quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

Toques de Cabeça

SOBRE A ALQUIMIA DA ARBITRAGEM E OS DEDOS DA NEREIDA
Por JMMA



Domingo, depois de ter assistido pela TV ao jogo do Braga, pedi para só ser incomodado em casos de extrema urgência como, por exemplo, a hora da comida. Decidi retirar-me do mundo e só ressurgir na quarta-feira de cinzas. Durante dois dias e duas noites, enquanto o povo se entregava alegremente aos tradicionais folguedos de Momo – eu estive recolhido em mim mesmo, repensando as coisas. Foi uma longa, mas finalmente proveitosa viagem interior, da qual voltei como uma nova visão da vida e dos homens, especialmente os do apito. Não sei se a Humanidade está pronta para estas revelações, mas não quero pensar que todo o meu trabalho em não fazer nada tenha sido em vão.

Comecei com um ritual alentejano. Deitado de costas, de olhos fechados, exortei o meu corpo a abandonar as tensões acumuladas da 19.ª jornada do Campeonato. «Pés, esqueçam tudo. Dedos: tudo vai acabar bem. Eu sei, o dedo gordo está preocupado com a miopia de Jesualdo; já só consegue ver dois penaltis por marcar em cada deslize do Porto; mas não há razão para preocupações. Joelhos, o que é isso? A manipulação no futebol é uma possibilidade remotíssima. Vocês devem confiar no Braga e na seriedade dos seus dirigentes. Tu aí, músculo adutor direito, não tens que cismar mais no golo com bola fora. Etc., etc.» Quando até o meu último fio de cabelo estava, finalmente, relaxado, dormi durante 15 horas e acordei com a primeira grande Revelações do meu letargo.

Primeira Revelação: a maior prova de que a Criação é imperfeita (logo a seguir à arbitragem quando se perde) é a existência das unhas dos pés. Quase perdi o sono com a sensação desta descoberta. Não há justificação para as unhas dos pés em nenhum desígnio da Criação. As unhas dos pés são um erro de Árbitro. São a única coisa absolutamente inútil do corpo humano. Os dedos dos pés, sim, têm uma razão para existir. Ajudam – dão uma mão por assim dizer – no equilíbrio do corpo. E já que mais não seja servem para segurar as sandálias no Verão. Mas as unhas dos pés não têm qualquer aplicação prática. E o facto de persistirem através das gerações, denuncia uma grande incompetência de quem nos arbitra. A partir das unhas dos pés, a gente começa até a questionar outras intenções do universo. Se as unhas dos pés apenas existem porque sim, então tudo é de esperar do Árbitro. Até golo com bola fora!

Depois dormi mais 7 horas e acordei com a Segunda Revelação: as unhas dos pés têm uma função que ainda não nos foi revelada. É isso! As unhas dos pés são a chave de tudo. Um dia saberemos a serventia das unhas dos pés, o homem conhecer-se-á pela primeira vez e, finalmente, compreenderemos o Árbitro.

Um dia saberemos. Nem que seja só no próximo Carnaval. Ou, quem sabe, o corpo da Nereida possa revelar algum segredo. Por baixo dos sapatos, só pode.

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