ESQUIZOFRENIAS LEONINAS
Por JMMA
Tem algo de perturbador a forma como Miguel Veloso expressou as suas queixas à partida para a Alemanha. «Andam a perseguir o Miguel Veloso», disse Miguel Veloso.
Quem parece que falava assim – além do Jardel – era o nosso rei idiota D. João VI. «Sua Majestade não está bem», dizia ele quando era afligido por algum dos inumeráveis achaques resultantes da comezaina a que dedicava a maior parte do tempo. Referia-se a si mesmo na terceira pessoa, como um Jardel que se preze.
Nos dias de hoje praticamente só no mundo do futebol se encontra este tratamento distanciado entre a pessoa que fala e aquela (mesma) de quem fala, como se fossem duas entidades distintas, e a primeira fosse o porta-voz da segunda. É como se a verdadeira ou mais importante identidade da pessoa que fala se limitasse à personagem que dá pontapés na bola. Fora disso, essa pessoa não é ninguém. Não existe. Como um rei que, se não reinar não é nada, um futebolista se não estiver a “futebolar” também não é ninguém. Ou o que é não tem qualquer importância.
Essa, aliás, uma das razões por que os futebolistas, cada vez mais, são como os canalizadores: fazem pela vidinha. O amor à camisola é como os outros amores, tem prazo. O problema é que o Miguel – não o que falou, mas o outro, o que existe – tem um contrato com o clube que lhe paga. Deu-lhe direitos, mas também (é a chatice dos contratos) obrigações. Agora se o Miguel se quer ir embora, não pode; ele não é ele, ele é o que três quiserem: ele, o contrato e a outra parte.
E o que é que diz a outra parte?
«O Soares Franco só fala do caso através do Director de Comunicação», diz o Soares Franco, que não é evidentemente o Soares Franco presidente uma vez que esse só fala através do porta-voz, mas o Soares Franco porta-voz, que apenas existe como uma projecção fantasmagórica do Soares Franco que preside.
Que pena os jogadores do Bayern não conhecerem a esquizofrenia lusitana. Se calhar tinham feito alinhar os seus respectivos porta-vozes. Se calhar o resultado até teria sido outro. (Disse ‘outro’, não disse oito’).
Por JMMA
Tem algo de perturbador a forma como Miguel Veloso expressou as suas queixas à partida para a Alemanha. «Andam a perseguir o Miguel Veloso», disse Miguel Veloso.
Quem parece que falava assim – além do Jardel – era o nosso rei idiota D. João VI. «Sua Majestade não está bem», dizia ele quando era afligido por algum dos inumeráveis achaques resultantes da comezaina a que dedicava a maior parte do tempo. Referia-se a si mesmo na terceira pessoa, como um Jardel que se preze.
Nos dias de hoje praticamente só no mundo do futebol se encontra este tratamento distanciado entre a pessoa que fala e aquela (mesma) de quem fala, como se fossem duas entidades distintas, e a primeira fosse o porta-voz da segunda. É como se a verdadeira ou mais importante identidade da pessoa que fala se limitasse à personagem que dá pontapés na bola. Fora disso, essa pessoa não é ninguém. Não existe. Como um rei que, se não reinar não é nada, um futebolista se não estiver a “futebolar” também não é ninguém. Ou o que é não tem qualquer importância.
Essa, aliás, uma das razões por que os futebolistas, cada vez mais, são como os canalizadores: fazem pela vidinha. O amor à camisola é como os outros amores, tem prazo. O problema é que o Miguel – não o que falou, mas o outro, o que existe – tem um contrato com o clube que lhe paga. Deu-lhe direitos, mas também (é a chatice dos contratos) obrigações. Agora se o Miguel se quer ir embora, não pode; ele não é ele, ele é o que três quiserem: ele, o contrato e a outra parte.
E o que é que diz a outra parte?
«O Soares Franco só fala do caso através do Director de Comunicação», diz o Soares Franco, que não é evidentemente o Soares Franco presidente uma vez que esse só fala através do porta-voz, mas o Soares Franco porta-voz, que apenas existe como uma projecção fantasmagórica do Soares Franco que preside.
Que pena os jogadores do Bayern não conhecerem a esquizofrenia lusitana. Se calhar tinham feito alinhar os seus respectivos porta-vozes. Se calhar o resultado até teria sido outro. (Disse ‘outro’, não disse oito’).
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