quinta-feira, 12 de junho de 2008

Colunista Convidado, por JMMA

PORTUGAL, OLÉ!

Euro 2008_EmplastroAgora que os dias aquecem e o EURO nos sorri, não é qualquer braço-de-ferro de camionistas que nos bloqueia a alegria. A crise espreita do alto dos TIR – ‘Como Uma Força’ (diria a Nelly Furtado) - mas o povão não abdica da festa. Se preciso for, todos empurram o autocarro com ‘Vontade de Ganhar’ e ‘Havemos de Ir a Viena’.

Um grande motivo de alegria nos dias que aquecem, foi o 10 de Junho. Não tanto por ser Dia de Portugal, mas sobretudo por ser feriado. Sim, portuguesmente falando, celebrar e trabalhar são conceitos que não combinam. E se, como este ano, o feriado pede ponte, então, sentimo-nos duplamente patriotas.

O segundo motivo de alegria é o facto da nossa Selecção, ontem, ter sido a primeira a garantir a qualificação para a fase seguinte do Euro – a chamada ‘Fase nas Mãos de Deus’. É possível que tenha havido um acordo de bastidores com a Nossa Senhora do Caravaggio e que a divindade tenha intercedido favoravelmente na formação dos grupos, mas agora não é altura de falar nisso.

Outro motivo de felicidade acrescida (para alguns) é a saída à papo-seco do Sargentão. No Porto, recusam-se a festejar sem que a hipótese esteja concretizada, não vá o diabo tecê-las e o teimoso arrepender-se. Se bem que a equipa que ontem terminou o jogo contra os checos, apresentava tantos jogadores do Porto (actuais e ex) que mais parecia uma actuação da equipa ‘saudade’ do Dragão.

Motivo também de exaltação patriótica é a sorte da nossa Federação ser dirigida por um homem, Gilberto Madail, que nos habituou a deixar, na sua passagem pelos acontecimentos, admiráveis vestígios de oratória. Como aqueles de que, por exemplo, está recheada a sua recente entrevista ao Público. Só um cheirinho: (Recandidata-se?) «Não é minha vontade e, se Deus quiser, não me recanditarei». Excelente forma de interpretar o sentir do povo que, como se sabe, é - Deus queira que não se recandidate. E ainda este dislate, com o ar grave de quem tem nas mão (e na inteligência) os destinos da Humanidade: «gostaria que o meu sucessor fosse uma pessoa que eu pudesse apoiar». Uma sorte, de facto, ter este luminar da treta a dirigir o nosso futebol.

E como estamos, de facto, em maré alta, outro motivo de alegria prende-se com a decisão (esta semana) do Conselho de Disciplina da FPF, relativa à suspensão de 26 árbitros por actos de corrupção, apurados no âmbito do processo Apito Dourado estipulando penas que variam entre os quatro e os nove anos. Não obstante, continua a não haver castigos a dirigentes. Patente está, por conseguinte - a teoria não é minha, é do Gato Ricardo  (RAP) – que em Portugal há árbitros de tal modo dispostos a deixar-se corromper que nem precisam de serem corrompidos para se corromperem. O futebol português é um bocadinho confuso mas muito estimulante.

Outro motivo e mais importante é, depois de séculos de tentativas de anexação e açambarcamento de craques por parte da Espanha, continuarmos a celebrar a nossa independência e os feriados que o Estado nos proporciona. Amanhã, outro. E já que é dia de Santo António, sexta-feira 13, e o Comité de Apelo da UEFA deverá dizer de sua justiça sobre o recurso do FCP (o Vítor que me desculpe) vou rezar assim:

Olá meu rico santinho / Padroeiro de Portugal / Dá hoje ao P… da C… / Um ataque de hemorroidal.

Para venenos de papa, remédios do diabo.

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