o sujeito que transportou Ronaldo de bicicleta em 1995, o sujeito que uma vez lhe indicou para que lado era a casa de banho dos homens e o sujeito que lhe descobriu o talento quando o pai dele ainda andava na tropa. Após trinta minutos em que o contributo de Ronaldo para o país ameaça ultrapassar o de Maomé para os muçulmanos, e sobretudo em que as referências ao corpo de Ronaldo e ao talento de Ronaldo se aproximam da excitação erótica, então não é que vem um membro do Governo e explica que (uma vez em Timor, enfim…) Ronaldo até faz discursos como mete golos! É o nosso «Yes, we can» dos relvados.

Desculpa lá, Ronaldo, parabéns pelo prémio, mas assim... não dá, okay?

Desliguei o televisor.

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