terça-feira, 26 de outubro de 2010

Toques de Cabeça

A JUSTIÇA É UMA RODA QUADRADA (SAIBA PORQUÊ)

Por JMMA

Carolina Salgado voltou este fim-de-semana às paginas da Imprensa. O motivo pode resumir-se em duas palavras: no Tribunal do Bolhão, Carolina leva dez meses de cadeia por difamação ao seu antigo companheiro, que terá apontado como mentor das agressões perpetradas a Ricardo Bexiga. Nada de surpreendente. Era pública a polémica entre a ré e o queixoso; e se a ré não é boa rês, é bom não esquecer que quem no-la apresentou foi o queixoso, mas também é bom que a Justiça faça o seu trabalho.

O que surpreende, hoje, é isto: porque será que os processos que envolvem pessoas importantes nunca têm este desfecho?

O caso "Apito Dourado" é exemplar. De dezasseis arguidos, nem um foi condenado. Havia várias pessoas acusadas de mais de cem crimes, nenhum foi provado. Mas não quero voltar à vaca fria. Até porque, do Freeport à Face Oculta, da Operação Furacão ao caso BPN, passando pelo processo Portucale, pelas alegadas negociatas em torno dos submarinos, por Isaltinos, Felgueiras, Ferreiras Torres... infelizmente, o que não falta são exemplos desafiantes para a nossa boa fé.

Há tempos (2009?) o DN trazia um artigo que desmontava a engrenagem das águas de bacalhau em todos os processos que em Portugal começam pela palavra “caso”. Passo a resumir com toda a vénia:

1) Os jornais publicam uma notícia sobre qualquer pessoa muito importante que alegadamente fez qualquer coisa muito má. 2) Essa pessoa muito importante considera-se vítima de perseguição por parte de forças ocultas. 3) Outras pessoas importantes vêm alertar para o vergonhoso desrespeito do segredo de justiça em Portugal, que possibilita a actuação de forças ocultas. 4) Inicia-se o debate sobre o segredo de justiça em Portugal. 5) Toda a gente tem opiniões firmes sobre o que é preciso fazer para que estas coisas não aconteçam. 6) Toda a gente conclui que não se pode reagir a quente, logo, nada se faz. 7) Outras pessoas importantes vêm alertar para o vergonhoso jornalismo que se faz em Portugal, que se deixa manipular por forças ocultas. 8) Inicia-se o debate sobre o jornalismo português. 9) Toda a gente tem opiniões firmes sobre o que é preciso mudar no jornalismo português. 10) Enquanto o mecanismo se desenrola do ponto 1) ao ponto 9) a justiça continua a investigar. 11) Após um período de investigação suficientemente longo para que já ninguém se lembre do que se estava a investigar a justiça finaliza as investigações e conclui que a pessoa muito importante: a) Afinal o que fez não era assim tão mau. b) O quer que tenha feito de muito mau já prescreveu. c) É possível que tenha feito algo de muito mau mas não se reuniram provas suficientes. d) As provas indicam que realmente fez algo de muito mau mas não podem ser aceites. 12) Pessoas importantes que são amigas dessa pessoa muito importante concluem que ela foi vítima de perseguição por parte de forças ocultas. 13) Pessoas importantes que não são amigas dessa pessoa muito importante concluem que em Portugal nada acontece às pessoas muito importantes que fazem coisas alegadamente muito más. 14) São publicadas clandestinamente peças-chave do processo (p.e. escutas) que inculpam notoriamente as pessoas importantes arguidas no caso, entretanto absolvidas. (15) Repetem-se os passos 4), 12) e 13) até que os jornais publiquem uma outra notícia sobre uma outra pessoa muito importante que alegadamente terá feito outra coisa muito má. E assim sucessivamente.

4 comentários:

  1. É verdade JMMA. Normalmente, as pessoas importantes nunca são apanhadas. Mas de repente lembro-me de uma excepção: Um ex-presidente do Benfica.

    Quanto ao processo de defesa que refere, também está giro. Assim de repente, lembro-me de algo parecido:

    1) Há um clube que passa anos e anos sem ganhar;
    2) Esse mesmo clube "considera-se vitima de perseguição por parte de forças ocultas" para enganar os sócios;
    3) "Outras pessoas importantes" (vulgo comentadores) "vêm alertar" que a culpa são das "forças ocultas" (vulgo clube vitorioso)
    4) O clube que passa anos e anos sem ganhar, depois de controlar as instâncias do futebol (como disse o próprio presidente), lá ganha;
    5) As forças ocultas, como se de um truque de ilusionismo se tratasse, desaparecem;
    6) Volta tudo à mesma. Ou seja, o clube volta a perder e num estalar de dedos as forças ocultas voltam ao activo.

    "E assim sucessivamente."

    ResponderEliminar
  2. Meu caro,

    Nem imagina o esforço que eu faço para não ter pena (a ética assim mo impede) desse desgraçado ex-presidente, banido (e bem) pelos sócios do meu clube sem esperar pela Justiça.

    Grande galo!, ser ele o único a pagar as favas, num dos países mais corruptos da Europa (Portugal), segundo o ranking da "Transparency Internacional" hoje publicado. Se não fossem os meus princípios proponha-o para Nobel.

    Quanto ao resto, sim senhor, está engraçado o seu exercício. Se você pensa assim, tudo bem. Só prova que o meu «guia», de facto, é mesmo bom.

    Abraço.

    ResponderEliminar
  3. Ó Fama, depois daquilo que todos ouvimos nas escutas do apito dourado, é preciso ter lata.

    Forças do oculto?!?!?!??!!?

    ResponderEliminar