quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

Toques de Cabeça


PALAVRAS AO BENTO
Por JMMA


Não há nada que seja tão empolgante como a economia e a gestão – excepto o futebol. Exagero? Talvez, mas parto do princípio que os que me conhecem sabem o que quero dizer. Aliás, a frase também se poderia virar ao contrário. Na gestão ou no futebol, a estratégia e a táctica, o planeamento e o acaso, a técnica e a intuição, o desejável e o possível, fazem parte do jogo. Em ambos os campos podemos aprender a ganhar e a perder. Portanto, se normalmente encaramos o futebol como um jogo, também o podemos encarar como um exemplo.

Numa entrevista ao Correio Sport, após a primeira derrota como seleccionador frente à Argentina, Paulo Bento diz a páginas tantas: “Compete-me potenciar as grandes condições de Ronaldo”. Ora aí está o que alguns gestores profissionais, ainda que inteligentes e bem apetrechados, parecem ignorar ou não querer reconhecer. Quem sou eu para os apontar. Mas facilmente encontro nos meus canhenhos três individualidades que certamente não desdenhariam subscrever a ideia de Paulo Bento, para quem, curiosamente, “o sol doira sem literatura”. Dizem os gurus:

“Gerir acaba por ser a alocação de recursos perante tarefas. A liderança está focada nas pessoas. A minha definição de líder é a de alguém que ajuda as pessoas a terem sucesso.” (Carol Bartz, Yahoo!)

“O papel do realizador é criar um espaço onde actores e actrizes possam ser mais do que alguma vez foram, mais do que sonharam ser.” (Robert Altman, discurso de aceitação do Óscar)

“Qualquer que seja a situação, a primeira resposta [do grande gestor] é sempre pensar no indivíduo em questão e no que pode ser feito para o ajudar a ter sucesso.” (Marcus Buckingham, The One Thing You Need to Know).

Resulta claro que do “caderno de encargos” do líder, a todos os níveis, faz parte ajudar os que estão na sua dependência a desenvolverem o seu potencial e a realizarem-se no que fazem. Tanto assim que disso depende quase tudo: trabalho bem feito (ou seja, boas exibições), clientes (e adeptos) satisfeitos, resultados positivos, boa posição na tabela. E nem sequer o facto de, no futebol, os jogadores serem considerados como activos dos clubes, neste caso, impediu Paulo Bento de intuir a ideia, que a certos gestores parece escapar, de os tratar como pessoas. Paulo Bento, que, como diz o outro, não percebe nada de finanças nem consta que tenha biblioteca.

Como avançar, então, na escala Bartz-Altman-Buckingham-Paulo Bento? Sugiro aos gestores uma forma - chamemos-lhe a liderança à luz do estádio - que consiste em desenvolver a avaliação dos colaboradores em duas partes, ambas com o mesmo peso:

Parte Um – que o gestor em geral já faz, é avaliar o desempenho do colaborador.
Parte Dois – como sugere o seleccionador nacional, é o gestor avaliar a sua própria relação de trabalho com os seus colaboradores. Não a avaliação geral da gestão dos recursos humanos, mas uma avaliação específica de “como é que me saí, este ano, digamos assim, a ajudar o avançado Franco Jara a integrar-se na equipa; digamos assim, a tirar o melhor partido das qualidades do médio esquerdo Gaitán; ou, digamos assim, a valorizar o passe do guarda redes Roberto?”

Sem isso, ... Prefiro o Paulo Bento.

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