quinta-feira, 25 de janeiro de 2007

Colunista Convidado Residente, por JMMA

JARDEL e o Cinderella Man

Há dias fiquei preso a uma notícia que li no jornal. Debaixo de um título discreto, meia dúzia de linhas diziam, Jardel no Chipre, jogador do não-sei-quê Famagusta.

Nunca fui o que se pode dizer um grande admirador de Jardel.

(E isso, note-se, nada tem a ver com o facto de ele ter sido o ‘carrasco’ em alguns dos meus desgostos; são ‘águias’ passadas.)

Mas reconheço-lhe os feitos. São um facto e contra factos, neste caso contra ‘feitos’ não há argumentos. Porém, para mim (e julgo que não só), na técnica de bola Jardel sempre se me afigurou um tosco. Por isso, independentemente de reconhecer a sua intrigante e (às vezes) ‘detestável’ eficácia, muitas vezes,

(simples curiosidade, e sem ponta de ironia)

me colocava esta questão: o que seria Jardel… se soubesse jogar à bola?

Uma interrogação sem resposta e, evidentemente, já ultrapassada no tempo.
Infelizmente, atendendo ao desenrolar da carreira do jogador nos últimos anos, torna-se claro que a questão agora é muito mais funda e a pergunta que se impõe fazer passou a ser outra. Isto é, o que seria Jardel… (ironia do destino) se tivesse cabeça?

Apesar das óbvias evidências, confesso que ainda admiti que Aveiro fosse a viragem. Que diabo! (pensava eu) o Cinderella Man conseguiu. Lembram-se do filme? Braddock, uma lenda no mundo do boxe, foi obrigado a abandonar os ringues após uma série de desaires. Só que (e aqui é que o paralelismo se vai) quando viu realizado o seu sonho de regressar aos ringues, o campeão vai à luta, dá no duro e consegue. Recupera a família, reconquista os adeptos e, para alegria de todos, volta a ser o grande, o verdadeiro Cinderella Man.

Por que não haverias tu de conseguir também, Jardel?

Confesso que a esperança (bom, esperança não era, crença tampouco, apenas vontade de acreditar) que o goleador seria capaz de voltar ao pódio se me desvaneceu na Luz, à 9ª jornada, aquando do Benfica - 3, Beira-Mar - 0, em que Jardel foi uma aposta falhada para os últimos 20 minutos. Ao vê-lo entrar em campo,

(confrangeram-me os assobios)

barriga paquidérmica, condição física manifestamente fora do prazo de validade, e depois pelo que (não) jogou, fiquei logo com a ideia de que a recuperação corria grande risco de ser um flop, Jardel afinal não era o Cinderella Man.

E pronto, aí está: título discreto, seis linhas de notícia: Chipre, não-sei-quê Famagusta, cinco meses de contrato e depois logo se vê.

Com este modesto contrato de ‘inverno’ pondo termo a uma episódica e nebulosa passagem à Beira-Mar do nosso futebol, Jardel confirma-se como estrela cadente: ex-goleador, ex-ídolo, ex-matador, ex-quase seleccionável, ex-humilde, ex-marido, ex-tudo, ex, ex, ex… Eis Jardel, um homem que antecipou o sonho da sua vida. Ser um ‘ex’ do melhor que há!

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