quarta-feira, 13 de setembro de 2006

Colunista Convidado, por JMMA

Escândalo sobre escândalo

Ainda o folhetim gilista estava ao rubro, já os jornais levantavam a tampa da sanita sobre outro caso que, não surpreendendo, tresanda a podre. Através das conversas apanhadas nas escutas telefónicas do «apito dourado», aí temos de novo, preto no branco como nos filmes de cowboys, o vil manobrismo das arbitragens.

As traquinices e velhacarias que fazem a espuma do jogo da bola não são portuguesas de origem e são a evidência de que sempre há-de haver alguém cujo propósito é ganhar a todo o custo.

Até aí, nada de novo.

Não estranho que os dirigentes dos clubes, os empresários dos jogadores, quem quer que seja, tenham preferências por árbitros e as manifestem. O que estranho e muito – aliás mais que estranhar, acho horrível – é que haja um Presidente da Liga de Clubes (e não só) que se preste a atender e a gerir essas preferências. O futebol é um jogo, mas não é uma brincadeira. Logo (verdade axiomática): as entidades que o organizam não podem ser, nem sequer parecer, uma loja de favores.
E depois é assim: quem favorece terceiros, o que não fará aos seus e a si próprio?

Neste ambiente insano e caótico de trafulhas em autogestão, o que me impressiona, para além da inoperância e do descrédito da justiça, é também a insensibilidade geral em relação à ideia de mal e de bem. Aparentemente o cambalacho de árbitros e outros favores tornou-se a coisa mais normal deste mundo. Toda a gente parece aceitá-lo com a naturalidade que advém da muita porcaria banalizada e da impunidade reinante. Tomam-no até alguns como bom, se acaso o clube prejudicado for o rival.

É sem dúvida um mero aspecto formal que pouco ou nada acrescenta ao problema. Mas, repare-se na linguagem dos diálogos: ora rasca (“Ouça, é tudo para nos f…”), ora ameaçadora (“O homem tem que ser chamado a atenção”), envolvendo conversas em código (fala-se em visitar o “fiscal” para marcar a “vistoria”, fala-se em “fruta” ou “café com leite” com referência a prostitutas). O que sobretudo aqui vemos é uma situação de manipulação de caracteres e de jogo caciquista de dependências. Um discurso chantagista e cifrado que, salvo seja, mais parece as legendas dum filme sobre a Máfia.

Só a linguagem. Porque quanto ao resto, há muitos aspectos em que a comparação não cola, fica aquém. Primeiro, porque ao contrário dos filmes da Máfia em que há sempre alguns anjinhos, neste caso - sejamos realistas - não há meninos de coro. Por outro lado, enquanto os filmes da Máfia são thrillers policiais, este caso não o é de todo pela simples razão de que a polícia não se mete. Sucede ainda que enquanto Bernardo Provenzano, o padrinho de Corleone, está preso, os «patrões» do nosso futebol continuam no seu posto, com assumido orgulho, a perpetrar as tramóias de sempre.

E não se vislumbra quem lhes possa dar o abanão.

Portanto, ou se inventam para aí de repente «injecções de moralina» ou temo bem que, com dirigentes destes, o futebol português será sempre um escândalo pegado.

(Garanto que estas opiniões nada têm a ver com a partida em falso do Benfica no arranque do campeonato. JMMA, Assinatura reconhecida pelo notário).

1 comentário:

  1. Post Scriptum:

    A MINHA ALMA ESTÁ PARVA!

    Então não é que (vou ler outra vez a confirmar...)no insuspeito Diário de Notícias de hoje (5ª-Fª)vem «ipsis verbis»:

    "Os juízes norteiam-se por princípios claros, com base nos quais têm mantidoo o seu prestígio, que são a independência, a dignidade e a honestidade, princípios que são incompatíveis com o que é a realidade do desporto português"

    PIMBA!

    E mais:

    "Os juizes têm de ter postura e dignidade e, estando misturados em áreas onde esses valores não imperam, a lama acaba por salpicar toda a classe".

    Pimmmba!

    Quem o diz?

    Só e apenas o Presidente da Associação dos Juizes Portugueses.

    E depois disto, pergunto eu: não acontece nada?

    Repito:

    A MINHA ALMA ESTÁ PARVA!

    ResponderEliminar