quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

Toques de Cabeça

O PAÍS QUE TEMOS
Por JMMA

 


Luís Figo não teve muita sorte com o país em que nasceu. Ou melhor, com os políticos e o jornalismo do país em que nasceu. Mais de vinte anos de carreira - e que extraordinária carreira -, justificariam maior consideração e respeito do que aqueles que está a ter.

Ainda em Alvalade, mal apareceu a fazer a posição de médio pelo Sporting, deu logo para entender que estava ali um jovem craque. Depois, ao longo dos anos, sucederam-se Barcelona, Madrid, Milão. Seguindo os jogos pela TV, Portugal rogou às postestades celestes que o protegessem do mau olhado, de um simples sopro que perturbasse a sua arte. Talvez por efeito das nossas petições e do crédito que temos no céu, ainda sobrou Figo para representar 127 vezes a Selecção, fazendo dele o actual recordista de internacionalizações pela Selecção das Quinas.

Ao contrário do que alguns pensam, tirando o futebol, os portugueses lá fora não têm muito de que se orgulhar. Temos o fado, a Torre de Belém e o bacalhau com todos, fracos ornamentos para quem pretende engalanar-se na Europa e no Mundo com méritos e glórias que não tem. Raramente se encontram em Londres, Paris, Bruxelas ou Nova Iorque vestígios de uma marca portuguesa numa loja, num supermercado ou à mesa dum restaurante. E no entanto, os vinhos do Alentejo, o azeite de Moura e os têxteis do Ave não ficam nada a dever aos estrangeiros. Mas em vez de esperarmos que NS de Fátima faça o milagre de nos tornarmos conhecidos, bem podíamos aproveitar o êxito dos nossos futebolistas para promover «lá fora» os nossos produtos.

Por essa razão – que mais não seja, por essa razão - é que me custa muito pereceber o racional do presente enredo, em plena praça pública, em torno da honorabilidade de Figo. À partida, as suspeitas são de crimes de corrupção praticados por terceiros e, tanto quanto nos é dado a perceber, as investigações visam analisar a relação entre o apoio eleitoral de Luís Figo a Sócrates e os contratos que o ex-futebolista e uma empresa a que está ligado (a Football Dream Factory) estabeleceram com a Tagusparque.

Por aí, nada a dizer; a não ser desejar que se investigue o que houver a investigar, que se julgue o que houver a julgar e que se puna quem tiver de ser punido. Mas, por Zeus!, até que isso seja feito, que a voracidade politiqueira e a sofreguidão dos ‘media’ se moderem, tenham um módico de sensatez, e pelo menos abstenham-se de dilapidar esse património de interesse nacional que é a imagem pública de Figo. Pelo menos isso! E não é por Figo, não; é por nós, pelos nossos mais que evidentes interesses materiais.

Se ao menos o alarido garantisse que cada um – polícias e tribunais - fizesse o trabalho que lhe compete. Mas nem isso. Certo é que este processo há-de morrer como morreram os outros. É só os golpistas fazerem chegar à Felícia, por baixo da mesa, mais umas escutas ou uns documentos escaldantes. E tudo ficará na mesma. Só que sem Figo.

3 comentários:

  1. Caro JMMA, então o vinho do Porto e o Mateus Rosé? É quase como diz, mas faltou-lhe, por exemplo, estas duas marcadas conhecidas em todas as cidades que referiu e em muitas outras mais. O Mateus Rosé é, inclusivamente, o vinho mais vendido no Mundo. Pode encontrar este suminho até no Dubai, à mesa de uma boa marisqueira – mesmo em frente do Burj Al Arab!

    Quanto ao Figo, concordo com o que diz, mas ele não está acima de Deus, nem é mais do que os outros. Recordo o caso do Pinto da Costa. Bem sei que me vão dizer que o Pinto da Costa isto e aquilo, mas o direito da presunção da inocência (que julgo que é isto que está a reclamar) é aplicado a todo o cidadão. Quando rebentou o apito Dourado, o PC foi culpado desde o primeiro minuto no mesmo país. O tal País que temos…

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  2. (...)«mas ele não está acima de Deus» - absolutamente. Quem disse que estava?

    (...)«o PC foi culpado desde o primeiro minuto». Sem dúvida. Tal como o Sócrates no caso Freeport, que por um triz não perdia as eleições; o Cruz e demais 'muchachos' na caso da Casa Pia, que ainda o processo estava em investigação e já estavam a ser vaiados por populares concentrados à porta do tribunal; o Vara e o Godinho no caso 'Face Oculta', que vão sabendo notícias do processo pelos jornais; and so on, and so on.

    Por isso é que eu acho que o Figo não teve sorte com os políticos e o jornalismo do país em que nasceu. Mas o que mais me incomoda neste drama não é o bem-estar do Figo, é o mal-estar do País. Fiz-me agora compreender?

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