COMO FOI O QUE JÁ LÁ VAI
E pronto! Arrumados os andores no orago das Antas e varridos os confetis no lugar de Entrecampos, desceu o pano sobre a época futebolística 2006-2007. Lá temos de voltar à vida real. Andámos estes meses em disputas de tudo ou nada, questões fundamentais de euforia e desalento, justiça e sorte. Acreditámos, desesperámos, argumentámos. Mas agora acabou-se. Temos de regressar ao concreto - à monotonia do trabalho, às chatices do quotidiano.
Como bons portugueses, adoramos disputas abstractas, que nada tenham a ver com a realidade da vida, nem com o fundo das questões. À força de vermos só o que nos convém e como nos convém, acabamos por reflectir apenas acerca da superfície das coisas. No futebol então, esta paixão é mais que intrigante. Como se acaba de constatar, o nosso campeonato contém algo de inclassificável, algo de único em desportos profissionais: é completamente previsível. Exagero? Basta consultar o post escrito neste blogue por Vítor Peliteiro, aí pelos idos de Agosto, quando o campeonato ainda nem sequer tinha arrancado, e verão que está lá tudo: quem ganha, quem não ganha e quem desce. Parece que é bruxo!
Porquê então toda esta paixão? A mim parece-me que nos apaixonamos pelo futebol porque ele nos distrai e nos faz sentir importantes. Quando discutimos, teorizamos no blogue (como faço agora) ou apupamos o árbitro, nessas alturas estamos mesmo no topo do mundo. Do alto das nossas certezas denunciamos o dirigente da tanga, esmiuçamos o fracasso da táctica, execramos o jornalista da treta. Temos a chave, não direi do futuro da Humanidade, mas seguramente da glória da nossa tribo. Até nos esquecemos da hipoteca, da vesícula, das chatices do trabalho e da casa.
Os jornais ateiam a fogueira. Ansiosos por agradar, brindam-nos permanentemente com um fluxo de questões inócuas e ociosas. Vivem de confundir jogo com manobra de diversão. Como nos divertimos nestes longos meses de campeonato! A economia não cresceu, os juros aumentaram, a torneira pingava. Mas tudo se esfumava diante de questões incontornáveis como a «infelicidade» do Porto frente ao Chelsea, a «pseudo» patada de Liedson em Leiria ou a «imparável» cavalgada do glorioso para a final de Glasgow. Cada uma delas dependia totalmente de nós. Decidia-se o sucesso. Não a economia, o empréstimo da casa, a rotura do cano, mas aquilo que não existe, nem podemos resolver: a superioridade do nosso clube e a lisura dos seus dirigentes elevadas ao grau superlativo.
O inconveniente desta cadeia de ilusões é a ressaca do dia seguinte. Esta é a semana em que a rua com os foguetes ardidos nos lembra a nulidade do sonho. Pior, este é o dia de voltar à vida real, aos empregos sem saída, aos impostos que massacram, à burrinha Euribor que não obedece. A disputa além de chocha (falo por mim), não serviu para nada. A vida recomeça igual. Por isso, o que há a fazer é continuar a seguir o grande ilusionista. As transferências, as renovações, a dança dos treinadores, as férias dos craques, as façanhas da pré temporada. Show must go on!
Esta é a sina do português, capaz de esquecer tudo por uma boa discussão de futebol, quanto mais inócua e enviesada melhor. Enquanto a vida passa, o juro sobe, a criança chora, a torneira pinga.
A propósito, quando é que recomeça o campeonato?
Não vale dizer quem ganha!
E pronto! Arrumados os andores no orago das Antas e varridos os confetis no lugar de Entrecampos, desceu o pano sobre a época futebolística 2006-2007. Lá temos de voltar à vida real. Andámos estes meses em disputas de tudo ou nada, questões fundamentais de euforia e desalento, justiça e sorte. Acreditámos, desesperámos, argumentámos. Mas agora acabou-se. Temos de regressar ao concreto - à monotonia do trabalho, às chatices do quotidiano.
Como bons portugueses, adoramos disputas abstractas, que nada tenham a ver com a realidade da vida, nem com o fundo das questões. À força de vermos só o que nos convém e como nos convém, acabamos por reflectir apenas acerca da superfície das coisas. No futebol então, esta paixão é mais que intrigante. Como se acaba de constatar, o nosso campeonato contém algo de inclassificável, algo de único em desportos profissionais: é completamente previsível. Exagero? Basta consultar o post escrito neste blogue por Vítor Peliteiro, aí pelos idos de Agosto, quando o campeonato ainda nem sequer tinha arrancado, e verão que está lá tudo: quem ganha, quem não ganha e quem desce. Parece que é bruxo!
Porquê então toda esta paixão? A mim parece-me que nos apaixonamos pelo futebol porque ele nos distrai e nos faz sentir importantes. Quando discutimos, teorizamos no blogue (como faço agora) ou apupamos o árbitro, nessas alturas estamos mesmo no topo do mundo. Do alto das nossas certezas denunciamos o dirigente da tanga, esmiuçamos o fracasso da táctica, execramos o jornalista da treta. Temos a chave, não direi do futuro da Humanidade, mas seguramente da glória da nossa tribo. Até nos esquecemos da hipoteca, da vesícula, das chatices do trabalho e da casa.
Os jornais ateiam a fogueira. Ansiosos por agradar, brindam-nos permanentemente com um fluxo de questões inócuas e ociosas. Vivem de confundir jogo com manobra de diversão. Como nos divertimos nestes longos meses de campeonato! A economia não cresceu, os juros aumentaram, a torneira pingava. Mas tudo se esfumava diante de questões incontornáveis como a «infelicidade» do Porto frente ao Chelsea, a «pseudo» patada de Liedson em Leiria ou a «imparável» cavalgada do glorioso para a final de Glasgow. Cada uma delas dependia totalmente de nós. Decidia-se o sucesso. Não a economia, o empréstimo da casa, a rotura do cano, mas aquilo que não existe, nem podemos resolver: a superioridade do nosso clube e a lisura dos seus dirigentes elevadas ao grau superlativo.
O inconveniente desta cadeia de ilusões é a ressaca do dia seguinte. Esta é a semana em que a rua com os foguetes ardidos nos lembra a nulidade do sonho. Pior, este é o dia de voltar à vida real, aos empregos sem saída, aos impostos que massacram, à burrinha Euribor que não obedece. A disputa além de chocha (falo por mim), não serviu para nada. A vida recomeça igual. Por isso, o que há a fazer é continuar a seguir o grande ilusionista. As transferências, as renovações, a dança dos treinadores, as férias dos craques, as façanhas da pré temporada. Show must go on!
Esta é a sina do português, capaz de esquecer tudo por uma boa discussão de futebol, quanto mais inócua e enviesada melhor. Enquanto a vida passa, o juro sobe, a criança chora, a torneira pinga.
A propósito, quando é que recomeça o campeonato?
Não vale dizer quem ganha!
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