FUTEBOL PARA OTÁRIOS
(Para ler com sotaque brasileiro)
Jorge tem rêputação de homem pêrrverso, capaz de tudo para alcançar os seus obijectivos. Outrora considêrado o grande Papa do Norte, Jorge carrega hoje a imagem pública do amante traído e do jógador batóteiro. O move a grande ambição de ganhar, custe o que custar.
Luís tem rêputação de homem corájoso. Combativo e bastante popular, viveu nos últimos tempos empenhado na opêração «jogo limpo». Ao mesmo tempo que alimenta sonhos de grandeza, considera-se vítima dum passado de intrujices e, por isso, apela veementemente para a justiça. O alvo é Jorge e os seus cúmplices. Há escassos dois meses, Luís estava arredado da vitória. Mas agora vê-se com póssibilidades de arrebatar o almejado tróféu a Jorge.
Para dirimir desportivamente a questão, Jorge se dispôs a visitar Luís em sua própria casa, fazendo-se porém acompanhar de Hooligan, cão de fila a que Jorge alimenta e dá abrigo.
O encontro afinal não foi tão decisivo como se pensava, e até teve desfecho considerado mais ou menos justo e lisonjeiro para o visitante. No entanto, Hooligan, que ao cruzar-se à entrada com os rafeiros do dono da casa já tinha dado mostras de perigosidade, logo que o jogo começou resolve espalhar o pânico entre os familiares e amigos de Luis, ferindo cinco deles, pacíficos participantes duma festa chamada desporto-rei. A televisão que transmitiu o jogo transmitiu também em directo a selvajaria.
Jorge e Luís unem esforços para prender e açaimar os molossos fanáticos? Não. Cada um lavas as mãos hipocritamente e o melhor que pode. Luís, que também tem cães, critica Jorge e a polícia. Jorge critica a polícia e Luís. E a polícia, dita de segurança pública, diz que não teve nada a ver com a segurança do público, e atira a responsabilidade para cima de Luís e dos stewards. Uns e outros parecem aceitar que a culpa não é da fera, é sim das pernas mordidas que não deviam estar tão perto. Enquanto isto se passa a fera lambe dos beiços o sangue quente e aguça os dentes para a próxima caçada.
(Fim de episódio)
Não perca os próximos capítulos desta fantástica, indecente e estupidificante telenovela, plena de acção, suspense e violência, chamada «O Futebol dos Otários».
Lembrava-me eu que por muito menos há adeptos em Inglaterra que nunca mais vão poder assistir ao vivo a uma partida de futebol; que, em Fevereiro, por pouco mais, os campeonatos italianos de futebol foram suspensos, eis que chega o noticiário.
Fernando Couto condenado a quatro meses de prisão por uma encrenca de dopping, coisa que aqui certamente não passaria de minudência. Espanha: seguranças de hotel entraram nos quartos de cem jovens portugueses de férias em Lloret del Mar, obrigaram-nos a fazer as malas e puseram-nos imediatamente na rua. (Vejam bem, ainda há gente que acha que a sua em casa não é lugar para espalhar ovos cozidos, açúcar e papel higiénico nos corredores. Que teria acontecido se os forasteiros partissem cadeiras e arremessassem petardos para cima dos empregados e dos hóspedes?
Tirem-me deste filme.
(Para ler com sotaque brasileiro)
Jorge tem rêputação de homem pêrrverso, capaz de tudo para alcançar os seus obijectivos. Outrora considêrado o grande Papa do Norte, Jorge carrega hoje a imagem pública do amante traído e do jógador batóteiro. O move a grande ambição de ganhar, custe o que custar.
Luís tem rêputação de homem corájoso. Combativo e bastante popular, viveu nos últimos tempos empenhado na opêração «jogo limpo». Ao mesmo tempo que alimenta sonhos de grandeza, considera-se vítima dum passado de intrujices e, por isso, apela veementemente para a justiça. O alvo é Jorge e os seus cúmplices. Há escassos dois meses, Luís estava arredado da vitória. Mas agora vê-se com póssibilidades de arrebatar o almejado tróféu a Jorge.
Para dirimir desportivamente a questão, Jorge se dispôs a visitar Luís em sua própria casa, fazendo-se porém acompanhar de Hooligan, cão de fila a que Jorge alimenta e dá abrigo.
O encontro afinal não foi tão decisivo como se pensava, e até teve desfecho considerado mais ou menos justo e lisonjeiro para o visitante. No entanto, Hooligan, que ao cruzar-se à entrada com os rafeiros do dono da casa já tinha dado mostras de perigosidade, logo que o jogo começou resolve espalhar o pânico entre os familiares e amigos de Luis, ferindo cinco deles, pacíficos participantes duma festa chamada desporto-rei. A televisão que transmitiu o jogo transmitiu também em directo a selvajaria.
Jorge e Luís unem esforços para prender e açaimar os molossos fanáticos? Não. Cada um lavas as mãos hipocritamente e o melhor que pode. Luís, que também tem cães, critica Jorge e a polícia. Jorge critica a polícia e Luís. E a polícia, dita de segurança pública, diz que não teve nada a ver com a segurança do público, e atira a responsabilidade para cima de Luís e dos stewards. Uns e outros parecem aceitar que a culpa não é da fera, é sim das pernas mordidas que não deviam estar tão perto. Enquanto isto se passa a fera lambe dos beiços o sangue quente e aguça os dentes para a próxima caçada.
(Fim de episódio)
Não perca os próximos capítulos desta fantástica, indecente e estupidificante telenovela, plena de acção, suspense e violência, chamada «O Futebol dos Otários».
Lembrava-me eu que por muito menos há adeptos em Inglaterra que nunca mais vão poder assistir ao vivo a uma partida de futebol; que, em Fevereiro, por pouco mais, os campeonatos italianos de futebol foram suspensos, eis que chega o noticiário.
Fernando Couto condenado a quatro meses de prisão por uma encrenca de dopping, coisa que aqui certamente não passaria de minudência. Espanha: seguranças de hotel entraram nos quartos de cem jovens portugueses de férias em Lloret del Mar, obrigaram-nos a fazer as malas e puseram-nos imediatamente na rua. (Vejam bem, ainda há gente que acha que a sua em casa não é lugar para espalhar ovos cozidos, açúcar e papel higiénico nos corredores. Que teria acontecido se os forasteiros partissem cadeiras e arremessassem petardos para cima dos empregados e dos hóspedes?
Tirem-me deste filme.
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