HOJE NÃO SE FALA DE FUTEBOL
Por JMMA
Mesmo considerando o facto de que, por regra, as eleições onde o campeão em título se recandidata são, à partida, presumidamente menos competitivas, não me recordo de um campeonato tão entediante. E, se é verdade que as transmissões televisivas dos encontros (ditos debates) são praticamente inócuas no que respeita aos resultados, já as baixas assistências registadas exprimem um preocupante desinteresse dos adeptos pela competição, senão mesmo pela modalidade.
Dos seis candidatos em jogo, só dois, Alegre e Cavaco (tipo Porto e Benfica), disputam efectivamente o título. Os outros não conseguiram sair do papel de figurantes secundários, com o único objectivo de roubar pontos aos dois ‘grandes’, vulgarizando o nível de qualidade dos jogos ad nausea. Digo que são dois porque o Sporting (representado aqui por Fernando Nobre) quer pela força das circunstâncias em que competiu, quer pela sua manifesta dificuldade em geri-las, foi-se tornando também ele próprio improvável.
Sobre a forma como decorreu a prova, pode dizer-se que, dada a diferença pontual em relação ao líder, precocemente registada logo no arranque da prova, a estratégia de Alegre é forçar o prolongamento para poder decidir a seu favor num mata-mata. Quanto a Cavaco, pode-se dizer que fez o campeonato todo a jogar à defesa, não carregando sobre o adversário mas passando-lhe a bola e deixando-o tomar a iniciativa do jogo.
Cavaco optou assim por um jogo de contenção, nunca dizendo mais do que o necessário, nem sequer quando foi instado a esclarecer alguns esqueletos (tipo apito dourado) descobertos no armário. Ainda assim fê-lo sem jogar tanto à defesa como o desastrado Carlos Queiroz, abdicando de um catenaccio que seria mal visto pelos adeptos de Direita, que prefeririam vê-lo fazer “jogo bonito”. Pelo contrário, Cavaco jogou à defesa mas com uma pressão alta sobre o adversário, como se tem visto nos recados que foi mandando para dentro do terreno sobre algumas jogadas, como os cortes salariais na função pública ou a situação do crédito externo, num tipo de marcação directa como faria Mourinho.
Em relação à equipa em funções (capitaneada por Sócrates), Cavaco não quis cair no erro histórico de Artur Jorge, quando chegou ao Benfica e decidiu, para se afirmar, desmantelar a equipa de Toni, condenando o clube ao fracasso durante mais de uma década. E, de resto, o seu prestígio como treinador para o resto da vida. Aliás, se Cavaco anunciasse esse propósito, arriscava-se mesmo a não ser reconduzido, como sucedeu com Octávio Machado, quando foi despedido do FC Porto, na era pré-Mourinho.
Apoiado numa equipa sem grandes estrelas, Cavaco apostou claramente num jogo táctico, de paciência, esperando os erros do adversário, ciente de que não foi o Barcelona de Messi e Iniesta – foi, sim, o Inter de Diego Milito e Goran Pandev que venceu a Liga dos Campeões.
Triste campanha esta. Mas enfim, os dados estão lançados. Agora, resta esperar até domingo para sabermos com que resultados - e, depois, com que consequências, porque neste jogo de que estamos a falar (que, repito, não é futebol) isso é que conta.
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