MAIO, MÊS DE JESÚS
Em meados de 1969, foi inaugurado um grande salão de festas para casamentos e baptizados, na serra espanhola de Guadarrama. Em pleno banquete de inauguração, o piso abateu, o tecto desabou e os convidados ficaram sepultados sob os escombros. Houve 58 mortos. A obra tinha sido realizada sem licença, sem projecto, e sem técnico responsável.
O proprietário e construtor do efémero edifício, Jesús Gil y Gil, foi preso. Passou 2 anos e três meses atrás das grades, quinze dias por cada morto, até que foi indultado. Mal saiu da cadeia, Jesús regressou aos seus negócios e continuou a servir o povo no ramo da construção.
Já próspero, tornou-se o principal accionista do clube de futebol Atlético de Madrid, apenas com seis anos de sócio. Em 1987, chega à presidência através de eleições, às quais se apresentou com o jocker Paulo Futre (para a época, a maior transferência do futebol português).
Graças ao futebol, que o converteu numa personagem mediática e lhe deu popularidade, Jesús pôde abrir caminho para a sua carreira política. Em 1991, foi eleito presidente da Câmara de Marbella com a maior votação de Espanha nessas eleições.
Mas a casa – isto é, o seu grande salão de festas autárquico e desportivo – novamente vem a baixo.
Em 1999, por ordem do tribunal, Jesus é afastado da presidência do clube, sendo substituído no cargo por um administrador judicial. Retoma a presidência, em Abril de 2000, sob rigorosa vigilância e debaixo de acusação judicial por apropriação ilícita de capitais. Algumas semanas após o regresso, o caos desportivo consuma-se: os colchoneros descem à segunda divisão.
Em 2002 foi condenado a 28 anos de «incapacitação» e seis meses de prisão por quatro delitos, que o levaram a ter de abandonar a Câmara de Marbella. A vigarice, que ficou conhecida como o «Caso das camisetas», envolveu o desvio avultado de fundos municipais a favor do Atlético, além de outras práticas de administração dolosa, levadas a efeito durante os anos de 1991 a 1995.
Nesta 4ª-Feira em que escrevo (14/5), completam-se exactamente 4 anos sobre a morte deste lendário «génio da bola». Morte, ainda assim, duvidosa, já que rumores veiculados por alguma imprensa espanhola à data do desaparecimento do ‘caudillo’, chegaram a dá-lo como refugiado na América Latina, não passando a sua própria morte de mera encenação para escapar às responsabilidades penais.
Facto é que, depois morto (se morto está), o Tribunal Supremo ainda declarou o defunto Jesús culpado de apropriação indevida do Club Atlético de Madrid, e fraude ao clube por simulação de contratos.
Ainda que perdendo no campo desportivo com demasiada frequência, o Atlético foi, até à sua morte, a base do seu poder e do seu prestígio. Poder e prestígio só possíveis de sustentar porque a ‘massa adepta’ assim o quis ou foi levada a querer. Como de costume, relativizou, consentiu, apoiou. A questão que se põe é esta: Porquê?
Só encontro uma explicação. Está contida na resposta que J.F. Kenedy deu uma vez, quando foi interrogado sobre a sua relutância em substituir Edgar Hoover como director do FBI. Disse ele: «Não se pode despedir Deus».
Em meados de 1969, foi inaugurado um grande salão de festas para casamentos e baptizados, na serra espanhola de Guadarrama. Em pleno banquete de inauguração, o piso abateu, o tecto desabou e os convidados ficaram sepultados sob os escombros. Houve 58 mortos. A obra tinha sido realizada sem licença, sem projecto, e sem técnico responsável.
O proprietário e construtor do efémero edifício, Jesús Gil y Gil, foi preso. Passou 2 anos e três meses atrás das grades, quinze dias por cada morto, até que foi indultado. Mal saiu da cadeia, Jesús regressou aos seus negócios e continuou a servir o povo no ramo da construção.
Já próspero, tornou-se o principal accionista do clube de futebol Atlético de Madrid, apenas com seis anos de sócio. Em 1987, chega à presidência através de eleições, às quais se apresentou com o jocker Paulo Futre (para a época, a maior transferência do futebol português).
Graças ao futebol, que o converteu numa personagem mediática e lhe deu popularidade, Jesús pôde abrir caminho para a sua carreira política. Em 1991, foi eleito presidente da Câmara de Marbella com a maior votação de Espanha nessas eleições.
Mas a casa – isto é, o seu grande salão de festas autárquico e desportivo – novamente vem a baixo.
Em 1999, por ordem do tribunal, Jesus é afastado da presidência do clube, sendo substituído no cargo por um administrador judicial. Retoma a presidência, em Abril de 2000, sob rigorosa vigilância e debaixo de acusação judicial por apropriação ilícita de capitais. Algumas semanas após o regresso, o caos desportivo consuma-se: os colchoneros descem à segunda divisão.
Em 2002 foi condenado a 28 anos de «incapacitação» e seis meses de prisão por quatro delitos, que o levaram a ter de abandonar a Câmara de Marbella. A vigarice, que ficou conhecida como o «Caso das camisetas», envolveu o desvio avultado de fundos municipais a favor do Atlético, além de outras práticas de administração dolosa, levadas a efeito durante os anos de 1991 a 1995.
Nesta 4ª-Feira em que escrevo (14/5), completam-se exactamente 4 anos sobre a morte deste lendário «génio da bola». Morte, ainda assim, duvidosa, já que rumores veiculados por alguma imprensa espanhola à data do desaparecimento do ‘caudillo’, chegaram a dá-lo como refugiado na América Latina, não passando a sua própria morte de mera encenação para escapar às responsabilidades penais.
Facto é que, depois morto (se morto está), o Tribunal Supremo ainda declarou o defunto Jesús culpado de apropriação indevida do Club Atlético de Madrid, e fraude ao clube por simulação de contratos.
Ainda que perdendo no campo desportivo com demasiada frequência, o Atlético foi, até à sua morte, a base do seu poder e do seu prestígio. Poder e prestígio só possíveis de sustentar porque a ‘massa adepta’ assim o quis ou foi levada a querer. Como de costume, relativizou, consentiu, apoiou. A questão que se põe é esta: Porquê?
Só encontro uma explicação. Está contida na resposta que J.F. Kenedy deu uma vez, quando foi interrogado sobre a sua relutância em substituir Edgar Hoover como director do FBI. Disse ele: «Não se pode despedir Deus».
Acabo de saber que um deputado (não interessa de que partido) criticou essa aberração que foi o jantar dos deputados do FC Porto com P. Costa, realizado na passada 4ª-Feira, num restaurante do Parlamento.
ResponderEliminarEu também: corroboro a crítica e corroboro a aberração.
O deputado lamentou o local escolhido para aquilo que considerou um «beija-mão» ao líder dos dragões.
Eu também: lamento o local e lamento o momento.
Cada um é livre de jantar com quem quiser.
Mas não na Assemleia da República.
Mas não com alguém que está acusado de crimes na justiça civil, por desrespeito a uma lei aprovada pelos próprios deputados.
Também é deste 'chico-espertismo' que se fala quando se fala da podre promiscuidade entre a política e o futebol.
Por estas e por outras é que 'isto' (o futebol, a justiça, nós todos, em geral, na nossa condição de país atrasado)teima em não sair do lodaçal. Como há-de sair do chafurdo, se aqueles que deviam ser os nossos melhores, se prestam e se dão ao luxo de gastar o tempo em exercícios de bajulação e 'lavagem'.
Já não falo da travagem do crescimento económico, nem do aumento disparatado dos combustíveis, nem das listas de espera dos hospitais, nem, nem, nem... tanta e tanta coisa que nos devia responsabilizar a todos.
Falo (apenas!) da Vanessa. Esta semana, (apenas!) 5º título europeu de trialto, consecutivo. E com quem nem (apenas!) um único daqueles senhores bajuladores jamais se lembrou de oferecer um jantar. Melhor assim. Manifestamente, não a merecem.
Como alguém observou:
No futebol, os dirigentes que construiram o 'sistema' dominante há vinte anos representam a completa antítese de tudo o que a Vanessa representa. Ela é um símbolo de verdade, de ética, de autenticidade. Ela é fora de série. Eles não! São apenas de uma série há muito descontinuada.
Absolutamente!, digo eu.
Tudo que penso está escrito nestas linhas...
ResponderEliminarÉ indigno e vergonhoso... mas ao mesmo tempo revelador de como funciona o nosso país.
Dá-se mérito a quem tem mais poder, e não a quem tem mais qualidade (desportiva e moral).
Para que a frase de Kennedy fosse 100% aplicável ao que se passa em Portugal, bastava substituir a palavra Deus por Papa.
Triste, muiro triste...