quarta-feira, 7 de fevereiro de 2007

Colunista Convidado Residente, por JMMA

Halloween

Foi por demais evidente que o que se passou, sexta-feira (2), naquele tresloucado Benfica nicles – Boavista niente, foi algo tão extraordinário que não pode ser entendido senão à luz das ciências do oculto. Certo esteve o treinador benfiquista quando rejeitou o factor sorte como explicação para o ‘nulo’ dos encarnados, num jogo que foi um verdadeiro vendaval de ataque.

Dou-lhe razão. Noventa minutos avassaladores do Benfica sem materialização em golo, quatro bolas nos postes, uma overdose de remates falhados na cara do guarda-redes, lances de ai! ai!, ai!, sacados atabalhoadamente sobre a linha de baliza à razão de um em cada dez minutos de jogo – não – não me venham dizer que isto é falta de sorte. Chamem-lhe magia negra, ritual espírita, bruxedo… o que quiserem, falta de sorte é que não.

Basta abrir os jornais! Diz um: «William entregou-se ao vodu para impedir os festejos encarnados». Noutro: «camaronês milagreiro». E até houve quem não se coibisse de recomendar: «Mandem benzer os postes»!

Ainda mais: Fontes próximas da «Águia» dão conta de terem sido detectadas no estádio, após o jogo, evidências relacionadas com rituais estranhos. Além de objectos exóticos como calhaus, missangas e papelinhos com ervas, foram encontradas dezenas de alhos, dispostos simetricamente junto aos postes das balizas. E numa caixa de sapatos achada na boca do túnel foram até encontrados três sapos vivinhos da Costa. (Disse três sapos, não disse três Pintos). Por sua vez, Nulo Gomes e Katso Azarado revelaram ao treinador que sempre que se isolavam na cara do guarda-redes, assustavam-se imenso porque, de repente, em vez do William deparava-se-lhes na baliza o médium africano professor Fofana, com barbas, barrete e tudo!

Perante tais evidências, o presidente e a virtuosa direcção dos benfiquistas, apesar da boa-fé, não puderam deixar de relacionar os factos com o desenrolar anómalo das partidas quer do FCP quer, sobretudo, do Sporting, de tão «Buena» sorte que fez bingo mesmo sem jogar. Soares Franco, identificado a meio da semana a comprar galinhas pretas e réstias de alhos na feira da Malveira, é outro pormenor que não deverá ser omitido na compreensão dos acontecimentos.

«Quando a maldição no futebol chega a estes limites, o mal é realmente profundo», afirma a direcção benfiquista, que já fez chegar à Liga uma exposição exigindo medidas urgentes. Segundo os encarnados, tais medidas deverão passar pela profissionalização, não dos árbitros, que é uma patetice, mas dos bruxos, videntes, cartomantes, tarólogos, exorcistas e demais especialistas no oculto que operam em roda livre no nosso futebol.

«Não faz sentido, uma actividade tão decisiva para os resultados não estar regulamentada», afirma a exposição. Por isso, a bem da verdade desportiva propõe-se: (1) a inscrição dos bruxos na Liga, para distinguir os bons dos maus profissionais; bem como (2) a obrigação de cada bruxo afixar tabela de preços e ter livro de reclamações.

Ao que consta, a Liga aceitou já a proposta, dependendo a sua concretização apenas de um pormenor prático que tem a ver com fiscalização. Isto é, se um clube reclama que o vidente acertou na maldição do frango, mas trocou a baliza onde este se deu; ou se alguém protesta que o espírita, ao contrário do que prometera, não encarnou o Ronaldinho no trambolho do Alecsandro; ou que a poção do bruxo, afinal, não melhorou em nada a pontaria de remate do Postiga, como comprovar a fraude e punir o charlatão?

Tenho uma sugestão: Constituição urgente, no seio da Procuradoria da República, de uma Comissão permanente para Bruxarias e Vidências, presidida por uma procuradora especial, a fim de investigar os feitiços fraudulentos e controlar a qualidade das poções.

Talvez, com a experiência adquirida, esta Comissão do oculto, chamemos-lhe assim, possa um dia vir a provar também o jogo sujo dos dirigentes.

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