quinta-feira, 8 de dezembro de 2005

Colunista Convidado, por José Manuel Marques


Bilhete Postal
IRLANDA, NOVEMBRO DE 2005


Aqui chegados, o que mais nos impressionou foi desde logo o extraordinário interesse que os irlandeses demonstram ter por tudo o quanto seja português. E se se trata de futebol então o interesse é tal que vira simpatia e admiração.

Reconhecemos humildemente que esta constatação possa parecer insólita aos leitores que porventura ainda não tenham ido à Irlanda. Confessamos que ainda não temos a percepção exacta das razões que poderão estar na origem de fenómeno realmente tão surpreendente. Porém, nada disto significa que a nossa impressão esteja errada. Factos são factos e este pertence à ordem dos incontornáveis. Os irlandeses admiram-nos. E, justamente porque nos admiram, são de uma extrema descrição, em especial em tudo aquilo que respeite ao nosso futebol.

Na verdade, bem pode o visitante percorrer diariamente os jornais desportivos aqui publicados, assistir atento nas televisões aos programas temáticos, seguir exaustivamente os noticiários locais, que não vê, não lê, nem ouve nada, mas rigorosamente nada, que tenha a ver com as polémicas tão-pouco com os polémicos do nosso futebol. Nem Valentim, nem Pimenta, nem Vale, nem Chumbita, nem Paixão, nem Cajuda – nada, blakout total. Primeiro achei estranho mas depois percebi: é simpatia, só pode ser.

Desinteresse, não é; desconhecimento, tampouco; indiferença, nem pensar. Aliás, posso garantir que sobre aquilo que os irlandeses consideram ser os aspectos nobres do futebol português eles aqui até mostram estar muito bem informados. Prova disso foi, há dias, a referência elogiosa que aqui ouvi ao facto de Portugal ter sido o primeiro país da UEFA a instituir o prémio para galardoar os melhores árbitros. «Excelente ideia», dizia o meu interlocutor irlandês. Pois se há tantos anos que foi instituída a bota d’ouro para distinguir os jogadores, se há o emblema d’ouro para distinguir os adeptos, é realmente louvável que Portugal se tenha lembrado de distinguir também os seus árbitros com o ‘apito d’ouro’. Só espanta que outros países mais poderosos o não tenham já feito também. «Não é assim?». Sim, claro, uma grande ideia, de facto. – Respondi eu cá na minha humildade a este viking bem informado.

Outra coisa que aqui achamos bastante notável (continuava ele) é a disciplina rigorosa que vocês impõem lá aos vossos árbitros. Não é verdade que basta o árbitro abusar de «rebuçadinhos» para ser punido com a obrigatoriedade de cumprir um determinado tempo de tropa como recruta na 1ª Companhia? Espantoso como os Portugueses são exigentes com o estado físico dos seus árbitros. «Só por causa da diabetes, não é assim?» Sim, claro! só por isso.

Portanto, e era aqui que eu queria chegar, os irlandeses interessados, são; informados também. São é muito discretos (muito higiénicos) com tudo o que possa cheirar a regabofe. P’ra eles regabofe é caso de polícia, não é caso de notícia. E se calam, fazem-no por pura simpatia e consideração para com as pessoas que os visitam. Se não há notícias doutra natureza, sim, é o blakout, mas disso não tem eles culpa. Pelo contrário, só temos é que agradecer-lhes por nos pouparem ao horror.

A propósito: neste momento em que escrevo já passaram vários dias sobre o Benfica-Belenenses e aqui sobre o resultado, nikles. Oh my god! Querem ver que é mais uma dívida de gratidão com que fico para com os irlandeses!

Como diria o grande filósofo Roger Rabit: That´s all falks.

By-by. I’ll see you soon!

2 comentários:

  1. As irlandesas?...

    Bom, o que posso dizer (e isso garanto) é que tão credoras da nossa gratidão são as irlandesas quanto os irlandeses.

    Já que, como disse, o blakout é total, necessariamente que também a elas se deve.

    Agradeço a pergunta pela oportunidade proporcionada de prestar este esclarecimento... se é que lhe apanhei o sentido.

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