quinta-feira, 22 de setembro de 2005

Colunista Convidado, por José Manuel Marques


GATO ESCONDIDO COM «APITO» DE FORA

A escandaleira do «apito» continua a fascinar-nos. A última vez foi há dias, através dessa notícia bombástica no correio matutino dos «171 acusados», com nomes, fotografia e tudo.

Havia algo de tão postiço na notícia que logo se percebia que ela não poderia ser apenas aquilo que estava diante dos nossos olhos. E nem era preciso o Ministério Público logo a seguir vir (como veio) desmentir o inacreditável. Era óbvio que devia haver ali uma armadilha, uma marosca qualquer, uma intenção escondida. Estava à vista que aquilo não era uma simples notícia: era principalmente um coelho tirado fora da cartola em momento estudado.

Como um assassínio profissional por conta, a notícia disparada daquela maneira, só podia ser uma manobra de diversão executada por um profissional por conta. Ora, é aqui que se pergunta: por conta de quem? De que interesses?

O escriba que faz isto (sei lá quem é?) julga que é um jornalista. Se o jornalismo fosse isto melhor seria o suicídio. Dar-se-á ele conta de que andam verdadeiros jornalistas encostados às paredes para que não os associem a tais alarvices? É difícil encontrar exemplos de instrumentalização mais grosseira. Ao menos fizessem as coisas bem.

As cortinas de fumo na imprensa são como as teorias da conspiração na política. São a melhor forma de encobrir o essencial com o acessório, ocultar o real (incómodo) com o virtual (trapaceiro).

O futebol, na sua versão cacilheiro, acertou no «iceberg» do «apito dourado». Há sectores importantes do navio em risco de afundamento. É grave, mas já quase toda a gente afirmou que esta é uma excelente oportunidade para confirmar ou infirmar, de uma vez por todas, a ideia arreigada de que no futebol domina a corrupção. E a imprensa que também proclama a excelência dessa oportunidade, o que faz? Dá-nos música de «swing», entretém-nos no salão de baile, enquanto os ratos disfarçadamente vão fugindo do navio.

Há quem chame a isto jornalismo. Poder-se-ia chamar-lhe outra coisa: poluição informativa, por exemplo. Eu chamo-lhe ilusionismo, ou melhor – jorno-ilusionismo. E se substituir o «j» por «p» também não está mal.

«171 acusados»… e processo de acusação concluído antes das «autárquicas»!, assegurava a pseudo notícia. Ora, tenho para mim que é aqui que bate o ponto. Com as eleições autárquicas à porta a notícia (só pode ser!) insere-se na guerrilha dos chafarizes. È uma sarrafada traiçoeira (é um take lateral deslizante, como alguém diz) nas canelas de alguns hooligans que se preparam para ser (ou continuar sendo) Presidentes de Campanário.

Mas então, estamos perante a tal abominável promiscuidade que a imprensa deplora, não é assim? Mais do que isso, é promiscuidade tripartida, isto é, «tudo ao molho» - a própria imprensa inclusive.

Há muito que o futebol se tornou um dos esteios por excelência do funcionamento do Estado. Em boa lógica, as câmaras que «protegem» o futebol prestam um inestimável serviço público. As vitórias ajudam a «mobilizar» o País, aumentam a «auto estima» dos adeptos. Do Gondomarense depende a auto estima de Gondomar. Do Futebol Clube do Marco depende a auto estima de Marco de Canavezes… E assim sucessivamente. Claro que às vezes a lei leva uns ligeiros «torcegões». Mas, à pala dessa meritória obra, parece que o que todos fazem mesmo é assobiar para o lado. E assim é que Ferreira Torres, Fátima Felgueiras, Valentim Loureiro, e quejandos sejam uma espécie de heróis da pátria.

Por isso, (a favor deles ou contra eles, já não percebo nada) eis aí o futebol (através do «apito») a dar uma mãozinha à política. E, pelos vistos, há sempre em qualquer órgão de informação um jorno-ilusionista disposto a entrar no cambalacho.

Por que razão se deplora, então, a «promiscuidade» entre o Futebol e o Estado? As coisas são o que são. É escusado fingir.

O meu receio (e também o meu vaticínio), sabem qual é? É que a jogada, isto é, o cambalacho patente na notícia, se salde em benefício dos infractores. É que os ratos vão saindo do porão enquanto a imprensa toca «swing» na sala de baile. E um dia tudo se resumirá numa notícia breve em letras pequeninas, na página par: «arquivado por falta de provas».

Por isso digo:

Jorno-ilusionismo, não obrigado!

JMMA

5 comentários:

  1. É preciso juntar a esses aquele que não viu os 2 penalties a favor do Braguinha!!!

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  2. Uma Vergonha!

    Logo calhou a publicação desta nota coincidir com regresso a Portugal de Fátima Felgueiras. Não sei (como ainda ninguém sabe) se a senhora é culpada ou inocente. Isso não está aqui em causa. Certo é que tudo isto é uma vergonha...

    Vergonha para a Justiça, que passados dois anos e meio (!)da fuga para o Brasil, somados a não sei quantos mais desde que o caso começou a ser investigado, não tem nada para dizer sobre culpa ou inocência.

    Vergonha para a Democracia, cujo funcionamento em nada é dignificado pelos comportamentos descarados como os da Senhora Felgueiras, e não só. Acusada de 23 crimes (!) a senhora, numa democracia a sério, só tinha uma coisa a fazer: era retirar-se (já que não a prenderam) e exigir um julgamento justo e célere. Tudo o mais é folclore da pior espécie. Alguém, com um olho, que se julga rei, ignorando que há quem tenha dois.

    E vermos nós que tudo isto se passa com a complacência (ou conivência?) da Imprensa, onde raramente se vê alguém que ponha os pontos nos ii... e dê o nome aos bois!

    A propósito: Alguém sabe do foi feito do processo Pimenta Machado? Terá o esquecimento do caso alguma coisa a ver com o facto do procurador do DCIAP responsável pelo processo ter sido, simultâneamente, membro do Conselho de Justiça da FPF? Ou será apenas coincidência?

    Enfim, uma vergonha!

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  3. Portugal parece um país de brincadeirinha...

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  4. Como diz o meu amigo Geraldo (brasileiro): "cada Brasileiro tem direito a matar um gajo. Eu não não matei ninguém...". Qualquer dia esta máxima também se aplica cá em Portugal.

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  5. Afinal, se é verdade o que vem hoje no Público, sempre irá haver acusação no caso «Apito Dourado».

    Não se sabe é quando... Por ora, segundo afirmações atribuídas ao Procurador Geral, o processo estará congelado para não perturbar o decurso do processo eleitoral.

    Estou banzado!

    Eu já tinha deconfiado que a imparcialidade da Justiça - a Deusa de olhos vendados com a balança na mão - não passava dum conto de fadas. Mas agora (se é verdadeira a notícia do Público)é o sr. Procurador que no-lo vem demonstrar.

    Afinal a Deusa, por trás da venda disfarçadamente levantada, tem um olho à coca, a ver quem lá está para ser julgado.

    Se é político... Calma, pára aí... Temos que atender à agenda política, para não perturbar.

    Não perceberá o sr.Procurador que esta pseudo imparcialidade é afinal o mais desonesto dos parcialismos? Que se perturbação houver não é a culpa dela assacável à Justiça, mas aos actos e aos autores que terão de ser julgados? Que pior do que votar sobre o possível efeito de uma acusação judicial, é votar na ignorância dessa acusação, quando ela exista.

    Como é possível?!

    Será que um dia destes, ao prender o larápio com a mão no alheio, o polícia está sujeito a ouvir da parte deste: - «Homem, tenha lá calma. Não me perturbe, qu'eu agora vou dormir!»

    República das bananas? Isto é mas é a República DOS bananas.

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