terça-feira, 12 de outubro de 2010

Toques de Cabeça

SE EU FOSSE SPORTINGUISTA
Por JMMA

Embora quase ninguém tenha dado por isso, na quinta-feira, José Eduardo Bettencourt deu uma ‘Grande Entrevista’ à Judite de Sousa, na RTP 1. A Imprensa, em geral, não ligou peva.

Tal como há seis meses, aiás. Recordam-se: no mesmo dia e hora em que, numa inusitada operação de contraprogramação televisiva, Filipe Vieira era entrevistado por Sousa Tavares, Pinto da Costa por Judite de Sousa e Ricardo Costa por Ana Lourenço, onde estava Bettencourt? Presumivelmente, em casa, a falar sozinho aos comandos da Playstation...

Se eu fosse sportinguista acho que a esta hora deveria estar muito chateado. Não com a distracção dos jornais, que fazem o seu papel como melhor entendem – mas com o presidente entrevistado, que tão pobremente pareceu realizar o dele. Devo dizer que aquela entrevista, a espaços (como diria o grande filólogo de Guimarães Manuel Machado) me pareceu uma cena tirada de “O Deus das Pequenas Coisas” (de Arundhati Roy) que conta a história de uma família onde só as pequenas coisas são ditas e as grandes coisas permanecem por dizer.

Atenção: não quero, de modo algum, fazer da entrevista coxa uma questão central da rivalidade clubística na 2ª Circular, pois, como diz o provérbio, quem se ri do mal do vizinho, o seu virá a caminho. Não quero, mais vai ter de ser. Até porque a simples ideia de o presidente de uma grande instituição passar uma «Grande Entrevista» a falar de passivo em vez de falar de estratégia, é para mim bastante estranha. Para piorar as coisas, só faltava assistir ao relato em pormenor das tangas de um tal Izmailov que, como toda a gente já percebeu, um dia destes é recebido em apoteose nas Antas. Pode ser matéria de importância para a equipa técnica ou para o director desportivo. Mas para um presidente que preside tais picardias não poderão ser senão de um mero incidente contratual.

Mesmo assim, mais grave que tudo, acho eu, é a obsessão do passivo. Diz-me a intuição que as empresas que acreditam que se recompõem pelo lado da despesa estão condenadas à inacção e à falta de ideias. É nesse patamar que está o Sporting. Não compra porque não tem dinheiro. E não tem dinheiro, simplesmente, porque não tem o mercado do Benfica nem o "expertize" do FC Porto. Em vez de se preocupar em desenvolver o potencial do negócio, Bettencourt obstina-se em reduzi-lo, em nome de uma estratégia fatal que acabará por conduzir o Sporting – de prestação em prestação até à “belenensização”.

O Sporting precisa de dirigentes criativos ao nível da receita mas, a crer pela bitola do presidente, parece dirigido por burocratas bem comportados com mentalidade de funcionário que deliram com a amortização do passivo, esquecendo que com as derrotas do futebol o clube vai perdendo grandeza e dimensão social. Sem capacidade desportiva, com as assistências aos jogos a baixarem, este Sporting não interessa nem a quem nele investiu. E, nestas circunstâncias, por mais pequeno que seja o montante do passivo, ele será sempre excessivo.

Por outro lado, mais uma vez ficou claro que, com Bettencourt, o Sporting não só se habituou a estar feliz na posição de segundo, atrás do FC Porto, como está disposto para, com o seu silêncio, continuar a assegurar objectivamente o papel muleta dos prevaricadores no escândalo das arbitragens. Na verdade, confrontado com o teor das escutas do Apito Dourado, Bettencourt garantiu que não é «totó» – portanto, reconheceu a sua gravidade –, mas não está para maçadas. “Aquilo que o Sporting deseja é que os dirigentes contribuam para a união de que o País precisa.”

Isto não te deixa preocupado, amigo sportinguista?

1 comentário:

  1. Pelo que consta na Imprensa desta manhã a Assembleia Geral do Sporting, realizada ontem, registou episódios de alguma conturbação. A propósito desses incidentes, sempre de lamentar, queria aqui declarar que o post "Se Eu Fosse Sportinguista" foi escrito com 2 dias de antecipação em relação aos mesmos, e que não tive (nem tenho) acesso a qualquer tipo de informação privilegiada sobre o clube de Alvalade.

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