domingo, 28 de dezembro de 2008

Toques de Cabeça

COMO SE FAZ UM BENFIQUISTA
Por JMMA

É difícil explicar isto. Julga-se que tal como se nasce crente numa religião, também se nasce adepto dum clube. Durante muito tempo, eu próprio pensei que tinha nascido benfiquista. Não nasci em Benfica, nem no Benfica, mas julgava eu que tinha nascido do Benfica. Há até quem vá ao ponto de afirmar que todos nascemos benfiquistas só que alguns degeneram. Exagero. Como se o benfiquismo fosse uma espécie de programação genética por defeito. Quero-vos dizer que pus em causa essa teoria quando um dia o Luis – tinha o craque uns cinco anos – me chegou a casa a dizer que era do Desportivo de Elvas.

Se o caro leitor é do Sporting, ou do F.C. Porto, e se os seus filhos são todos do Benfica, tem toda a minha compreensão. Pode crer que acho que você é uma pessoa perfeitamente normal. O facto dos seus filhos serem adeptos do «Glorioso», enquanto você perde tempo a idolatrar os «Leões» ou os «Dragões», mostra bem que é uma pessoa paciente, compreensiva e democrática. Mas o contrário já não me é tão fácil de aceitar.

Nascemos lá agora benfiquistas, portistas ou sportinguistas! Ser dum clube é uma aquisição civilizacional. E os primeiros responsáveis pela civilização dos filhos são os pais. Só que à medida que os filhos crescem, nós, os pais, vemo-nos por vezes perante situações (a escolha de clube é uma delas) que não podemos controlar como gostaríamos. Quer dizer, poder podíamos, mas actualmente a coação psicológica e a palmada sobre as crianças, mesmo as mais rebeldes, não são lá muito bem vistas. De maneira que, perante este cenário de impotência, resta-nos juntar as mãos e rezar a Deus para que não nos saia na rifa um filho sportinguista ou portista, entre outras desgraças possíveis.

– Do Desportivo de Elvas, Luis? Como assim? Se não nasceste em Elvas, nunca fostes a Elvas e detestas azeitonas? Tás mas é maluco!

A sorte é que por essa altura estávamos a começar a fase das jogatanas renhidas: - «Muda aos cinco e acaba aos dez». Erguiam-se balizas e alternávamos um com o outro o papel de guarda-redes e o de ponta de lança. É então que o Luis começa a perceber, muito graças também à transmissão dos jogos pela televisão, que para se jogar à bola é preciso um adversário. E como o adversário éramos nós, se cometêssemos o erro de dizer que éramos do Benfica, ele dizia logo ser do Sporting. É tão básico quanto isto.

A nós não nos restava, pois, outra alternativa senão engolir em seco e fingir, por momentos, que éramos do Sporting ou do Porto, conduzindo-o à escolha certa do clube: o Benfica. E não podíamos nunca ser tentados a ganhar à criança, de forma a consolidar nela essa dupla e importante noção: (1) de que o Benfica é o maior; (2) os «lagartos» e os «dragões» não prestam e não sabem jogar.

Como por certo mais pessoas têm seguido a mesma pedagogia, julgo que está aí a razão por que, em Portugal, o Anti (anti-Sporting, anti-Porto, anti-Benfica) é o maior clube nacional – e que o seja é coisa que só pode trazer ainda mais grandeza ao nosso clube. Eu, pecador, me confesso.

Contudo, foi uma técnica infalível que me rendeu dois filhos benfiquistas. Um deles (e não é por fazer hoje anos que o digo) é até capaz de defender, proteger, sofrer e desculpar o Glorioso – muito mais do que eu próprio consigo. No entanto, esta técnica só resulta em crianças de tenra idade. Tentei aplicá-la a cunhados, genros e compadres mas sem resultados satisfatórios.

3 comentários:

  1. PARABÉNS AO BINCANCA ZÉ LUIS!!!!

    Para o ano é "capicua".... :)

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  2. Eu diria que a técnica apenas resulta em descendência directa... e nem a toda!!!

    Eu genro me confesso!!

    ;-)

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  3. Anónimo6/1/09 17:23

    can u leave ur phone number to me???

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