terça-feira, 29 de janeiro de 2008

Colunista Convidado, por JMMA

VISTO DA MARGEM

Já que o serviço do Benfica em Guimarães estava feito (e bem feito), por mais que se prometessem rivalidades a ajustar, memórias a vingar, fantasmas a matar, o interesse do duelo de Alvalade para o campeonato, quanto a mim, naquela altura já era como o do «Melhoral» - nem faz bem nem faz mal.

Mesmo assim não posso dizer que tivesse ficado indiferente ao colapso portista. Pelo contrário, acho até que o resultado foi imerecido. Quer dizer, então, que o resultado mais justo seria 3-0? Não disse isso. Longe de mim confessar o que verdadeiramente penso. Aliás, se me garantissem que o Fecepê perderia seis pontinhos nas próximas três jornadas, juro que seria até capaz de dizer aqui que o Helton é um grande guarda-redes, o que não seria mentira nenhuma já que, o rapaz, altura não lhe falta (jeito sim).

A sério, compreendo a desilusão dos fecepês: em vez do Piquenicão da jornada dezassete, saiu-lhes o apagão na jornada desacerto. No fim, só lhes restou reunir os cacos e gerir a debandada. O que eu gostei bué foi das reflexões filosófico-moralizadoras do professor no momento de lamber as feridas. Se perder é assim tão bom para a equipa, faça favor de repetir, que a gente não se importa.

Pode parecer estranho mas para mim foi sempre evidente que o Sporting venceria este duelo com inequívoco mérito. Por duas razões: porque o FCP, ganhando, não ganharia de facto, nada; e porque ao Sporting, nestas circunstâncias, sempre lhe assiste um ethos trágico-cómico que é obrigar a massa adepta a assistir com alegria e júbilo ao indescritível azar de ver a equipa superar-se precisamente quando o grande beneficiado é o Benfica.

Sinceramente, só há neste jogo uma coisa que não concordo, foi chamarem-lhe ‘clássico’. Clássico, só se for pelo que teve de parecido com o Verão Azul. Refiro-me à tal série famosa dos anos 80 que contava as aventuras e desventuras de um grupo de jovens que, tal qual a equipa do Sporting, se conheceram durante as férias. Essa, sim, é um clássico, foi boa, e a gente nunca mais esquece. Certo é que dantes me parecia até irreal que um velho como o Chanquete pudesse aturar tanto àqueles chavalos mimados sempre a inventar brincadeiras parvas, porém próprias da idade. Mas vendo o que os safados verde-negro fizeram ao Jesualdo (o Chanquete do FCP) já tudo me parece normal.

Mais: No Verão Azul (tal como no Sporting), o interesse do grupo, para além das fragilidades de cada um, residia na força dos contrastes. Javi, o menino betinho (neste caso o Liedson), contracenava com Pancho (o Vukcevic lá do sítio), que ao contrário do Levesinho, era o modelo mais aproximado do puto força-bruta. Havia também o Quique (espécie de Farnerud) que era tão anódino que se via logo que estava lá só para encher chouriços. Um pouco talvez também como o Ronny: cheio de vontade mas que consegue a assinalável proeza de ninguém ainda ter percebido onde é que ele joga pior. A extremo? A meio-campo? Em campo? Se o futebol fosse andebol, estou certo que ele entrava em jogo só para marcar livres (e desperdiçá-los) cada vez melhor.

Curiosa coincidência ainda é o facto que, também na série, a dupla mais convincente era dos mais novos, o Tito e o Piranha. Tito (ou seja Moutinho) era o gajo que tinha as tiradas mais inteligentes. Mas como os franzinos são sempre os que levam mais porrada, o seu personagem estava lá como o Moutinho: apenas para nos espantar até que ponto aguentava a sanha do colossal Bruno Alves. Nunca vou perdoar o que este caterpillar fez ao coitadinho! E por fim, Piranha – el gordito; no Sporting o “bunda grande”. Apesar de anafado, é um artista muito versátil: já foi defesa, já esteve no outro lado da 2ª circular, faz biscates como modelo… e se não fosse ser tão guloso até podia jogar futebol.

Em condições normais (tal como no Sporting) estes putos nunca se teriam cruzado uns com os outros. Como, mesmo assim, conseguiram protagonizar um clássico é enigma que nem Benedictus, o santo pontífice, ainda hoje consegue explicar. Outro enigma é o nome do clássico. Verão Azul: creio que há nesta expressão uma qualquer mensagem subliminar que me escapa. Não sei qual mas há.

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