quinta-feira, 3 de novembro de 2005

Colunista Convidado, por José Manuel Marques

Cajuda Contra Ninguém

As trocas de «mimos» entre os treinadores das equipas intervenientes num dos jogos da última jornada, deram muito que falar mas, como sempre, não tiveram puto de interesse. E não fora esta cena colocar tristemente em evidência um dos traços recorrentes do xico-espertismo lusofutebolês – a bazófia –, nem valeria a pena recordá-la.

Não importa a cor das equipas intervenientes, nem o nome dos protagonistas e muito menos o resultado final do jogo que esteve na origem do arrufo. O que aqui releva é, infelizmente, o facto de um dos intervenientes ser português e o outro não. A burrice normalmente não tem sotaque. Mas aqui tem.

A história, como se sabe, começou com uma simples observação ao facto (real) da equipa contrária ter alterado o calendário da Taça para poder beneficiar de mais tempo de descanso e de preparação para o jogo em causa. A partir daí a cegueira na busca de protagonismo fácil e a avidez sensacionalista dos media (sempre prontos) ditaram o resto – uma espécie de disputa infantil feita jogo do quem-tem-mais-medo-de-quê.

Acho que tudo se permite a um técnico que quer subir na carreira, excepto ser infantil. Na ânsia pior que medíocre de demonstrar que é bom, o nosso conterrâneo não se apercebeu que se pôs a transformar a saudável rivalidade entre equipas adversárias numa banal discussão de putos.

Sabemos que este algarvio puro-sangue é useiro e vezeiro em certos tiques: fala optimamente de si próprio e do seu presidente, critica implícita ou explicitamente alguns colegas, acusa os clubes grandes de «nunca lhe terem dado a oportunidade de falhar», etc. etc. Só que neste caso, o nosso conterrâneo esmerou-se. A burrice perfeita não existe – mas ele esteve muito perto de a atingir.

Não lhe basta nem sequer lhe ocorre recordar que o seu trajecto ou o dos seus atletas, militando em equipas pequenas, é um trajecto de luta e insubmissão competitiva. Não lhe basta nem sequer lhe ocorre referir que é nestas pessoas – técnicos, atletas ou dirigentes – que no dia-a-dia ultrapassam as limitações de toda a ordem e não desistem de, em matéria de jogo jogado, bater o pé aos melhores – é nessas pessoas, digo, que encontramos o brilho do mais extraordinário que há no desporto: a superação de si. Ocorre-lhe apenas, e isso lhe basta, vir a terreiro em termos apimbalhados a gritar como os putos: «o meu pai é polícia não tenho medo de ninguém».

Tenho pena – afinal mostra que nem sabe conviver com as suas próprias virtudes. É-lhe mais fácil depreciar do que admirar. O inferno dele é o êxito dos outros.

Por isso é que o outro (o estrangeiro, claro) não fez senão bem em retirar as tropas de campo logo no primeiro ‘round’: «não vou discutir com uma pessoa que não conheço». E pimba: deixou-o a falar sozinho.

Na lógica desta escola lusa de pensamento infantilizado ganha aquele que desconversar ao mais alto nível ou, por outras palavras, aquele que mais fizer rir a malta. Admito que para um técnico dramaticamente dividido entre aquilo que quer ser e aquilo que pode ser convenha que as coisas acabem por se decidir dessa maneira. Mas isso não me parece bem.

Gostaria que o futebol, já agora, fosse também para adultos.

3 comentários:

  1. Não batam muito no homem. É que ele até é do Benfica, e ao que parece contribuiu para a operação coração...

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  2. Mesmo concordando que foi uma "discussão de putos", acho que quem mais perdeu com ela foi o Benfica. O Benfica não precisava de entrar nessa discussão porque ía jogar com a Naval e não com um Barcelona. Os jogadores do Naval, ao estarem ao lado do seu treinador, entraram em campo como se fosse o último jogo das vidas deles.
    Valeu o empate para atenuar o nulo do jogo do Porto.
    PS. Engraçado que quando liguei o telemóvel ainda no aeroporto, recebi uma mensagem do meu amigo Luis a informar-me que o Porto tinha empatado. Mas depois não recebi mais nenhuma mensagem com o empate do Benfica. Luis, ficaste sem saldo no tlm ou a azia não te deixou teclar???

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  3. :))

    Não te enviei porque deduzi que só te interessavam os resultados do FCP.

    Pronto, confesso, foi também um pouco de azia.

    Nomeadamente pela injustiça no resultado, não só pelo que jogou o Benfica, como também pelo golo obtido em fora de jogo pela Naval.

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