Toques de Cabeça

Por JMMA

Elogio surpreendente

Há dias, o FootBicancas (Vítor Peliteiro «via Trenguisses») dedicou um elogio ao SLB. Não por ser imerecido, mas vindo de quem vem, um elogio assim tem um duplo sabor. Na verdade, julgo que os co-autores nem se aperceberam que estavam a elogiar o inimigo. Tudo leva a crer que a intenção até seria a inversa: isto é, expor ao ridículo um ponto fraco (concordo, sim, foi um ponto fraco) das movimentações encarnadas nas instâncias jurisdicionais da UEFA, a fim de barrar a participação do FCP na próxima edição na Champions. Devo dizer que mesmo que o post manhoso fosse fiel às intenções dos seus autores, por mim, sempre haveria de lhe achar graça. Por uma simples razão: porque, na verdade, pareceu-me engraçado.

Mas, quanto a mim, o tiro saiu pela culatra. Em vez de achincalhação velhaca, é de louvor, escarrapachadinho, que o vídeo fala. Vamos a ele. Único personagem, um bonequinho simpático, de nariz apalhaçado, que se torce, retorce, e rebola, rebola numa espiral contagiante de gargalhadas marotas. Tudo isto supostamente provocado pela expressão ridícula, «SLB na Champions».

Tudo bem. Causava o mesmo efeito dizer, por exemplo, «Camacho, o salvador da Luz», ou «300 mil sócios até ao fim de 2005», ou «Benfica 2007/08, a equipa mais forte dos últimos dez anos» ou «Chalana … » qualquer coisa. Nem posso dizer que me riria mais se a legenda dissesse, por exemplo: «Pinto da Costa e Pinto de Sousa nunca falaram em árbitros». Sempre assim foi, se alguém ao lado, de ar simpático, desata a rir a bandeiras despregadas, apetece-me logo rir também. Por simples contágio, sem saber sequer do que se ri. A isso se chama ter graça, quando se tem sentido de humor.

No entanto, por um pormenor que certamente escapou ao controlo dos editores, o que vejo representado no vídeo provocador não é um rival trocista, quiçá do fcp, a gozar com as fraquezas cá da malta. Vermelho dos pés à cabeça (ora comprovem lá se não é assim), o protagonista patusco perdido de gozo só pode representar um adepto benfiquista. Portanto, um benfiquista bem-humorado. Um daqueles gajos de espírito saudável, que ri dos outros, mas que não deixa de reconhecer as suas próprias fraquezas e até é capaz de se divertir com elas, quando elas realmente têm graça. Um gajo, que além de rir da sua caricatura, está disponível para ser ele próprio a fazê-la.

Convenhamos que não é essa a característica comum da massa adepta, para a qual, em regra, a culpa nunca mora lá em casa e os deuses domésticos, por mais inconfiáveis, são considerados tão sagradamente intocáveis quanto as vacas na Índia. Não obstante a massa acéfala, acredito numa minoria silenciosa em todos os quadrantes e cores clubísticas, constituída por aquele tipo de adepto esclarecido que é capaz de compreender e divertir-se com os seus defeitos.

Não vos disse? Era mesmo um elogio.

JMMA