quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

Toques de Cabeça


MOURINHO, O PORTUGUÊS QUE DEU A VOLTA AO MUNDO
Por JMMA

O prémio de “melhor treinador do mundo” de 2010 é de Mourinho e assenta-lhe bem. Desde segunda-feira que toda a gente o sabe graças ao formidável concerto que a rádio, os jornais e as televisões nos deram sobre a Gala da Bola de Ouro, acontecida em Zurique. Havia dúvidas? Digamos que faltava o selo de garantia, e o que a FIFA veio agora anunciar ao mundo foi apenas a aposição desse selo.

Entretanto por toda a Europa futebolizada, os jornais espraiaram-se em dissertações elogiosas sobre o passado, os sucessos, o estilo, a vocação e mesmo sobre o carácter altivo do grande Mou. Em Portugal, por entre a mesma quantidade extraordinária de comentários entusiastas, assistimos ainda a derrames de sentimento nacionalista que vão ao ponto de ver no galardão de Mourinho a afirmação internacional de uma “escola portuguesa” de treinadores topo de gama. Quanto a mim, digo e assumo: no sentido em que falamos, Mourinho não é português.

Como se sabe, o português-tipo é prestável e acomodatício, qualidades louváveis mas que muitas vezes o fazem passar por bananas quando se impunha marrar a direito. A humildade e o receio perdem-nos. Mas daquela cerimónia em Zurique ficou a prova (mais uma) de que por Mourinho não perpassa nem um módico de humildade ou reverência. Muito menos de receio. Depois das palavras e abraços da praxe, Mourinho fez aquilo que o faz único. Cito o DN: “Tendo sido treinador do Inter e do Real Madrid, não gostou - disse para microfones que haveriam de amplificar as palavras (e ele sabia-o) -, não gostou que tivesse sido apresentado só como treinador do Real Madrid."

O premiado podia calar-se, já que o seu actual patrão é o Real Madrid e a opinião pública a que presta contas é a espanhola. Seria muito mais fácil não dar pretexto a irritações espanholas (que ontem já se fizeram ouvir). Quase certo que o português típico optaria por rasar o muro. Altivez num português é tão raro... Daí (desse brio de Mourinho) me parecer que, nós, mais do que do sítio onde nascemos, somos dos sítios onde vivemos. E se por alguma razão o “Special One” merece ser admirado na origem, não é por ter nascido nesse sítio, mas sim porque se tornou maior do que ele.

De todo o modo, e já que o “melhor treinador do mundo” é nosso, não se lhe chame Mourinho que tem conotação africana e, como se sabe, por cá há quem não goste. Chame-se-lhe Fernão. Fernão de Magalhães, o português que deu a volta ao mundo pago pelos espanhóis.

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