domingo, 14 de fevereiro de 2010

Entrevista de João Manuel Pinto ao Jornal "i"

Está bem expressa aqui a cultura do FCP.


Então e no FC Porto como era ver os jogos com o Benfica e assistir ao clássico Paulinho Santos-João Vieira Pinto?

Não era nada fácil. O Paulinho era um jogador muito violento, queria ganhar tudo. Eu ria-me com aquelas coisas. Não aceitava, mas pronto - os clássicos são uma guerra. O Paulinho detestava o João. Perdão. O Paulinho detestava o Benfica e detestava o João por este ser o melhor jogador do Benfica na altura. Ele ia para a guerra com o objectivo bem definido: dar no João Pinto. Transformava-se noutra pessoa. E ninguém lhe podia dizer nada para o tentar acalmar porque senão ele ainda ficava chateado connosco!


Mas o João Manuel também teve os seus momentos. Como aquele com o João Vieira Pinto, quando um estava no Benfica e outro no Sporting.

Assumi a culpa. São coisas que não se deve fazer. Cuspi-lhe na cara e não o devia ter feito. Mas acredite que fiquei muito chateado com o João no último dérbi em casa, no velho estádio da Luz (2-2, 15 de Dezembro de 2001), quando ele disse aos jornais que eu devia ter sido expulso por ter dado muita porrada. O que é mentira, é só ver o vídeo! E eu disse para mim: "Para a próxima, cá te espero!" No jogo de Alvalade [1-1, 7 de Maio de 2002] andei o tempo todo à procura dele e não consegui ter nenhum contacto físico com ele... O treinador [Bölöni] pô-lo nas linhas e eu nunca consegui apanhá-lo a jeito para lhe dar uma fruta e lhe dizer ao ouvido algumas que não ficaria bem dizer aqui. Depois cuspi-lhe na cara e não o devia ter feito. No final do jogo tentaram apanhar-me, mas nós ficámos a bater palmas ao público e tal. Nunca mais falei com o João, nem ele tem nada de que falar comigo.


Lembra-se do caso Weah?

Havia sempre alguns empurrões aqui e ali. Mas só estive realmente envolvido numa rixa horrível no célebre FC Porto-Milan [20 de Novembro de 1996, 1-1] nas Antas. Foi violento. Aquilo vinha de trás. O Jorge tinha pisado o Weah lá em Milão [3-2, para o FC Porto]. Todos vieram dizer que o Jorge tinha chamado "preto" ao Weah, mas conhecendo o Bicho não acredito nisso. O que aconteceu lá em Milão foi que o Jorge lhe pisou o dedo. E isso toda a gente sabe que foi de propósito. O Jorge era muito frio e físico, e o Weah teve o azar de ter marcado o golo e ter ficado no chão. O Jorge saltou e pisou-lhe o dedo, e o dedo ficou muito feio [risos]. No túnel das Antas foi tudo muito rápido e planeado pelos italianos. O treinador deles [Oscar Tabarez, uruguaio] fez um sinal ao Rossi para ir rapidamente para o túnel - e ele era grande, pá, nunca vi um guarda-redes tão grande como aquele homem! - e o Weah logo a seguir. O Jorge, inocente, não reparou. E quando olha para trás, o Weah manda-lhe uma cabeçada. Só vi o Jorge voar dois metros no túnel. E depois foi o que foi. Andámos todos ali à porrada.

13 comentários:

  1. Se mais não for, a nota que aqui antecede a cópia da entrevista, é a prova de que há doenças para as quais jamais será encontrada qualquer cura.
    Em tais cirunstâncias, como em todas as demais que lhes sejam análogas, nada mais resta do que ter pena, muita pena mesmo, do doente que assim padece.

    Já agora:
    a cultura do Benfica, do Sporting e de todos os outros clubes, está enraízada em cada um dos seus adeptos, é história, é mística, é paixão. Faz-se em cada dia, em cada golo, em cada festejo, em cada lágrima ou sorriso.
    Essa é também a cultura do FCP.

    Já a falta de cultura (desportiva e não só), faz falar do que se desconhece, do que se não sabe, do que se não sente, com a arrogância e prepotência próprias dos fracos.

    Tenhamos pena, pois, dos moribundos a quem a doença colheu a sensatez e tolheu o pensamento.
    Que Deus lhes valha, na Sua imensa misericórdia.

    P.S.
    Quanto à entrevista, nada a dizer sobre o senhor; um pouco ressabiado, sério e digno (como se vê, ou lê). Em boa hora deixou o meu clube, buscando mais altos vôos, num clube que melhor se adaptasse ao seu futebol e categoria (humana, essencialmente)!!!

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  2. JCR, por muito que custe a alguns portistas (para outros nem tanto) é a realidade.

    O ano passado Ricardo Costa (ex-jogador do FCP do Wolfsburgo) deu uma entrevista em tudo semelhante a esta. Reiterou a ideia que os jogadores do FCP têm raiva e detestam o SLB.

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  3. Luís Marques, esta é antes a realidade em que você acredita, como muitos outros. Não legitima, porém, que a pretenda assumir como verdade.
    Você apela agora à "raiva" que os jogadores do FCP têm do SLB, e alega inclusive que detestam o SLB.
    Antes aludia à cultura do FCP.
    Em qualquer das circunstâncias, parece-me que, ainda que exercendo o seu direito à opinião, fala do que desconhece em absoluto.
    É pena que assim seja, como pena é que assim acabe por espelhar em si aquilo de que acusa o FCP e os seus jogadores.
    Acredite que o FCP, aqueles que o servem e os que o apoiam, têm mais e melhor em que pensar e com o que se ocupar.
    O SLB não tem sido sequer e de resto (excepção feita à época em curso, ainda assim conjuntamente com o SCB), o principal adversário do FCP.

    Liberte-se destes sofismas que, não cuidando, ainda o levarão a regozijar-se mais com as derrotas alheias do que com as próprias victórias, a viver mais o dia-a-dia do clube adversário do que o do seu.
    Note que também isto não faz parte da cultura do FCP.

    Fazendo uso do seu raciocínio, e por muito que lhe possa custar, esta sim é a realidade.

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  4. Pronto. Cada um fica com a sua realidade.

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  5. O tema parece-me interessante. O seu lançamento no blogue a partir de um elemento factual, neste caso uma entrevista, também me parece um bom ponto de partida. Devo dizer também que achava interessante um bom contraditório portista sobre a matéria. Sucede que, nos comentários até agora feitos, não vi invocar argumentos. Apenas sentimentos. Embora sem desapreço, confesso que acho pouco.

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  6. Caro JMMA, contraditar o quê? Porquê?

    Expressões como:

    "Eu ria-me com aquelas coisas. Não aceitava, mas pronto - os clássicos são uma guerra."

    "Ele ia para a guerra com o objectivo bem definido: dar no João Pinto."

    "E eu disse para mim: "Para a próxima, cá te espero!" No jogo de Alvalade [1-1, 7 de Maio de 2002] andei o tempo todo à procura dele e não consegui ter nenhum contacto físico com ele... O treinador [Bölöni] pô-lo nas linhas e eu nunca consegui apanhá-lo a jeito para lhe dar uma fruta e lhe dizer ao ouvido algumas que não ficaria bem dizer aqui. Depois cuspi-lhe na cara e não o devia ter feito."

    Que contraditório (e porquê portista) espera a este discurso, a esta linguagem?

    O segundo parágrafo remonta, de resto, ao momento em que o jogador representava o SLB (por certo um lapso no momento da transcrição de apenas PARTE da entrevista dada ao 'i').

    Perdoe-me dizê-lo, mas o tema não me parece de todo interessante.
    Interessante e preocupante é, para mim, e reitero, que alguém se augure estabelecer juízos sobre os outros, generalizando, sem acautelar os telhados de vidro (porque os há em todo o lado) e, principalmente, resumindo a matéria sobre a qual versa o artigo (não circunscrito, repito, ao FCP) como sendo "a cultura do FCP".

    Daí os sentimentos, de quem não aceita que se tome o todo pela parte, seja ela qual for, tenha ela a cor que tiver, e de quem não concebe esta espécie de inocência ingénua, que se não cuidada facilmente roça o ridículo.

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  7. Okay, caro JCR, compreendo a sua repulsa. Realmente, concordo consigo: o tema fede. Não por se tratar de um trânsfuga do Porto, espero. Mas pela miséria, em si, de uma prática (instituída?) realmente de má memória.

    Prática instituída, ou institucional? Só no FCP?... Mais ou menos no FCP?... Já erradicada?...

    Aconteceu (sim, tomemos o testemunho por bom; ou não?...), aconteceu com um desertor. Mas se tivesse acontecido hoje, ou acontecer amanhã com um dos nossos queridos ídolos no activo, faltaria quem o defendesse?...

    (Nota: As questões interrogadas não são insinuações, nem eu tenho resposta para elas. São apenas pistas de reflexão. Óbvio que o tema fede. Óbvio que podemos pôr a mão no nariz e acelerar o passo. Mas também podemos sentar-nos à frente de um café quente e reflectir utilmente. Mesmo tratando-se de um dejecto, como de facto é. Mas disso a culpa não é nossa).

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  8. Caro JMMA, compreendo o seu apelo à reflexão, e permito-me até vislumbrá-lo extendido a outras questões, quiça bem mais marcantes e relevantes.

    Sinto, todavia, que não conseguirá (conseguiremos, permita-me) sentar muitos 'amigos' à nossa mesa de café, pelo menos enquanto se patrocinar o estado de sítio, nomeadamente através de opiniões e juízos que, mau grado legítimos, se constituem grosso modo gratuitos, oportunistas, ofensivos e incendiários.

    O constante marcar posições pelo reabrir de feridas, senão mesmo agravá-las, este permanente apontar de dedo ao outro, sem reservas, contemplações ou cuidados, roçando a espaços - como referi anteriormente - o rídículo e a falta de vergonha (ou, pelo menos, de respeito), colide obviamente com os intentos de quem vive mal com o 'fedor' de que fala.
    E como bem sabe, não cabe aqui espaço para puros e/ou inocentes.

    Estou certo de que a prática não está ainda, como questiona, erradicada, como por certo jamais estará.
    Basta que todos olhemos em redor, não descurando porém e também a nossa casa.

    Direi, por fim, ser esta - a meu ver - a 'incultura' que grassou e grassa ainda no futebol português.

    A cultura dos nossos clubes está e estará sempre muito para além do que estes relatos e relatados encerram.

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  9. Muito bem esgalhado JCR.
    Bateu exactamente no ponto destes copys.

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  10. Sim, percebi tudo.

    Resumindo e concluindo... Não vemos as coisas como são, vemos a coisas como somos.

    Sem surpresa.

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  11. Caro JMMA,

    Não! Afinal não percebeu nada!

    É pena.

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  12. «A cultura dos nossos clubes está e estará sempre muito para além do que estes relatos e relatados encerram.». É, são os nossos clubes e são as vacas sagradas na Índia. Ambos igualmente para além...

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  13. Espero que não aguarde, também aqui, "um bom contraditório portista".

    Definitivamente, não percebeu nada, o que - reitero - é pena.

    Com surpresa.

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