sábado, 28 de junho de 2008

Colunista Convidado, por JMMA

QUO VADIS, VALE?

sopranos Mais uma vez Vale e Azevedo pasmou o país: vida faustosa em Londres, primeiras páginas de jornais, abertura dos telejornais. Não há dúvida que o homem sabe fazê-la. Três minutos no Jornal da Noite da SIC bastaram ao ex presidente do Benfica para passar de fugitivo a herói. “Não vou pelo meu pé para Portugal. Não vou pagar um avião para ser preso. Sou uma pessoa de trabalho. Não quero ser o bobo da corte da Justiça portuguesa’’.

E de réu passou a vítima. Lembrando com detalhe o lamentável episódio dos 17 segundos em que esteve em liberdade, e os seis anos passados atrás das grades, vitimizou-se. "Fui achincalhado, humilhado, gozado pela justiça portuguesa". Frases feitas para impressionar.

Não é a primeira vez que tal sucede. Portugal já se habituou a ver gente famosa, acusada e condenada, a gozar com a Justiça. Fátima Felgueiras fugiu quando soube que ia ser presa. Não se deu mal no Brasil, de lá pôs o seu advogado a chamar nomes à Justiça portuguesa e, quando quis, voltou, recandidatou-se à câmara. Ganhou-a e lá está. Presidente e sem mácula. Também há o caso dum senhor da bola, que quando soube que a Justiça lhe andava no encalço, ‘ausentou-se’ para Espanha em passe de toureio. Apresentou-se quando e como bem entendeu, entrincheirado numa horda de capangas que passavam casualmente por ali, em peregrinação para Fátima. Lá continua. Presidente de gabarito.

O povo não percebe nem tem que perceber as complexas explicações jurídicas para que tais coisas sejam possíveis. O que o povo sabe é que há uns senhores (e não só estes do exemplo infelizmente) que conseguem brincar com a Justiça, como quem dá pontapés na bola. E o que o povo sente é que a Justiça não é igual para todos. Nuns casos finge que dorme, noutros oferece de bandeja desculpas aos golpistas, que ainda por cima gozam o pagode enquanto o pagode ri.

E pelo caminho, a Justiça perde a lógica e o respeito. Não será por acaso (ou será?) que ainda ontem, no salão dos bombeiros da Vila da Feira, improvisado em tribunal, andaram cadeiras pelo ar, ao bom estilo dos westerns. Dois irmãos julgados por tráfico de droga levaram a mal a pena de prisão e vai de ajustar, ali mesmo, as contas com o juiz.

Por este andar, não se admirem. Vale e Azevedo ainda volta, recandidata-se e ganha. E alguém arranjará uma explicação.

Palavra de honra: nesse dia risco o Benfica da minha vida e inscrevo-me no Paços de Ferreira. Se ainda existir. Porque para esta actividade de feitiçaria que em Portugal dá pelo nome de justiça desportiva, ser honrado não compensa.

3 comentários:

  1. Tudo certo com a excepção do seu novo clube.

    Deixo uma nova sugestão: Porque não o FC Famalicão que caiu desgraçadamente nos distritais?

    Precisa muito mais o Famalicão do que o Paços, uma vez que não temos móveis para nos amparar...

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  2. A justiça no futebol é feito de competência e qualidade.

    Mas também é feita de sorte e de inspiração.

    Se o campeonato começasse agora, será que o vencedor se repetiria?

    Fica a questão no ar

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  3. Vitor, desculpe lá, não é subestimar o seu Famalicão, mas pende-me o sentimento para o Paços. Por um facto raro no nosso futebol: entre o risco de não pagar aos jogadores e o risco de descer de divisão, escolheu o segundo.

    Ironia do destino: a vaga possibilidade que ainda tinha de evitar a descida, pode vir a estar comprometida se o CJ da Federação vier a aceitar o recurso do Boavista. Boavista cujos jogadores, à falta de receberem, andam por aí a estender a mão à caridade. O guarda-redes William, ouvi-o há dias a lamentar o facto de já ter sido obrigado a vender a casa para dar de comer à família.

    Entretanto, a UEFA (e bem!) interessa-se por saber se o Benfica pagou todos os tostões ao Cunamaím F.C., pela remota transferência do Alcides...

    Madail, não. Haver clubes que contratam jogadores para uma época e antes do Natal já não lhes pagam, isso acha Suacelência que não são contas do seu rosário. Talvez até ache que calotear o plantel é um reflexo do amor ao clube que até favorece a competitividade do campeonato.

    Pensará Suacelência que a Liga que superintende é o Campeonato Nacional de Dívidas?

    Confesso que estou muito curioso de saber as decisões do CJ da Federação sobre o recurso do Boavista (e não só).

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