quarta-feira, 4 de abril de 2007

Colunista Convidado Residente, por JMMA

FUTEBOL PARA OTÁRIOS

(Para ler com sotaque brasileiro)

Jorge tem rêputação de homem pêrrverso, capaz de tudo para alcançar os seus obijectivos. Outrora considêrado o grande Papa do Norte, Jorge carrega hoje a imagem pública do amante traído e do jógador batóteiro. O move a grande ambição de ganhar, custe o que custar.

Luís tem rêputação de homem corájoso. Combativo e bastante popular, viveu nos últimos tempos empenhado na opêração «jogo limpo». Ao mesmo tempo que alimenta sonhos de grandeza, considera-se vítima dum passado de intrujices e, por isso, apela veementemente para a justiça. O alvo é Jorge e os seus cúmplices. Há escassos dois meses, Luís estava arredado da vitória. Mas agora vê-se com póssibilidades de arrebatar o almejado tróféu a Jorge.

Para dirimir desportivamente a questão, Jorge se dispôs a visitar Luís em sua própria casa, fazendo-se porém acompanhar de Hooligan, cão de fila a que Jorge alimenta e dá abrigo.

O encontro afinal não foi tão decisivo como se pensava, e até teve desfecho considerado mais ou menos justo e lisonjeiro para o visitante. No entanto, Hooligan, que ao cruzar-se à entrada com os rafeiros do dono da casa já tinha dado mostras de perigosidade, logo que o jogo começou resolve espalhar o pânico entre os familiares e amigos de Luis, ferindo cinco deles, pacíficos participantes duma festa chamada desporto-rei. A televisão que transmitiu o jogo transmitiu também em directo a selvajaria.

Jorge e Luís unem esforços para prender e açaimar os molossos fanáticos? Não. Cada um lavas as mãos hipocritamente e o melhor que pode. Luís, que também tem cães, critica Jorge e a polícia. Jorge critica a polícia e Luís. E a polícia, dita de segurança pública, diz que não teve nada a ver com a segurança do público, e atira a responsabilidade para cima de Luís e dos stewards. Uns e outros parecem aceitar que a culpa não é da fera, é sim das pernas mordidas que não deviam estar tão perto. Enquanto isto se passa a fera lambe dos beiços o sangue quente e aguça os dentes para a próxima caçada.

(Fim de episódio)

Não perca os próximos capítulos desta fantástica, indecente e estupidificante telenovela, plena de acção, suspense e violência, chamada «O Futebol dos Otários».

Lembrava-me eu que por muito menos há adeptos em Inglaterra que nunca mais vão poder assistir ao vivo a uma partida de futebol; que, em Fevereiro, por pouco mais, os campeonatos italianos de futebol foram suspensos, eis que chega o noticiário.

Fernando Couto condenado a quatro meses de prisão por uma encrenca de dopping, coisa que aqui certamente não passaria de minudência. Espanha: seguranças de hotel entraram nos quartos de cem jovens portugueses de férias em Lloret del Mar, obrigaram-nos a fazer as malas e puseram-nos imediatamente na rua. (Vejam bem, ainda há gente que acha que a sua em casa não é lugar para espalhar ovos cozidos, açúcar e papel higiénico nos corredores. Que teria acontecido se os forasteiros partissem cadeiras e arremessassem petardos para cima dos empregados e dos hóspedes?

Tirem-me deste filme.

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