quinta-feira, 2 de agosto de 2007

Colunista Convidada Residente, por Laurinha O’Doe

ABERTA PARA FÉRIAS

Quero que esta coluna seja edificante e por isso hoje vou falar da minha amiga Gorete. A principal virtude da Gorete é a sua futilidade: nunca fez nada, excepto maquilhar-se e aparecer. Pinta as unhas de negro e há quatro anos que não as corta. Não pode fazer nada com as mãos, excepto fumar e beber. Além disso, só come bolos secos - brioches e queques (não confundir com quecas) -, para não estragar os seus queridos adornos digitais.

Vi-a há dias entrar muito bem posta num Ferrari vermelhinho e zarpar para o Algarve, em serviço romântico, na companhia de um gajo já entradote. Pouco tempo depois, telefonou-me de surpresa a dizer que lhe haviam feito um convite irrecusável. Uma semana em Ibiza no iate «Um Verão de Amor». Era precisa outra acompanhante, «só podes ser tu, tens que ser tu».

Sempre conheci assim a Gorete: telemóveis, hotéis de luxo, clientes do jet set. Contudo, esquemas de iates e Ibizas, é a primeira vez que me convida. Todos os anos, a certa altura do campeonato, a Gorete tem o raro privilégio de ser solicitada a partir do Porto para uns hotéis topo-de-gama para aviar gente da bola. No regresso costuma ficar incomunicável praí durante um mês, a recuperar das mazelas que os clientes lhe deixam espalhadas pelo corpo. Desconfiada, antes da partida para um destes serviços, até me dei ao trabalho de lhe bisbilhotar a mala à cata de chicotes, algemas e outros possíveis fetiches para deleitar os bon-vivants. Mas em vão. Afinal de contas, Gorete é uma profissional respeitável. Eu é que estava a ser mazinha.

Sei é que a Gorete faz mais papel numa dessas semanas do que eu em seis meses de massagens ao domicílio. Normalmente traz ainda um casaquito de peles, ou outro presente de valor, que ela consegue vender por belos preços, em lojas chiquérrimas onde depois se vão abastecer as legítimas dos totós.

Portantos, serviço sério e ainda por cima bem pago… É claro que aceitei. Maneiras que quero aqui pedir aos queridos do blogue que tenham paciência, mas a Laurinha vaie-se ausentar. Quero, porém, que os meus darlings notem que a ausência (antes fosse em férias, mas não) é exclusivamente profissional. Tal como o Simãozinho, também a minha ausência em Espanha «justifica-se porque quero sempre mais».

Mais euros, bem entendido. Pode ser uma razão cruel mas tem pelo menos o mérito de ser sincera. Se lhe cobrissem a parada dos colchoneros, estou em crer que o Simãozinho até ingressava no Rio Ave. Bem sei que o amor do Simãozinho pelo Benfica (como antes pelo Sporting) só pode ser sincero. Mas, Espanha (Atlético, Málaga ou Cadiz, tanto faz) ser-lhe-ia sempre irrecusável que mais não seja porque a gasolina lá é muito mais barata. E além disso, em Espanha, a Filipa deixa de estar sujeita a ter que estender a toalha de praia ao lado das pindéricas que povoam as festas do China no Algarve, quando lá está o Figo.

Bonita de ver, foi a saloiice dos tugas. Toda a nossa gente a falar e as têvês e os jornais numa grande excitação para contar tudo da chegada de Simão ao Calderón. Diz-se que até houve um chat no site do Atlético em que o Simão foi apresentado como «uma grande estrela». Admiração: depois da batelada de massa que custou, o que seria de esperar? Que fosse apresentado como apanha bolas? O que é que se há-de fazer, somos assim: um país de lilliputs que precisa desesperadamente de se por em bicos de pés para se convencer que existe. Francamente, não estou a ver os «desportivos» espanhóis em alvoroço porque um jeitoso dos deles é apresentado no site do Benfica como uma estrela. Mas eles são espanhóis, «vale»?

Portantos, já sabem, vou para Ibiza em serviço com a Gorete. A partir de hoje, aviso na porta:

«Aberta para férias»
Laurinha O’Doe

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