ROBIN DOS BOSQUES
No verão passado, em apenas três meses, um tribunal desportivo italiano, criado especificamente para o efeito, julgou sem clemência escutas telefónicas que indiciavam a «encomenda» de árbitros para certos jogos, condenando à descida de divisão alguns dos mais poderosos clubes do país e da Europa, tudo isto, escassas semanas depois de jogadores desses clubes se terem sagrado campeões do Mundo. Em Abril, um tribunal de Florença, puniu o futebolista internacional Fernando Couto a quatro meses de prisão e quatro mil euros de multa, por violação da legislação anti-dopagem.
Portanto, a justiça é possível. Mas ao que parece, por cá, estas questões não se colocam à maioria dos adeptos e responsáveis do nosso futebol. Podemos ser de uma honestidade a toda a prova nos nossos negócios particulares, mas quando toca ao nosso clube temos grande dificuldade em separar o que está bem e o que está mal. E mesmo se sabemos o que é mal, somos em geral de uma enorme condescendência para com os nossos. Se os sucessos desportivos tiverem de passar por atropelos à lei e à moral pois que passem, onde é que está o problema?
É claro que para este estado de coisas contribui bastante o exemplo que vem de cima. Quando se verifica que o processo «Apito Dourado» dura há quase quatro anos e o mais certo é dar em nada; que, perante o escândalo, a Liga e a Federação assobiam para o lado; e a tutela governante do Desporto finge que não é de cá, só veio ver a bola; quando assim é, o que é que se pode esperar das massas? Não é por acaso que um dos ditados mais populares em Portugal é «ou há moralidade ou comem todos». Como no futebol não há moralidade, ou se há é um bem tão raro que não se pode usar para não se gastar, todos se sentem no direito de participar no banquete.
A grande Agatha Cristie quando criou o detective Hercule Poirot ensinou-nos que todos os suspeitos, até mesmo os mais insuspeitos, podem ser culpados. Mas o adepto ignora Poirot, e no que toca à moral prefere fechar os olhos. De maneira que até o dirigente-arguido (perdão, o dirigente-querido) ele aceita na boinha, desde que não lhe falte com as vitórias. Com adeptos destes nunca teremos literatura policial de jeito.
A recondução de Pinto da Costa no cargo de ‘ayatollah’ do FCP, recentemente decidida em ambiente de claustrofobia democrática, ainda para mais quando o reconduzido se encontra arguido em processos de corrupção desportiva, mostra bem até que ponto este relativismo moral faz parte da nossa maneira de ser. Vozes houve que se levantaram a denunciar que o escândalo rompia o contrato de confiança com os sócios. Mas as massas acham (aliás, têm a certeza) que tudo se resume à perseguição mesquinha de perdedores inconformados. E se as massas acham, está achado. Portanto, louvado seja quem tão «bem» fez pelo clube, não interessa como.
Não se lhes pode levar a mal porque no fundo são (somos) a emanação natural de uma sociedade historicamente farisaica, onde o incivismo é tolerado, a hipocrisia é estimulada, o chico-espertismo é premiado. É como no Robin dos Bosques: que ele roube ou deixe de roubar, ao povo tanto se lhe dá. Desde que distribua pelos pobres.
Só que há uma coisa. No ‘calcio’ sabe-se que normalmente ganha o melhor e alguns dos que não ganham ainda assim são muito bons. Por cá, no campeonato dos senhores da bola, vá-se lá saber…
No verão passado, em apenas três meses, um tribunal desportivo italiano, criado especificamente para o efeito, julgou sem clemência escutas telefónicas que indiciavam a «encomenda» de árbitros para certos jogos, condenando à descida de divisão alguns dos mais poderosos clubes do país e da Europa, tudo isto, escassas semanas depois de jogadores desses clubes se terem sagrado campeões do Mundo. Em Abril, um tribunal de Florença, puniu o futebolista internacional Fernando Couto a quatro meses de prisão e quatro mil euros de multa, por violação da legislação anti-dopagem.
Portanto, a justiça é possível. Mas ao que parece, por cá, estas questões não se colocam à maioria dos adeptos e responsáveis do nosso futebol. Podemos ser de uma honestidade a toda a prova nos nossos negócios particulares, mas quando toca ao nosso clube temos grande dificuldade em separar o que está bem e o que está mal. E mesmo se sabemos o que é mal, somos em geral de uma enorme condescendência para com os nossos. Se os sucessos desportivos tiverem de passar por atropelos à lei e à moral pois que passem, onde é que está o problema?
É claro que para este estado de coisas contribui bastante o exemplo que vem de cima. Quando se verifica que o processo «Apito Dourado» dura há quase quatro anos e o mais certo é dar em nada; que, perante o escândalo, a Liga e a Federação assobiam para o lado; e a tutela governante do Desporto finge que não é de cá, só veio ver a bola; quando assim é, o que é que se pode esperar das massas? Não é por acaso que um dos ditados mais populares em Portugal é «ou há moralidade ou comem todos». Como no futebol não há moralidade, ou se há é um bem tão raro que não se pode usar para não se gastar, todos se sentem no direito de participar no banquete.
A grande Agatha Cristie quando criou o detective Hercule Poirot ensinou-nos que todos os suspeitos, até mesmo os mais insuspeitos, podem ser culpados. Mas o adepto ignora Poirot, e no que toca à moral prefere fechar os olhos. De maneira que até o dirigente-arguido (perdão, o dirigente-querido) ele aceita na boinha, desde que não lhe falte com as vitórias. Com adeptos destes nunca teremos literatura policial de jeito.
A recondução de Pinto da Costa no cargo de ‘ayatollah’ do FCP, recentemente decidida em ambiente de claustrofobia democrática, ainda para mais quando o reconduzido se encontra arguido em processos de corrupção desportiva, mostra bem até que ponto este relativismo moral faz parte da nossa maneira de ser. Vozes houve que se levantaram a denunciar que o escândalo rompia o contrato de confiança com os sócios. Mas as massas acham (aliás, têm a certeza) que tudo se resume à perseguição mesquinha de perdedores inconformados. E se as massas acham, está achado. Portanto, louvado seja quem tão «bem» fez pelo clube, não interessa como.
Não se lhes pode levar a mal porque no fundo são (somos) a emanação natural de uma sociedade historicamente farisaica, onde o incivismo é tolerado, a hipocrisia é estimulada, o chico-espertismo é premiado. É como no Robin dos Bosques: que ele roube ou deixe de roubar, ao povo tanto se lhe dá. Desde que distribua pelos pobres.
Só que há uma coisa. No ‘calcio’ sabe-se que normalmente ganha o melhor e alguns dos que não ganham ainda assim são muito bons. Por cá, no campeonato dos senhores da bola, vá-se lá saber…
Por cá também ganham os melhores!
ResponderEliminarConheço uma pessoa que lhe é bem chegada que queria provar essa dúvida mítica que vocês tem. O Porto é ou não melhor? É ou não é beneficiado?
Pois bem, toca a inventariar os erros dos arbitros. Azar dos azares, abandonou essse inventário a meio. Curiosamente o Porto era a equipa mais penalizada.
Bom, essa pessoa devo ser eu.
ResponderEliminar1-Fui forçado a abandonar essa contabilização por manifesta falta de tempo.
2-Não queria provar nada a ninguém.
Mas há algo nas entrelinhas do teu comment que me deixou preocupado, pq pensava que já tinhamos ultrapassado este assunto!
Tu continuas com dúvidas que o FCP foi beneficiado nos tempos aureos da distania dos Pintos (Pinto da Costa, Pinto de Sousa, Adriano Pinto)?