quarta-feira, 24 de outubro de 2007

Colunista Convidado Residente, por JMMA



AINDA SCOLARI

A Federação Portuguesa de Futebol enterrou o caso Scolari – paz à sua alma. Mas permitam-me um último dizer sobre o defunto. É que ando há vários dias a coçar as meninges diante da bizarra indiferença que envolveu o enterro: será que ninguém reparou que a FPF mais uma vez, descaradamente, fez-se de lucas? O método é velho e continua a servir que nem ginjas para desatar embaraços: sempre que há algo que não convém resolver, primeiro empurra-se com a barriga e por fim varre-se para baixo do tapete.

A mim, pessoalmente, a coisa chateia-me. Mas até agora não li uma linha sobre o assunto. Apesar da estupefacção geral, e não obstante as instâncias do poder político ao mais alto nível terem repudiado o acto classificando-o como um sarilho sem desculpa, para Madail duas magras vitórias conseguidas lá para trás do Mar Cáspio e uma declaração à imprensa é quanto basta para virar a página e partir para outra.

Vou directo ao assunto: os 35 mil euros alegadamente para punir o seleccionador e promover o «fair play» não passam de uma treta. Não punem nem promovem nada. Se, como promoção, talvez cheguem para tapar a cova de um dente, como punição – veja-se - o que é que são 35 mil euros de multa para um ordenado milionário como é o do gaúcho? Alfinetes! Nem sequer paga o tempo de suspensão imposto pela UEFA, durante o qual o mister vai andar por aí a jogar à bisca lambida nas horas de serviço e saltar ao eixo nas horas vagas. Já nem falo na possibilidade, não descartável, de a retenção salarial ainda assim acabar por ser compensada pela porta do cavalo.

A decisão unânime da FPF de desculpabilizar (como se esperava) Luiz Felipe Scolari, mostra bem como a justiça do senhor Madaíl é uma ilha rodeada de conveniência por todos os lados. Filia-se na mesma linha de «justiça da esponja» com que se vão enrolando até à inanição final os «apitos dourados», os casos Mateus, arbitragens e quejandos.

Não que a direcção da FPF deva ser constituída por polícias e juízes ou Scolari seja o conde Drácula. Mas porque, embora criticando o «gesto irreflectido» (ou seja, o murro) de Scolari, a Federação «não é ingrata e o povo não é ingrato». Por outras palavras: enquanto a selecção for andando tem-te-não-caias na qualificação, entende o senhor Madail que o país só uma coisa a fazer: fechar os olhos em gratidão. O murro ou a tentativa de murro, não foi um acesso descontrolado de violência individual. Scolari teve por trás dele uma nação inteira agradecida e compreensiva.

Nação inteira, ponto e vírgula! Pelo menos um – eu próprio – não só não alinha com a tese como continua a afirmar que a agressão de Scolari ao sérvio foi um tabefe em todos os portugueses que a Federação deveria ter sancionado em termos exemplares e inequívocos, o que não aconteceu nem nunca acontecerá com dirigentes deste calibre.

Nem tudo, porém, é mau. O presidente da Federação disse há dias que tudo tem um princípio e um fim … (Lapalisse não diria melhor) e revelou vontade de abandonar o cargo «pelo seu pé». É pena, já agora, para nosso descanso, podia ter acrescentado – em passo de corrida.

2 comentários:

  1. Muito bem JMMA. Pensava que era o único a pensar assim.

    O MAUdail é realmente uma vergonha.

    Volto dar dar o exemplo que já dei neste blog, mas é o mais perfeito exemplo do que é ser forte para os fracos e fraco para os fortes:

    O puto Zequinha leva 1 ano de suspensão, simplesmente por tirar um cartão ao árbitro (O Terry do Chelsea, por acaso, até fez o mesmo há uns dias). O carioca leva uma multa de 35 mil euros...

    Ele há coisas do caneco!

    ResponderEliminar
  2. Meu caro Vitor,

    Quero crer que não estamos sozinhos na apreciação do caso 'postado'. Aliás sou tentado a interpretar a escassez de outros comentários como concordância. Mas será?

    Ou será desinteresse?

    Receio bem que, para o footbloguer em geral, quando a coisa não trata de mão na área, cartões, passe ao guarda-redes,livre manhoso e por aí fora, já não interessa nada - não é futebol, é filosofia.

    Pois eu acho que na filosofia é que está o busilis. O livre, a mão, o passe... é a espuma!

    Abraço,
    JMMA

    ResponderEliminar