LEÃO: Coração, Razão, ou Ficção? (Por JMMA)

Sou dos que cultivam, nas horas vagas, este ramo do conhecimento mais ou menos científico chamado futebol e que às vezes vão à bola para apreciar os jogadores e os jogos, especialmente do seu clube. Interessam-me pouco os protagonistas de bastidor e menos ainda os jogos fora das quatro linhas. Mas se o coração tem razões que a razão não entende, verdade é que também às vezes a razão tem razões que o estômago não aguenta. É o que sucede nesta cegada em quatro actos, passada fora-de-jogo.

1º Acto:
Outubro/2005, Sporting afunda-se na crise e na tabela.
Cooptado estatutariamente após renúncia do «violentado» D. Cunha, S. Franco assume a presidência leonina com carácter de interinidade e para dirigir o clube até às próximas eleições, às quais não seria concorrente (diz ele).

2º Acto:
Janeiro/2006, dobrar da 1ª volta, Sporting afortunado dá sinais de recuperação.
Em entrevista a uma estação televisiva, S. Franco dá o dito pelo não dito e admite vir a candidatar-se. Afirma ter «um projecto para apresentar aos sócios» e, já que não surgiram alternativas, diz-se disposto a avançar. (Não percebo: se não havia eleições como é que podia ter havido alternativas! Mas, enfim, adiante).

3º Acto:
Março, 27ª jornada, perante um Benfica de ciclos e um Braga em perda, Sporting de moral em alta alcança o 2º lugar e mostra veleidades de destronar o Porto.

O Presidente leonino apresenta o seu «projecto» aos sócios.

Perante a imprevista rejeição do mesmo, S. Franco demite-se obrigando à marcação antecipada de eleições. Derrotado nas meias-finais da Taça frente ao FCP, o demissionário jura a pés juntos e pela sua honra que não será candidato às próximas eleições.

4º Acto:
Abril (13), Sporting afastado do título mas satisfeito com um 2º lugar permitido por sucessivas abébias do Benfica.

Depois do tabu da praxe e das encenações do género «não me empurrem», S. Franco anuncia a candidatura. Justificação: «o coração tem razões que a razão não explica».

Quer dizer:

Primeiro, diz-se apenas presidente provisório até novas eleições e que não será candidato. Entretanto, diz que tem «um projecto» e pode ser candidato se não houver alternativas. A seguir, o «projecto» é rejeitado e (coerentemente) finge dar lugar a outros. Por fim, apesar dos outros projectos e protagonistas em campo, aqui estou eu com justa causa. Qual? Não vês que «é o coração que manda», estúpido!

Com gente assim, que venha o Diabo e escolha. Ou antes, os sportinguistas que decidam… Porque talvez nem o Diabo não se queira meter nisso.

E entretanto, se S. Franco concorrer (“se”, porque vá lá saber quando é o que o homem faz o que diz ou diz o que faz) e ganhar, pelo sim pelo não, convém agendar mentalmente novas eleições para breve.