segunda-feira, 29 de outubro de 2007

Colunista Convidado Residente, por JMMA


ONTEM, EM PATÓPOLIS

Suponha o leitor que o presidente de um clube secundário, simultaneamente activista local de um partido político, resolve embalar o pagode na promessa de pôr o clube da terra a ombrear com os grandes. Como não há luxo sem guito, e sendo certo que fazer-se alguém passar por aquilo que não é, traz sempre despesas, a dada altura o fantástico dirigente passou uns cheques pré-datados, cheques esses que estão agora prestes a cair, para cobrança, na conta bancária do clube, cujo saldo está a zero. (Os saldos das contas bancárias, por qualquer razão insondável, estão sempre a zero quando os cheques pré-datados se vencem).

Suponha também o leitor que perante a enrascada financeira, o dirigente megalómano telefonou à sua amiga e correligionária presidente da Câmara, que na imensa bondade do seu coração e amor ao desporto logo se prontificou a ajudá-lo, apenas na condição de lhe ser presente uma factura no valor do buraco a tapar, justificada como ‘donativo’ e passada em nome de uma empresa chamada Resinga. Não foi passada em nome de Deus Nosso Senhor, porque infelizmente, com as pressas, não se pôde saber o respectivo número de contribuinte. (Por qualquer razão insondável, na terra onde isto se passa há sempre empresas dispostas a brindar os clubes e os partidos com donativos anónimos).

Suponha, então, que seguindo as dicas da amiga e correligionária presidenta o dirigente aflito se dirigiu à Câmara e que, não na Tesouraria como seria normal mas pela mão escusa de um vereador, se procede ao almejado «download» financeiro: uma conta calada distribuída por dois envelopes, um com um cheque e outro com notas.

Suponha, finalmente, que um dia (nestas coisas, por qualquer razão insondável, às vezes lá vem um dia), por decepção, ambição ou traição, alguém ‘tramou o Roger Rabbit’ e foi a bronca.

Pois bem, passados que são nove longos e atribulados anos sobre a data em que ocorreram os factos, velozmente a passo de caracol lá se vai desenrolando o julgamento. Averigua-se a cor do saco (azul?) e o alcance insondável da magia. Além da autarca mirabolante, acusada de 23 crimes, respondem outros 15 arguidos, entre os quais o dirigente equilibrista, os gestores pagadores, ‘and so on, and so on’.

Depois de rocambolescas vicissitudes, o processo lá vai fazendo a sua ‘via crucis’, e um dia há-de vir em que do nevoeiro da nossa memória, qual D. Sebastião, emergirá em tribunal um resplandecente contrato, demonstrando que, afinal, aquilo que equivocamente se julgava serem donativos obscuros, na realidade nunca teve nada de donativo e tão pouco de obscuro. Apenas e tão só um mero, puro e transparente contrato de serviços de publicidade, regularíssimamente ‘celebrado’ com o tal clube ex-maravilha.

Realizou-se há dias mais uma sessão do pleito.

Desengane-se o leitor se em algum momento imaginou que a cena descrita decorria algures entre Amarante e Guimarães, no reino dos lusos. Nem pense! Passa-se em Patópolis, mais concretamente em Dalton City (dos irmãos Dalton, recorda-se?), no reino dos patacôncios.

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