sexta-feira, 26 de março de 2010

Toques de Cabeça

BICA E CIMBALINO
Por JMMA



O Conselho de Justiça (CJ) da Federação não descansa. Quando pode fazer triste figura, faz. Quando pode evitar um escândalo, não evita. Quando não há nada a fazer, inventa um ‘conto do vigário’. Depois das cenas indecorosas do ‘Apito’, que por sua vez já haviam sido antecedidas pelas cenas mirabolantes do “Caso Mateus/ Gil Vicente” (e adiante que se faz tarde), tivemos agora o escândalo do túnel com um enredo tão rasca, tão rasca que, se ainda fosse vivo, Mario Puzo, autor de O Padrinho, seria capaz de escrever um romance sobre a condição humana recorrendo apenas às palavras “compadrice”, “interesses”, “pressões”, “desfaçatez”, “fantochada”, “veniaga” , “Madail” e “corja”.

Que em 2010 se faça um ‘remake’ da obra-prima surrealista a que assistimos no Verão de 2008 à volta da bizarra reunião do CJ de 4 de Julho, tem pelo menos o mérito de nos recordar de que, apesar de todos os ‘Apitos’ frustrados, o folhetim continua com um enredo cheio de carambolas e de vilões que reduzem o Tony Soprano de celulóide a um menino de coro.

Claramente, este CJ – que, recorde-se, Madail tirou da cartola quando foi preciso correr com o anterior presidente, o inefável Gonçalves Perreira, por iniquidades e abuso de poder – este CJ, dizia, prossegue na senda do vale-tudo. Podia pecar disfarçadamente ou forçando levemente a nota, já não seria mau. Mas não: favorece sem vergonha, delibera sem pudor, desvirtua sem pejo. O CJ é hoje o elo mais fraco do sistema que enforma a gestão do futebol em Portugal. É o mais desprestigiado de todos os órgãos sociais da Federação e da Liga, incluindo os árbitros em quem já ninguém confia.

Poderão encontrar-se razões formidáveis para negar este estado de coisas. É sempre possível imaginar que os adeptos em geral (tirando os do clube-patrão) são uns maldizentes. Que são uns mal-formados. Que lhes falta fair play. Que a comunicação social amplifica tudo. Que os fracos odeiam os melhores e, por isso, caluniam. Que este clube, agora na berlinda, não é pior do que os outros quando lá estiveram também. O que se quiser. Mas, para os desvarios do CJ, não vale a pena procurar razões sociológicas nem alegações oportunísticas.

A responsabilidade é toda dos clubes e seus dirigentes. Uns por acção, outros por omissão, mas todos. Ajudados por um sistema de regulamentos medonho, que eles próprios arquitectaram e aprovaram, competem desenfreada e desavergonhadamente uns com os outros na apropriação do poder, cientes das vantagens e privilégios a que podem aceder (ou perder) por via das práticas mais manhosas, de todos conhecidas, a que o sistema foi deixado deliberadamente ao sabor.

Dentro de poucas semanas, vão eleger democraticamente os novos órgãos sociais da Liga. Conjugar o que se começa a desenhar acerca da escolha do presidente com os últimos episódios do folhetim ” túnel” será talvez permaturo, mas ajustado a esta tertúlia de café. Sai um cimbalino! Eleger democraticamente... Que ninguém os leve a sério. Sobretudo em Abril.

2 comentários:

  1. Compreendemos.
    A 'bica' dá mostras de querer secar.
    Estou certo de que tudo isto configura, razões mais do que expícitas para despedimento por justa causa, por quebra do dever de solidariedade.


    Valha-nos ainda assim que:

    «A responsabilidade é toda dos clubes e seus dirigentes. Uns por acção, outros por omissão, mas todos. Ajudados por um sistema de regulamentos medonho, que eles próprios arquitectaram e aprovaram, competem desenfreada e desavergonhadamente uns com os outros na apropriação do poder, cientes das vantagens e privilégios a que podem aceder (ou perder) por via das práticas mais manhosas, de todos conhecidas, a que o sistema foi deixado deliberadamente ao sabor.»


    A frase do ano:

    «Que ninguém os leve a sério. Sobretudo em Abril.»

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