quinta-feira, 7 de outubro de 2010

Toques de Cabeça

REIS DE PORTUGAL
Por JMMA


Ora bem – é terça-feira -, celebra-se hoje o centenário da República. Há muito, muito tempo, ainda o Madaíl andava de bicicleta com quatro rodas, e quando quem mandava era o tetravô da Bruna Real (a professora playmate da escola de Mirandela), a esta hora estavam os republicanos no Marquês de Pombal a juntar lenha para queimar o rei vivo. E não havia divisões. Não havia nem Benfica nem Sporting, nem Diabos nem Superdragões, as pessoas juntavam-se no Marquês, e era tudo do mesmo clube, um clube que gostava de queimar reis. Eram outros tempos. Hoje se o Eusébio fosse queimado vivo no Marquês, tenho a certeza de que as opiniões se dividiam.

Voltando ao ponto de partida. Em Portugal, por diversas razões, os reis não têm sido muito bem vistos. Excepto em algumas franjas que vêem com agrado a ideia de viver num País transformado em coutada pessoal, em que os titulares do trono se escolhem por serem filhos do pai.

Em todo o caso, Portugal não teria existido ao longo dos seus quase nove séculos se não tivesse tido reis. Os reis tinham uma função muito importante, chamada reinar. E ao tempo de governo de um soberano chamava-se Reinaldo, mais precisamente Reinaldo Teles, o «Sono».

Os reis mais célebres de Portugal são o Cristo-Rei, os Reis Magos, o Bolo-rei e os Reis do Frango Assado. Reis menos célebres, ou reis da 2ª Dinastia, mas que se distinguiram no Norte são, nas artes, o Soares dos Reis, e no futebol o Rudolfo Reis, grande líder do balneário quando Pinto da Costa chegou à presidência, e único caso conhecido de Rei que em toda a sua carreira só teve uma bandeira – a do FCP, ou Monarquia do Norte, como também é conhecido.

Reis espanhóis, os da 3ª Dinastia, reinaram apenas por empréstimo. O último foi o mui hábil José António Reyes, regressado a Madrid devido à falta de ‘guito’ para accionar a opção de compra.

Com o estabelecimento da igualdade no dia 5 de Outubro de 1910, os reis deixaram de ser escolhidos apenas por serem filhos do pai e permitiu-se que qualquer filho da mãe pudesse reinar. A democratização do País, a seguir ao 25 de Abril de 1974, permitiu, pois, que muitos reinassem embora não fossem reis. Entre eles contam-se, por exemplo, o Rei Major e o seu filho Loureiro. Mas quem reinou mais, e de certo modo ainda reina, foi D. Jorge Nuno que revelou dotes inigualáveis para a reinação, tendo inclusivé conseguido por várias vezes o título de Rei do Desporto-Rei, que é assim uma espécie de Rei do Carnaval.

Vejam se me entendem. Há muitos anos, quem reina formalmente é D. Madail I, mas quem continua a mandar em tudo, tipo Marquês de Pombal, é o Conde das Antas. Com as broncas da Selecção no Mundial e seguintes anunciam-se eleições para o trono. Não vejo melhoras: de um lado, o próprio rei e os que têm o rei na barriga; do outro, os que querem reinar sem rei nem roque.

Valha-nos a República!

3 comentários:

  1. A seguir ao 25 de Abril de mil nove e setenta e quatro, um rei chamado benfica deixou de o ser.

    E deixou de o ser porque os reis da altura caíram do seu pedestal, deixando o filho (Benfica) desamparado e entregue a si mesmo.

    A democratização do País permitiu aos que sabiam tocar viola a tocassem, sem interferências de poderes oriundos de poltronas plantadas ao pé do Rio Tejo...

    ResponderEliminar
  2. Meu caro Vitor,

    Oxalá fosse assim. Sinceramente, acredite, quem me dera que fosse assim. Mas deve concordar que na vida, e no nosso futebol em particular, raramente as explicações podem ser assim tão simplistas.

    Perdoe que me cite a mim mesmo, mas tem uma síntese do pensamento mais ou menos «sério» sobre a matéria, nos meus posts do passado mês de Abril intitulados «Lembrando Abril I» e «Lembrando Abril II».

    Além dos aspectos políticos, económicos, sociais e outros que condicionam e determinam os fenómenos de massas como o é o futebol, lá encontrará referência aos méritos que me parecem justamente atribuíveis a Sua Eminente Papidade o Presidente do FCP.

    Todavia, como lá se diz:

    «O problema está em que tanto Pinto da Costa como Valentim Loureiro não souberam estar à altura da História. Mais uma vez a natureza humana cedeu perante o deslumbramento do exercício do poder e o resultado foi aquele que se conhece.»

    Julgo que estará aí o nosso desencontro. Paciência...

    Mas (desencontro à parte)saúdo o seu regresso e oxalá continue a privilegiar as minhas «boutades» com os seus comentários.

    Abração.

    ResponderEliminar
  3. "A democratização do País permitiu aos que sabiam tocar viola a tocassem".

    Se para ti, encomendas de fruta, cafés com leite, aconselhamento psicológico a arbitros ao domicilio, and so on, and so on, é tocar viola, então dou-te razão.

    As escutas, legais ou não existem. Não são ficção.

    ResponderEliminar