segunda-feira, 19 de maio de 2008

A Festa do Jamor, por Joaquim Claro


Tarde de festa, como deve ser sempre a Final da prova Rainha do futebol Português.

O folclore inerente a este dia dominava por completo a envolvente do Estádio Nacional – bifanas, cerveja a rodos, o belo do garrafão de 5 Litros, as cores de guerra, famílias inteiras em piqueniques, os gritos de apoio. A tarde de Final Taça deveria ser interpretada (estudada) como um indicador da realidade sociocultural do País – quer se goste ou não!

Apesar das autoridades tentarem fazer, antecipadamente, uma divisão das duas facções – SCP saída Caxias e FCP saída Estádio / Cruz-Quebrada, para quem fazia a A5 no sentido Cascais-Lisboa – nota especial para o à vontade com que se circulava, independentemente da preferência clubista demonstrada (é certo que não me cruzei com os SuperDragões…).

Topo Norte para nós. Topo Sul para eles. Bancada Central com uma mistura mas seguindo esta tendência.

Cerca de 30’’ antes do início da partida, a equipa do Sporting deposita uma coroa de flores junto do Topo Norte em homenagem a Rui Mendes (para quem não se lembra, barbaramente assassinado por um energúmeno daqueles que só agem em matilha).

As cheerleaders, sendo uma importação dos States, acabam por se tornar num espectáculo visual bastante agradável…

A Portuguesa, cantada em uníssono continua a ser qualquer coisa de inexplicável!

O Sporting apresentou o seu modelo de jogo habitual de quatro elementos na defesa (Abel, Tonel, Polga e Grimi), o meio-campo em losango (Veloso, Moutinho, Izmailov e Romagnoli) e dois avançados (Yannick e Derlei).

A equipa entrou bem assumindo as despesas do jogo e com o adversário numa postura mais expectante. Até as 30’’ dominámos por completo com o Derlei a falhar, por duas vezes em 15’’, na cara de Nuno. Dos 30’’ até cerca dos 40’’, perdemos o domínio do jogo e passámos por alguns amargos de boca na defesa. Só nos conseguimos reequilibrar após a jogada onde é anulado o golo do Romagnoli.

Mais cheerleaders ao intervalo… ;-)

Na segunda metade nunca existiu um claro domínio da nossa parte mas, em contrapartida, também nunca fomos dominados por completo. O jogo ficou, ligeiramente, mais quezilento pois os jogadores, ao perceberem que o árbitro estava a “deixar jogar”, optaram por começar a “esticar a corda”.
Quando ficámos em superioridade numérica o Paulo Bento demorou a mexer na equipa e a substituição que fez foi “receosa” (ou “respeitosa”…) pois ao trocar o exausto Izmailov (bom jogo, principalmente em tarefas defensivas) pelo Pereirinha (o estádio inteiro esperava a entrada do Vucekvic) o objectivo foi o de manter o equilíbrio defensivo a meio-campo mas com um homem mais disponível, fisicamente, para tarefas ofensivas. O objectivo foi conseguido mas o adversário não parecia estar reduzido a dez… Até chegarmos aos 90’’ foi nosso mas com o adversário sempre a espreitar o contra-ataque, principalmente, através dos defesas laterais.

No início do prolongamento o Paulo Bento resolve arriscar mais e desmonta o modelo habitual. Entra o Tiuí e sai o Abel. O Tonel fica encarregue de fechar mais à direita e o Pereirinha e responsável pela compensação efectiva, i. é, lateral direito quando defendemos e médio-interior direito quando atacamos. Os primeiros 10’’/15’’ foram, da nossa parte, maus demais! A dificuldade em nos adaptarmos ao “novo desenho” foi, por demais, notória e o adversário em contra-ataque, não facturou por mero acaso.
A primeira jogada, digna de nota, da 2ª prolongamento é uma excelente iniciativa sobre o lado esquerdo, do Yannick e assim estava dado o mote. A 5’’ do fim o Tiuí consegue descobrir o caminho… O remate sai enrolado, bate no corpo de um defesa e trai o Nuno… Estava feito o primeiro!!
Confesso que por esta altura e com o adversário reduzido a 10, ainda não conseguia descomprimir da tensão acumulada.
O Jesualdo fez entrar o Tarik (por quem os respectivos adeptos suspiravam desde o início) e o Bruno Alves passa para ponta-de-lança. Por esta altura já não havia táctica que resistisse e o coração e força anímica, comandavam as operações. Nota negativa para alguns “maus-fígados” que se revelaram neste período (tendo o Bruno Alves como expoente máximo). O Paulo Bento faz entrar o Gladstone para o lugar do Derlei, de modo a suster este último impulso do adversário. Ora, numa jogada de contra-ataque conduzida pelo Romagnoli, este desmarca o Yannick na esquerda que de trivela cruza (aquilo não é um remate mas sim um cruzamento) para a área onde um defesa do Porto não consegue aliviar, fazendo com que a bola ganha altitude, daqui o Tiuí “saca” um remate de moinho, indefensável para o desamparado Nuno.

A seguir, foi a festa…

Notas finais:

- No onze inicial, o Sporting Clube de Portugal apresentou 4 elementos que são “produto” da nossa escola (Rui Patrício, Miguel Veloso, João Moutinho e Yannick Djaló) mais um suplente utilizado com a mesma origem (Bruno Pereirinha)!!
- O Derlei trabalha muito durante todo o jogo! As suposições não são passíveis de serem contabilizadas agora, lamento claramente a impossibilidade de, durante a época que agora termina, não nos ter sido possível contar com a dupla Liedson – Derlei.
- Sendo um lugar comum de inegável veracidade a afirmação de que os bons jogadores fazem falta a qualquer equipa, é com agrado que noto que a ausência do Liedson não foi sentida durante esta partida!
- A vitória do Sporting é devida, em primeiro lugar, ao excelente trabalho desenvolvido pelo Paulo Bento.

1 comentário:

  1. Também acho que seria interessante esse tal estudo sociocultural em torno do «folclore» da Taça. Faz parte da festa. Ou melhor, ele é a própria festa. Eu sei, já lá estive. O futebol nesse dia é o feliz pretexto.


    «Bifanas, cerveja a rodos, o belo do garrafão de 5 Litros, as cores de guerra, famílias inteiras em piqueniques, os gritos de apoio.» Esqueceu-se da música pimba a rebentar por todos os lados em altos berros, na proporção da alegria esfusiante dos 'peregrinos'.

    Realidade sociocultural do País – «quer se goste ou não!», diz você. Quem não gosta?

    A isso que refere, acrescente-lhe o fado, as velhas com buço vestidas de preto sentadas à soleira das portas, as pessoas que ainda andam de burro... é a nossa realidade, sim. Se não nos orgulharmos dela temos pelo menos o dever de a assumir.

    O que não pode ser tolerado na nossa realidade (mas também a justificar estudo)são as excrescências que agridem adeptos da equipa adversária só pela ofensa intolerável de estarem felizes com o seu clube. Aconteceu a quatro sportinguistas na estação de serviço de Leiria quando regressavam pacatamente a suas casas.

    Pergunto: será que esses energúmenos perceberam alguma coisa do que se passou 30' antes do jogo começar, no topo norte do estádio?

    Gostava de saber. Talvez algum estudo qualquer dia nos esclareça.

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