Trato-o assim, não só para lhe deixar claro a consideração que tenho pelo professor de Motricidade Humana, mas também porque, ao que julgo saber, é deste modo que o treinador de futebol gosta de ser tratado. Como toda a gente, eu tenho a minha teoria do calimero português, o tal pintainho que ora faz de merlo zombeteiro ora se faz passar por vítima, e foi a pensar nela que decidi escrever-lhe.
Vou tentar ser breve e claro. Sim, os dislates do Senhor Professor deviam ser causa de despedimento. E não deveria haver TAS que lhe valesse. Mas não, não estou a falar do que pensa. O triste episódio dos insultos na Covilhã, a meu ver, tinha-se resolvido bem com um par de bofetadas do ofendido ou uma advertência do patrão de vossa excelência, a Federação Portuguesa de Futebol. Realmente, despedi-lo por causa disso até parece truque. Não vou por aí, mas também devo dizer-lhe que não me tiram o sono injustiças patronais sobre empregados que sacam 700 mil euros de prémio por fazer aquilo que o Senhor fez (na Selecção, entenda-se). Uma injustiça é sempre uma injustiça, mas com as deste tipo - digo eu que tenho mais que fazer -, não vale a pena perder tempo.
Vou tentar ser breve e claro. Sim, os dislates do Senhor Professor deviam ser causa de despedimento. E não deveria haver TAS que lhe valesse. Mas não, não estou a falar do que pensa. O triste episódio dos insultos na Covilhã, a meu ver, tinha-se resolvido bem com um par de bofetadas do ofendido ou uma advertência do patrão de vossa excelência, a Federação Portuguesa de Futebol. Realmente, despedi-lo por causa disso até parece truque. Não vou por aí, mas também devo dizer-lhe que não me tiram o sono injustiças patronais sobre empregados que sacam 700 mil euros de prémio por fazer aquilo que o Senhor fez (na Selecção, entenda-se). Uma injustiça é sempre uma injustiça, mas com as deste tipo - digo eu que tenho mais que fazer -, não vale a pena perder tempo.
Volto então ao princípio: sim, os seus desatinos – e bastam os de linguagem -, deviam ser considerados justa causa para despedimento. Nem é preciso recorrer à espantosa entrevista à SIC, em que, para disfarçar o ataque destrambelhado a um representante da sua entidade patronal, o senhor professor disse que falar em polvo era a mesma coisa que dizer nuvem ou terramoto. Então não se está mesmo a ver que é. Tanto quanto dizer que a equipa com seis defesas que, recorde-se, vossa excelência fez alinhar no Mundial, se pode comparar com a Holanda de Cruyff, ou com um corta-unhas.
Mas se fosse só isso. Desde o caso Nani, passando por Deco, e por fim o desabafo de Ronaldo ("Perguntem ao Queiroz") - tantas foram as declarações polémicas seguidas de esclarecimentos a pôr água na fervura que mais parecia o Mundial das frases corrigidas. Não obstante, há uma declaração de vossa excelência – nunca corrigida – que vale por todas. Cenário: conferência de imprensa anterior ao jogo-treino contra Moçambique. A alguém que perguntara se Pepe (há muito lesionado) iria jogar, respondeu o senhor professor imortalmente: “Estamos a contar jogar um bom par de minutos. Só não decidimos quantos”.
Até parece que um par não são dois. Podemos dizer “só mais um copo” e depois beber quatro ou cinco. Mas um não deixa de ser um. Tal como um par são dois e apenas dois. Nem três. Nem quatro. Quinze, que foi o tempo que Pepe jogou, então – nunca. “Um bom par de minutos” significa dois minutos e picos. No máximo, dois minutos e 59 segundos. Por muito bom que seja um par de minutos, quatro minutos são dois pares, seis minutos são três pares e assim sucessivamente. E 15 minutos são sete pares e meio. Pelo menos foi assim que aprendi, mas devo confessar que não frequentei a sua Faculdade de Motricidade Humana.
Enfim, talvez um polvo possa ser uma nuvem. Talvez um bota-de-ouro madeirense possa ser um idiota convencido. Mas mesmo no limite mais generoso da semântica, um bom par não pode ser ímpar. Quinze minutos jogou Pepe. Não foi um número par. Nem foi um par de números. Muito menos foi um par, bom ou mau, de minutos. Foi outra coisa qualquer. Está a compreender vossa excelência porque é que falo em justa causa? É que isto não é apenas confusão de termos, ou ‘lapsus linguae’ como se costuma dizer. É estrabismo verbal.
De espada numa mão e veredicto do TAS na outra, como D. Quixote na epopeia de Cervantes, procura agora vossa excelência a última ilusão de se afirmar como um perseguido político e vem falar em "vendetta pessoal". Não percebe que além de ninguém entender o que diz, está a falhar a única opção inteligente que ainda lhe resta: calar-se e recorrer aos tribunais se for caso disso?
E já agora, para terminar, uma sugestão se me permite: deixe lá o Presidente da República em paz. Todos sabemos – e vossa excelência sabe-o melhor que ninguém – que o ex seleccionador nacional de futebol Carlos Queiroz é importantíssimo. Mas o senhor professor não acha, nessa réstea final de bom senso que talvez ainda lhe assista, que nos dias que correm o nosso Presidente tem mais que fazer?
JMMA
[Desmancha-Prazeres]
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