quarta-feira, 18 de agosto de 2010

Toques de Cabeça

PORTO, QUEM VEM E ATRAVESSA O RIO
Por JMMA


Perante os desmandos que ao longo da última época continuaram a verificar-se entre as claques do Benfica e do FC Porto, decidi vir ao Porto e relatar o que se passa aqui. Os leitores merecem informação fidedigna, e eu faço tudo pelos meus leitores. Ademais, na vizinha Galiza, Compostela celebra este ano o jacobeu e, além de peregrinar pela grande rota do «pulpo» de vinagrete e do bom Rioja, eu tenho um pedido especial a fazer a Santiago para o próximo campeonato do Benfica.

No Porto sou um estrangeiro. Nada sei desta cidade. Para quem (até parece que) sabe tanto acerca do FC Porto, a minha falta de currículo a respeito é assim como se eu fosse um professor de Português que nunca leu Os Maias. Quando eu julgava que conhecia alguma coisa do Porto foi há tanto tempo que ainda havia um gato na «mezzanine» do Aniki Bóbó às três da manhã. Agora (2ª-F), toda a Ribeira acordada são duas putas num snack com francesinhas cobertas de molho aí de 1963 e ainda não é meia noite.

Mas que estes pormenores não distraiam a atenção do leitor do facto essencial que é este: eu encontro-me no Porto para, abenegadamente, investigar e relatar a verdade sobre os Superdragões. E a verdade, de acordo com o que a minha investigação até ao momento permite concluir, é que não há vândalos nenhuns. Aqui no hotel da Fernando de Magalhães onde que pernoito, não se ouve um barulho que seja durante toda a noite e, pela manhã, não vi qualquer sinal de desacatos. Tampouco o recepcionista, figura pequena, de barbicha e bigodes operáticos em modelo de Bulhão Pato, me pareceu um feroz superdragão.

Num esforço jornalístico que a modéstia me impede de considerar notável, persegui a informação que nem um cão de fila e fui a pé às Antas à procura de vândalos. No percurso, trânsito a meio pau, apenas gente a cirandar para cá e para lá, aparentemente com os valores todos no sítio. Nas redondezas do estádio a mesma calma, e no seu interior (aqui fiz figas) apenas silêncio que nem uma associação de anjinhos.

Mas atenção: não quero com isto dizer-vos que os desordeiros facciosos que realmente existem me escaparam. Não, não. Eu vi os vândalos. A diferença é que aqui no Majestic, onde me sentei a saborear um gelado, não lhe chamam superdragões. Ao que parece, o nome que lhes dão é «clientes». Vi um, armado de faca e garfo, a atacar barbaramente um prato de diabos vermelhos (carabineiros grelhados). À sua frente, outro, contemporizava com um rojão suplicante a aguardar na ponta do garfo. Superdragões, só pode.

Quero aqui declarar que, mesmo tendo feito figas ao Dragão, até agora ainda ninguém me fez mal. Reparem bem no «punctum» da frase: ainda. Explico porquê. É que encontro-me agora na Passos Manuel em frente de uma bruta francesinha («littefrenchgirl» em algarvio). Eu sei – sim, disseram-me – que as melhores francesinhas se comem em Matosinhos. Mas para o lisboeta benfiquista o caso é este: nunca se sabe o que se esconde no molho de uma francesinha...

3 comentários:

  1. Então vem ao Porto e não diz nada???
    Pode ficar cá até Domingo e assistir a um jogo no maravilhoso Dragão!!

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  2. Não disse nada porque julgava que o meu amigo ainda estivesse no Algarve a gozar as suas merecidas férias.

    Se lhe disser que outro amigo(sem aviso prévio)fez 120 km para um café conjunto no Majestic, fica provado que no Norte há muita gente muito melhor que eu. Realmente só no Porto...

    Já agora aproveito para um desabafo em particular. Visitei em São Miguel de Seide a Casa de Camilo Castelo Branco. Que tristeza o estado de decrepitude e abandono em que se encontra.

    Alguém (Autarquia de Famalicão, Administração Central, sei lá)que devolva urgentemente ao imóvel a dignidade que a memória do escritor merece.

    Caramba, Camilo (séc. XIX) foi o Eusébio das letras.

    Dragão, não, obrigado. Domingo já estou em caselas.
    Só espero é que as figas resultem.

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  3. Ainda mais grave!! Para além do Porto esteve em Famalicão, na minha terra e nem se deu ao trabalho de beber um verde fresquinho em minha casa???
    Assim, já parece o Roberto...

    De facto é pena a situação que relata com a casa Camilo. Estou convencido que a coisa só irá ao sítio depois de ser eu o presidente da camara! :)
    Abraço!

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