quarta-feira, 24 de maio de 2006

Mundial alternativo com bolinha, por JMMA


A notícia é conhecida. Tem já uns dias, mas interessa recordar. Um euro deputado português veio há dias a público denunciar que o Mundial de 2006 se arrisca a ficar para a história como «o maior bacanal de sempre».

Não cito o nome do deputado porque nem O FootBicancas é um blog político nem eu estou interessado em fazer militância partidária. Mas asseguro que é a verdade, e quem pretenda confirmá-la basta consultar a imprensa escrita das últimas semanas.

Exactamente: o luso-euro-deputado veio apontar o dedo acusador aos debochados alemães por permitirem a instalação, ao lado do estádio de Berlim, de uma mega rede de bordéis a pensar na ocupação dos tempos livres dos adeptos que se deslocarão à Alemanha para assistir ao Mundial. E atacou com números avassaladores: nas 12 cidades que acolhem a prova, 400 mil bacantes apatroadas em casas de alterne, a convidar os adeptos à libertinagem. Que grande forrobodó, ali mesmo nas barbas dos devassos germânicos que mandam às malvas o catecismo social. Para isto tudo avisou obstinadamente o nosso deputado escandalizado ante a iminência desse autêntico «Mundial alternativo» com bolinha - Alemanha/2006.

Esta denúncia enche-nos de orgulho por saber que um deputado nosso compatriota anda com o olho atento à pouca-vergonha na Alemanha. Quem tivesse dúvidas sobre para que servem e o que fazem os euro deputados terá agora ficado esclarecido.

E julgava eu que deputado ao Parlamento Europeu, além das faltas e da inauguração de casinos como cá, só se preocupava com coisas como os galheteiros nos restaurantes, o brinde do bolo-rei, ou os locais de piquenique. Injustiça! Pelo menos este nosso euro deputado preocupa-se com causas nobres: a higiene no futebol internacional fora dos balneários. No-tá-vel!

Uma única sombra turva, porém, a felicidade geral dos portugueses. Então e Lisboa, Bragança, Coimbra, Porto, Leiria, Amadora, etc., etc.? Basta passar os olhos pelas páginas dos pequenos anúncios dos jornais ou dar uma volta à noite pelas ruas para se ficar elucidado. Como é que é? - Pergunta o povo. Bom, compreenda-se: euro deputado que se preze ocupa-se em salvar o mundo, não tem que sanear a rua; o seu compromisso é com a humanidade, não é cá com o vizinho.

Mas, pelos vistos o alarme caiu em cesto roto. Blatter, o presidente da FIFA, ouvindo a denúncia com a deferência que é devida às pessoas importantes, afinal o que é que fez? Nada. Encolheu os ombros, lavou as mãos: «isso é assunto interno do organizador do Mundial» - e ala que se faz tarde.

Mas pior que Blatter foi a notícia que ouvi há dias. Agências de viagens suíças (Blatter é suíço) estão a organizar programas de lazer e diversão para as «viúvas» do Mundial. Isto é, as mulheres que se sintam sozinhas durante o período em que decorre o campeonato, têm assim, também elas, possibilidade de... (Não sei, o conteúdo dos programas não foi especificado.)

Então isto não é de dar em doido o nosso paladino da honra?

Eu cá só vejo uma salvação e por isso me atrevo a sugerir daqui uma coisa ao senhor luso-euro-deputado que tão amargurado deve estar por se ver assim impotente para interferir na potência dos outros. É assim:

Nestes tempos em que as dificuldades do Estado exigem o esforço de todos os portugueses, em vez do senhor deputado querer por força ensinar aos alemães a gerir os bares de «alterne» na Alemanha, não seria mais útil procurar ver aí com eles como se pode aumentar a produtividade em Portugal?

É que isso de moralismo para bares de «alterne», é como o outro: nem resolve nem sai de cima.

3 comentários:

  1. Nunca tinha ouvido desta forma “nem resolve nem sai de cima.” Mas acredito ser a mais “saudável”.
    ;)

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  2. mais um post da qualidade a quem nos tem habituado...

    cara Rita, existem várias formas de "matar" o bezerro...

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  3. Têm umas fotografias muito bonitas.
    parabéns!

    wwwjosemalm.blogspot.com

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