quinta-feira, 17 de novembro de 2005

Colunista Convidado, por José Manuel Marques

ANTEVISÃO DA 11ª JORNADA, SEGUNDO A MINHA VIZINHA

Satisfação é o que a gente sente quando as coisas nos correm bem. Mas gozo é diferente. É o prazer que se tem em assistir ao embaraço do próximo.

Gozo é um misto de cinismo e de bem-estar. É o regozijo que experimentamos quando alguém despeja a garrafa de cerveja no engatatão do bar (bem feita!). É o Hugh Grant apanhado de calças arriadas no banco de trás do automóvel com a Divine Brown em pleno serviço (querias festa? Toma!). Gozo é o Pinto da Costa, sob fogo cruzado, no arraial de chapada em pleno restaurante entre a companheira e a filha (gente fina, é assim). Gozo é pois uma espécie de justiça divina que sublima as pequenas frustrações da malta. É a derrota do Benfica e do Sporting vistas por um adepto do Porto. É a derrota do Porto, do Sporting e do Benfica vistas por um adepto do Boavista. E assim sucessivamente.

Quando na anterior jornada o Rio Ave marcou os dois golos ao Benfica e a minha vizinha do 7º direito saltou de alegria, era gozo. Claro que a minha vizinha não é do Rio Ave, é sportinguista. Mas o que ela é, essencialmente, é anti-Benfica, anti-Porto e etc. Se pudesse, a minha vizinha tornava-se anti-sócia e pagava anti-quotas para integrar o clube do contra. Contra todos os que vão à frente do Sporting.

Claro que sendo sportinguista ela já não precisa de integrar mais nada. A rivalidade clubística é o sentimento mais enraizado e o factor associativo com maiores garantias de sucesso em Portugal. Podia ser cotada na Bolsa.

Na realidade, a minha vizinha não gosta de futebol. Ela gosta é que o Sporting ganhe, e o resto é conversa. Nem que seja à custa de erros escandalosos do árbitro, anulando ao adversário golos do tamanho da «légua da Póvoa». O problema dela é que, mesmo assim, o Sporting ganha poucas vezes. E por isso não tem outro consolo senão entreter-se a saborear o gozo paliativo da derrota dos rivais.

Se esse gozo resultasse em pontos, o Sporting neste momento era vice-lider. É facto que o Sporting oficialmente só tem 17 pontos. Mas uma vez que na última jornada o Braga não ganhou no Funchal e o Benfica empatou, o Sporting, aos três pontos «reais» ganhos sobre o Leiria («ganhos», é como quem diz…) somaria, em gozo, os três pontos que o Braga perdeu e ainda os dois que o Benfica desperdiçou. Aí está (17+5=22), um ponto apenas abaixo do líder!

E vendo bem, eu, Benfiquista empedernido, não estou muito fora do critério da minha vizinha. Isto é, como na próxima jornada o Benfica ganha ao Braga e o Sporting/Penafiel tal como o Porto/Académica não vão além do empate, quem se há-de fartar de gozar sou eu. Uma vez que a vitória do Benfica não proporciona qualquer gozo aos rivais, o meu clube ganha 3 pontos reais (da vitória oficial) mais 7 pontos de gozo; 3 pela derrota do Braga, 2 pelo empate do Porto e mais os 2 desperdiçados pelo Sporting. Portanto, à 11ª jornada: Benfica no primeiro lugar da classificação, destacado, com 28 pontos, mais 10 do que tem hoje.

Há aqui só uma pequena dúvida. E se o Nacional da Madeira ganhar em Vila do Conde, como é que é? Bom, talvez não haja problema. Como esse clube não dá gozo à minha vizinha, só contam os pontos reais. Que vale isso?

2 comentários:

  1. Não me desagradam essas projecções de resultados para este fim de semana. Mas acho que exagera. O Benfica a ganhar em Braga - esse é o mais importante - e empates do Porto e do Sporting? Depois desses resultados melhor só poder "saltar para a espinha" da vizinha (caso seja "boa" sportinguista). Desconfio que amanhã estou aqui a chorar.

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  2. Bom texto. Quanto aos resultados, espero que se confirmem, pelo menos o do SLB.

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